quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Uma breve explicação + Indie Rock

Pessoal, vale lembrar vocês que os textos iniciais que postei aqui e muitos outros que ainda postarei foram produzidos nos últimos 5 anos. 
Todos eles foram escritos para serem publicados na Newsletter com a qual contribuo lá no meu trabalho.
Portanto, se preparem para um vasto repertório de reviews de shows ocorridos já a algum tempo e cds e DVDs lançados em passado recente.
Bom...acho que devia dar essa explicação para que vocês não fiquem confusos. E aí vai mais um texto:


A história do "indie rock"



O rock and roll é certamente um dos gêneros musicais mais complexos que existem. Desde seus primórdios, lá no início dos anos 50, com o “pai” Chuck Berry, o estilo passou por inúmeras transformações, reciclagens, distorções, enfim, tudo que se pode imaginar.
Por ser um estilo musical que sempre foi acompanhado de rebeldia (em alguns momentos mais e em alguns outros menos), os vários artistas que embarcaram nessa viagem se permitiram a fazer rock da maneira que bem entendessem. Ou seja, adotando todo e qualquer tipo de influência que tivessem, fosse ela de outros tipos de música ou do modo de vida que levassem. Acredito que é daí que vem a riqueza do rock e o que o faz sobreviver por tanto tempo, ainda que vez ou outra seja taxado de morto por tantos críticos especializados.
Uma das vertentes mais interessantes do rock certamente é aquela chamada “indie rock”.
Inicialmente, vale a pena explicar o porquê do termo. O que já dá uma dimensão do que vem a ser o estilo. O “indie” vem de “independent”. Portanto, traduzindo ao pé da letra, “indie rock” nada mais seria do que “rock independente”.

Dito isso, fica claro que as bandas que se enquadram no rótulo indie procuram criar suas canções da maneira mais subjetiva possível, sem se preocupar em soar assim ou assado ou tentar agradar fulano ou ciclano. É claro que a palavra “independente” tem um significado forte e por isso ficaria difícil algum artista se auto-proclamar totalmente independente. Sempre vai haver algum momento em esse artista vai ter que se submeter a alguma convenção. Mas é aí que está a sacada. O quanto uma banda acredita na sua obra e o quanto ela está disposta a abrir mão de suas ideias e personalidade para levar adiante o sonho de viver de música? Os representantes do “indie rock” normalmente têm esta noção de não se “entregarem” totalmente. Por isso acabam se distinguindo dos outros estilos de rock, chegando a dificultar para qualquer um encontrar uma maneira de defini-los, tanto esteticamente quanto musicalmente.

Os grupos “indie”, muitas vezes chamados também de grupos de “rock alternativo”, recebem uma gama de influência extremamente variada. É possível encontrar artistas que misturam elementos de outros estilos de rock, como o punk, ou então que utilizam de elementos da new wave, do jazz, do metal, do reggae, do folk, do eletrônico, enfim. É realmente muito amplo. O que, na minha opinião, é muito enriquecedor para qualquer artista, desde que bem feito, é claro.

A origem do “indie rock” se deu no início dos anos 80, no Reino Unido e nos Estados Unidos. Bandas cujas composições não se enquadravam no mundo pop da época acabavam não sendo aceitas por nenhuma gravadora. E verdade seja dita, a maioria dessas bandas nem gostaria de ser empregadas de alguma companhia que não os desse a liberdade que era fundamental para que pudessem criar suas canções, gravar discos, etc. Esses artistas resolveram então montar suas próprias gravadoras e distribuir seus discos da maneira que achassem mais conveniente. 

Público não faltaria para comprar os álbuns ds grupos que adotavam este esquema. Os jovens universitários talvez fossem o grande nicho de consumidores de “indie rock”. Daí inclusive o surgimento das “college radios” americanas, responsáveis por divulgar vários artistas que viriam a fazer sucesso mundialmente após alguns anos.


 

Neste contexto, as primeiras bandas que se destacaram foram os americanos do REM e os britânicos do The Smiths. Posteriormente, ainda nos anos 80, surgiram bandas com um som um pouco mais agressivo e ousado como Pixies, Husker Dü e Sonic Youth.Todas essas bandas tiveram relativo sucesso. Umas mais como no caso dos já citados The Smiths. Mas não chegou a ser algo avassalador como o que viria na década seguinte.

Após dez anos em que a música pop imperou em todo o mundo, os jovens influenciados pelas bandas indie e também pelas bandas punks dos anos 70 já estavam totalmente saturados daquela cena musical. Tudo bem que alguns artistas pop eram inegavelmente talentosos, como nos casos de Michael Jackson, Madonna e alguns outros. Mas grande parte era muito pasteurizada e carecia de verdadeira competência. Isso sem contar as bandas de rock da época. No fim dos anos 80, o chamado “glam rock” dominava as paradas com suas bandas e respectivos integrantes bem mais preocupados com a aparência do que com a música.

Foi aí que uma molecada, devidamente instigada por alguns donos de gravadoras independentes que estavam no lugar certo e na hora certa, acabaram dando origem ao grunge. 



O grunge na verdade era um sub-gênero do rock indie/alternativo. Muitos dos seus representantes até rejeitavam o termo. Eles detestavam ser rotulados. Mas o fato é que, da cidade de Seattle, na região noroeste dos Estados Unidos, surgiu uma verdadeira horda de bandas excelentes. Estou falando simplesmente de Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden, Alice In Chains, Mudhoney, entre tantas outras menos famosas. Foi uma verdadeira febre.

Assim como toda tribo tem seus costumes, jeito de vestir e de se comportar, os fãs de rock alternativo não são diferentes. Durante a explosão do grunge, as camisas xadrez de flanela, bermudas abaixo do joelho e botas de lenhador era o traje mais usado. Algo, eu diria, bem desleixado. Na verdade, mudando uma peça ou outra, a moda casual sempre predominou entre os “indies”. Já predominava antes do grunge e predomina hoje em dia.

A grunge mania durou até meados dos anos 90 e, junto com as bandas de Seattle, outras tantas de várias partes dos Estados Unidos também ganharam seu espaço. A principal delas e um dos maiores símbolos do “indie rock” era a banda Weezer, que fez grande sucesso com seus dois primeiros discos e permanece em atividade até hoje.

Enquanto isso, na Inglaterra, um fenômeno equivalente ao grunge americano (em termos de popularidade e não de som) ocorreu e tomou de assalto quase todos os súditos da rainha. Foi o Britpop. Liderado pelo Oasis, o Britpop teve vários representantes que, a exemplo das bandas de Seattle, também colocaram o rock alternativo na mídia como jamais havia se visto. Ao lado do grupo dos irmãos Gallagher, bandas como Blur, The Verve e Suede também ganharam grande reconhecimento.

Contemporânea do Britpop, também na Inglaterra, uma banda singular deu as caras e, assim como o Weezer na América, personificou o espírito indie. Tratava-se do Radiohead. Um grupo que hoje tem cerca de 20 anos de carreira e, incrivelmente, por mais que adote direcionamentos musicais distintos a cada álbum lançado, sua base fãs não os abandona. É reconhecidamente uma referência de conduta para quem quer andar no lado alternativo da indústria musical.

Dando sequência a história, como mencionei no início deste texto, o rock várias vezes passou por altos e baixos e muitos críticos insistiam em decretar seu final em função do crescimento de outros gêneros do próprio rock,do hip hop ou do pop. Mas não é assim que funciona, meus amigos. A grande mídia pode, por vários momentos, escolher a quem promover, a quem dar destaque. Mas na indústria do entretenimento tudo é um ciclo. Se algo novo surge com algum potencial, independente de ser uma unanimidade ou não, vai fazer parte do mainstream e não há nada que impeça isso.

Sendo assim, no início dos anos 2000, assim como havia acontecido com o Nirvana, pouco menos de dez anos antes, mais uma banda “indie” foi promovida à “salvação do rock”.  A bola da vez agora era o The Strokes. Só que desta vez, com o advento da internet, tv a cabo, etc, o poder de divulgação de uma nova tendência era muito maior. Estava pronto o cenário para a volta do “alternative rock”. Na esteira dos Strokes veio mais uma leva de bandas de estilo relativamente parecido. As principais eram White Stripes, The Hives e The Vines. Todas elas, à seu modo, muito competentes, acabaram abrindo espaço novamente para um rock despretensioso e sem muita pompa.

Esse “retorno” do rock (como se por acaso ele tivesse ido a algum lugar) deu vazão a uma geração de bandas ainda mais novas. Principalmente no Reino unido. Conduzidos pelos escoceses do Franz Ferdinand e pelos ingleses do The Libertines, surgiram bandas excelentes como Arctic Monkeys, Bloc Party, Kasabian, Kaiser Chiefs e outras tantas.




Pouco a pouco, esse novo “boom” do rock independente ganhou terreno. Hoje em dia, por exemplo, são vários os festivais brasileiros que contam com bandas desse estilo em seus line-ups. Festivais como o Planeta Terra, o extinto Tim Festival e, mais recentemente, SWU e Lollapalooza, sempre escalam algumas dessas novas bandas que tem atraído um grande público.

De volta a América, outros exemplos de grupos que ascenderam com a “nova onda” do “indie rock” são os americanos The Killers, Kings of Leon e The Black Keys, além dos canadenses do Arcade Fire. Este último inclusive venceu o Grammy de álbum do ano, em 2011.

Na minha humilde opinião, em que pese este fenômeno estar sendo claramente insuflado pela mídia especializada, há de se admitir que são várias as bandas de ótima qualidade. Quando eu comecei a ouvir rock, lá no início dos anos 90, só me interessavam as bandas de rock muito pesado. Daquelas bem agressivas e que apresentavam o mínimo possível de sensibilidade em algumas músicas apenas pra que eu pudesse dar uma folga ao pescoço entre uma ou outra porrada musical de um Pantera ou de um Sepultura. O grunge também me agradava demais, mas era igualmente um som essencialmente pesado, com guitarras distorcidas e tudo mais.

Acho que amadurecendo um pouco, abri a mente para novos horizontes e fui conhecendo e me identificando com bandas que apresentam outras propostas, que carregam outras influências na bagagem e nos oferecem da mesma forma um som honesto e competente. Ou seja, é rock and roll também. Vai depender apenas do gosto de cada um.

Particularmente, creio que várias dessas novas bandas com pouco mais de cinco anos de estrada podem ter uma bela carreira pela frente. Se sobreviverem apenas duas ou três delas, não tem problema algum. Estamos cansados de saber que o rock tem um poder incrível de auto-renovação. Vejo no “indie rock” uma fonte muito promissora de talentos. O futuro da boa música está garantido, meus caros.




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