segunda-feira, 24 de setembro de 2012

DVD - Nirvana - Live at Reading 92


O Nirvana que pouca gente viu





Muita gente sabe da importância do Nirvana para o rock. Mesmo os que não são fãs do estilo sabem que existiu um tal Kurt Cobain, que tinha uma expressão um tanto quanto depressiva e que tirou a própria vida há quase 15 anos. 

Até mais ou menos o final de 1993, eu apenas havia ouvido falar do Nirvana. Nunca havia escutado uma música sequer. Mas bastou um amigo pegar um cd emprestado, e gravá-lo numa fita cassete (!!!!!) para que a coisa se tornasse séria. 

Em pouco tempo esse mesmo amigo adquiriu toda a discografia da banda (três CDs que eu continuei gravando em fitas cassete) que nós passamos a ouvir sem parar. Poucos meses depois, ainda no início da nossa “devoção” pelo grupo de Seattle, veio a notícia: Kurt havia se suicidado.

Mas nada mudou. Continuamos ouvindo Nirvana (entre outras bandas de sucesso na época como Pearl Jam e Ugly Kid Joe). Mas faltava algo. Eram raras as oportunidades de vermos as performances ao vivo da banda, mesmo que pela TV. Quando isso acontecia, corríamos para registrar as imagens através do videocassete (!!!!!!!!!!!!).  A MTV transmitiu à exaustão a apresentação do acústico por ela produzido, e lançado após a morte de Kurt. Apesar de fantástico, aquele não era exatamente o Nirvana que havíamos aprendido a curtir.
Vale lembrar que, no início dos anos 90, não havia You Tube. Aliás, mal havia internet no Brasil! Portanto, não havia a facilidade de encontramos os mais variados vídeos de shows pelos quatro cantos do mundo que temos hoje em dia. Pior ainda. Quando o Nirvana veio ao Brasil, em janeiro de 93, nós éramos apenas garotos de 14, 15 anos que ainda nem eram fãs da banda e que jamais encarariam a maratona de um megashow em um estádio de futebol.

Mas hoje tudo mudou. Além da internet, agora temos o DVD. Hoje podemos desfrutar de shows completos das nossas bandas favoritas e com uma imagem de alta qualidade. E foi assim que finalmente tivemos acesso a um show completo de Cobain e seus comparsas. Demorou um bocado. Após longas batalhas na justiça pelo espólio do grupo travadas entre seus ex-membros e a viúva de Kurt, começaram a ser lançados os materiais até então inéditos. 





“Nirvana Live at Reading” é um dois mais relevantes desses lançamentos. Chegou por aqui em novembro de 2009. O show, como o título já indica, foi registrado no Reading Festival, na Inglaterra, no dia 30 de agosto de 1992. A performance marcou aquele momento como o auge do grupo que foi um dos pilares do chamado movimento grunge, surgido na década de 90 nos Estados Unidos. Simultaneamente ao DVD, foi lançado um cd com apenas uma faixa a menos que o vídeo.

Mas valeu a espera. “Live at Reading” dá uma boa noção de como eram as apresentações do Nirvana. Pouca conversa, mas muito vigor no palco. Incrível como apenas três músicos eram capazes de produzir um som tão energético e contagiante. Além de Cobain, no vocal e na guitarra, Dave Grohl (sim...o líder do Foo Fighters),  na bateria, e Krist Novoselic, no baixo, completavam a formação do grupo.

O repertório não deixou nada a desejar. Àquela altura, o terceiro álbum, “In Utero”,  ainda não havia sido lançado. Por isso talvez possamos sentir falta de clássicos como “Heart Shaped Box” ou “Serve the Servants”. Mas o setlist contou com todas as faixas do lendário álbum “Nevermind”, várias músicas do cd de estréia, “Bleach”, alguns lados B e mais a canção “The Money Will Roll Right In”, cover da banda Fang.

Esse DVD é uma ótima chance para quem quiser conhecer melhor o Nirvana. Mas, acima de tudo, é a chance que trintões como este que vos escreve esperaram por tanto tempo. É um show para se assistir num estado contemplativo. Um item de colecionador para guardar e se lembrar sempre quisermos daquela que, concordem ou não, é uma das maiores bandas de rock que o mundo já viu.




sexta-feira, 21 de setembro de 2012

E digam Racionais!!!


Racionais voltam ao VMB e resgatam o moral da festa



No final de 1997, depois de passar mais ou menos quatro anos assistindo as grandes novidades dos canais fechados na casa de um amigo, finalmente meus pais conseguiram encaixar no nosso orçamento uma assinatura de TV à cabo. Já fissurado por música na época, fiquei extasiado por saber que teria a MTV na minha casa, na hora que eu quisesse. Pra vocês terem uma noção, fiquei tão passado com a novidade que gravava qualquer vídeo que passasse. Quando digo “qualquer clipe”, quero dizer coisas do quilate de Boyz II Men, Cidade Negra e.....Backstreet Boys (!!!), só porque tinha uma guitarrinha durante a música. Quanta ingenuidade...Nada contra os dois primeiros, mas até hoje, antes de dormir, peço perdão aos deuses da música por ter gravado um clipe de uma boy band.

Mas até o final de 98 a adrenalina já tinha passado e eu passei a ser bem mais seletivo na hora de gravar videoclipes que passavam durante a programação daquele que era um canal de música. O ápice daquele ano foi a cerimônia de premiação do Video Music Brasil. O primeiro que eu assistiria ao vivo do início ao fim. Para minha alegria completa, o evento contaria com uma apresentação do Sepultura, já sem Max Cavalera, com Derrick Green nos vocais e participação de Jason Newsted, então baixista do Metallica.

A grande atração da noite porém, acabou sendo os Racionais MCs. O grupo que havia conquistado o país com o álbum “Sobrevivendo no Inferno”, lançado um pouco menos de um ano antes do VMB, ganhou os principais prêmios da noite e ainda fez uma apresentação arrebatadora da música “Capítulo 4, Versículo 3”. Ficou pra história.

Dali em diante fui acompanhando todos os VMBs. Entrava na internet, votava nos meus artistas favoritos e tudo mais. Mas com o tempo o encanto foi acabando. Os anos dourados da MTV foram ficando pra trás. E emissora mudou o foco de sua programação e, pra contribuir, a qualidade dos artistas nacionais de ponta caiu drasticamente. Se em meados dos anos 90 e início dos 2000 os destaques eram Paralamas do Sucesso, Raimundos ou O Rappa, hoje em dia somos obrigados a engolir Fresno, Restart, NX Zero e afins. Sendo assim, faz mais ou menos uns cinco anos que abandonei o VMB. A própria MTV, como um todo, já perdeu muito da minha atenção. 


Eis que veio a premiação deste ano. Mais uma vez eu não estava dando bola pro evento. Em cima da hora, estava vendo TV de bobeira em casa quando descobri que o Planet Hemp faria seu retorno triunfal começando a festa com tudo. O encerramento ficaria à cargo de quem? Racionais MCs.

Após 14 anos do meu primeiro VMB, lá estavam eles de volta. Após levarem pra casa o prêmio de clipe do ano com a produção feita para a nova música “Mil Faces de um Homem Leal (Marighella)”, o grupo subiu ao palco um pouco antes da meia noite para encerrar o evento. E não tocaram só uma ou duas músicas, não. Foram quase 40 minutos de show mesmo. Os caras mandaram as clássicas “Eu Sou 157”, “Negro Drama” e “Da Ponte Pra Cá”, e mais três músicas que devem figurar no ansiosamente aguardado disco novo dos caras que deve ser lançado ainda esse ano. “Tá Na Chuva” já é conhecida pelos fãs mais fieis, mas a vencedora da noite “Mil Faces de um Homem Leal (Marighella)” e “Cores e Valores” pipocaram na internet não faz muito tempo. Ah...já ia me esquecendo da parceria entre um dos Racionais, Edi Rock, com o grande cantor Seu Jorge. Os dois fizeram uma ótima apresentação da música “That’s My Way”, do trabalho solo do rapper.

Dificilmente a MTV voltará a ser a mesma daquela dos anos 90. Eu nem tenho mais esperanças de que isso aconteça. Mas depois de muito tempo, por alguns minutos, tive o prazer de voltar aonde tudo começou e pude testemunhar uma performance bombástica que mostrou que deve haver espaço no mainstream para artistas de qualidade. Nada melhor que os Racionais MCs para comprovar isso. 

Confira a apresentação completa dos Racionais no VMB 2012 no link abaixo:

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Enjoy Incubus


Incubus: nunca é tarde para conhecer uma ótima banda



Este texto não se trata de nenhum CD que acabou de ser lançado, de nenhum show que eu tenha ido recentemente ou de algum artista que esteja despontando atualmente no cenário musical. Resolvi usar este post para falar sobre uma banda que gosto muito, mas que é menos conhecida pelo público do que eu imaginava. Portanto, para quem nunca ouviu, essa é a chance de saber um pouco mais sobre o Incubus.

O grupo foi formado no início dos anos 90 na cidade californiana de Calabasas. Os adolescentes Brandon Boyd (vocal), Mike Einziger (guitarra), Jose Pasillas (bateria) e Alex Katunich (baixo) se juntaram para tocar covers de bandas de metal das quais eram fãs. Como toda banda formada por moleques empolgados e cheios de sonhos, o Incubus tocava onde fosse preciso e em qualquer oportunidade que surgisse. Foi assim que eles alcançaram certa popularidade na região onde viviam. Essa persistência e o contato de Mike com uma professora de música influente no meio artístico que, em 1995, fez com que o os  garotos conseguissem a chance de gravar seu primeiro cd, ainda que através uma gravadora independente, intitulado “Fungus Amungus”. O primeiro trabalho já contou com a presença do DJ Lyfe como membro oficial. Era o complemento ideal para o som dos caras que variava de forma muito competente entre o metal, o rap e o funk.

A partir daí as coisas começaram a caminhar cada vez melhor. Dois anos depois do primeiro registro de estúdio o Incubus assinou com uma grande gravadora e lançou o álbum “S.C.I.E.N.C.E.”, que é considerado como a verdadeira estreia da banda. Após este lançamento veio o reconhecimento nacional e até internacional, já que aqueles jovens que, até pouco tempo, mal saiam da California, passaram a fazer turnês mais extensas, participar de festivais, além de ganhar o recurso que mais gerava popularidade nos anos 90: um videoclipe em alta rotação na MTV. Aliás, foi o primeiro feito pela banda. A faixa escolhida foi “A Certain Shade Of Green”.

Neste início de carreira, como ocorre com todos artistas novos, a mídia especializada precisava enquadrar o Incubus em alguma categoria. Do meio para o fim dos anos 90, a grande tendência do rock era o “Nu Metal”. O estilo era uma fusão das guitarras ultra pesadas do metal tradicional com vocais de rap intercalados por refrões melódicos. Uma onda de bandas surgiu na esteira do sucesso de Korn, Deftones e Limp Bizkit, os três maiores destaques do gênero. O grupo até se encaixava neste modelo, mas no disco seguinte mostraria que era mais do que isso.

Em 99, o Incubus lançou o álbum “Make Yourself”. Eles ainda poderiam ser considerados uma banda de “Nu Metal”, mas seus horizontes claramente haviam se ampliado. Se o primeiro single, “Pardon Me”, musicalmente não foi uma surpresa, baladas como “Stellar” e, principalmente, “Drive”, levaram o grupo ao topo das paradas. Esses hits podem ter sido os responsáveis por levar o CD a vender cerca de dois milhões de cópias apenas nos Estados Unidos, mas o disco todo é excelente. Isso pode ser notado em outras excelentes canções como “The Warmth” e “Nowhere Fast”. Vale lembrar que foi nessa época a primeira alteração na formação do grupo. O DJ Lyfe deu lugar ao DJ Kilmore. 




Mais dois anos se passaram e o sucesso do Incubus não só se manteve como aumentou após o lançamento de “Morning View”. O disco superou a quantidade de cópias vendidas de seu antecessor com singles de grande sucesso como “Nice to Know You”, “Warning” e, claro, “Wish You Were Here”, provavelmente a música mais conhecida do grupo até hoje. Para compor e gravar este álbum os integrantes da banda se mudaram para uma mansão em Malibu. O clima era o mais tranquilo possível. Só pela capa do CD já dá pra perceber isso. Em função deste ambiente os caras se aproximaram mais das baladas, mas não com o objetivo de se tornarem mais palatáveis para o mundo pop. Pesadas ou lentas, todas as faixas de “Morning View” possuem arranjos de extrema qualidade e foram devidamente “polidas” pelo produtor Scott Litt, que tinha em seu currículo nada menos que uma participação fundamental na produção do disco “In Utero”, do Nirvana. 

Mas quando o sucesso é grande demais, é quase impossível que tudo permaneça um mar de rosas por muito tempo. Isso talvez seja uma maldição para qualquer banda. No fim de 2002, devido a “diferenças pessoais” com o resto do grupo, o baixista Alex Katunich resolveu seguir seu próprio caminho. Fofocas do mundo do rock deram conta que pequenas coisas como o exagerado bom humor matinal do vocalista Brandon Boyd foi um dos fatores que contribuíram para que um dos principais compositores do Incubus tomasse a difícil decisão de pular fora. Vai entender...

Para o lugar de Alex o escolhido foi Ben Kenney, um multi instrumentista cujo ponto alto da carreira havia sido uma passagem destacada pelo grande grupo de rap The Roots. Após sua entrada, o Incubus lançou dois bons CDs, “A Crow Left Of The Murder”, em 2004, e “Light Grenades”, em 2006. Nenhum dele, porém, chegou perto do sucesso atingido alguns anos antes.

Mesmo assim, a banda conseguiu manter sua base de fãs. Inclusive aqui no Brasil. Em 2007 eles pintaram por aqui pela primeira vez para apresentações lotadas em São Paulo e Rio de Janeiro. Eu tive a felicidade de ver o primeiro show em São Paulo e posso garantir que saí muito satisfeito. A performance do Incubus ao vivo é muito competente. Muita energia em cima do palco, músicos tecnicamente muito bons e um vocal impecável de Brandon. Um dos melhores shows que já fui.

Após a turnê do álbum “Light Grenades” o grupo resolveu tirar um merecido descanso. Afinal, foram dez anos de trabalho praticamente ininterruptos. O esperado retorno se deu no ano passado com o lançamento de “If Not Now, When?”. Querem minha opinião sincera? Me decepcionei. Musicalmente falando o disco não é ruim, mas deixou a desejar no que diz respeito à “pegada” das músicas. Como já disse aqui, o Incubus sempre compôs baladas muito boas, mas ao mesmo tempo incluíam faixas bem pesadas para dar um equilíbrio ideal a cada disco. Canções como “Adolescents” e “Promises” são boas, mas não empolgam tanto. Uma pena.

Por outro lado, o Incubus continua mandando bem ao vivo. A banda fez sua segunda visita ao Brasil em 2010 para tocar na primeira edição do festival SWU. Mais uma vez fizeram um ótimo show. Desta vez, porém, eu não estava presente.



Em resumo, posso afirmar sem medo de errar que o Incubus é uma banda única. Seus integrantes sempre procuraram achar um estilo próprio, mas sem perder a identidade. A honestidade na hora de compor cada canção fez com que agradassem fãs de rock, pop, além das garotas que se derretem pelo estilo “surfista, largadão com um lado romântico” do frontman Brandon Boyd. Fazer o que, né? 

Torço para que o Incubus ainda tenha vida longa, criativa e cheia de gás como foi na maior parte de sua história. Fica aqui minha dica para quem ainda não conhece. Quem conhece, sabe muito bem o que eu quero dizer.


quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Hip Hop

Lil Wayne: o pequeno gigante do hip hop



Em sua origem, lá no final dos anos 70, a temática principal do hip hop (movimento que engloba o rap, a grafitagem e o break dance) era basicamente a diversão. As letras falavam de festas, garotas, etc. As letras de contestação também existiam em menor quantidade e foram se tornando cada vez mais frequentes durante a afirmação do movimento nos anos 80.

No final deste período e no início da década seguinte surgiu o “gangsta rap”. Estilo cujos representantes e sua letras possuíam uma abordagem bastante agressiva. Falavam de armas, drogas e provocações entre gangues. Era o retrato de grande parte dos jovens americanos afrodescendentes que viviam nos subúrbios do país, principlamente em Los Angeles.

Com o passar do tempo acabou ocorrendo uma mistura destes dois estilos. O rap começou a dar muito dinheiro aos seus artistas e assim o gangsta rap se misturou com o rap festivo.  Ou seja, vários rappers começaram a falar, de uma vez só, sobre mulheres, festas, dinheiro, drogas e armas. Surgia aí o termo “bling-bling”.  Esse termo vem dos caras que fazem pose de malandro (e algumas vezes eles realmente são mais do que malandros), totalmente ornamentados com correntes, relógios e pulseiras de ouro e brilhantes. Até nos dentes desses caras as jóias chegaram através do “grill”, que é uma espécie de dentadura cravejada de pedras preciosas. Meio absurdo, não? E é exatamente nesse contexto que se encaixa o personagem principal desse texto: Lil Wayne.



Dwyane Michael Carter  Jr., o nome verdadeiro de Lil Wayne, nasceu no dia 27 de setembro de 1982, na cidade de New Orleans, estado da Lousiana. O apelido, um diminutivo da palavra “little”, veio em função de sua altura pouco destacada (ele possui apenas 1,68 metro). Ainda garoto, Wayne já mostrava seus dotes artísticos, tanto que, com apenas nove anos, foi contratado pela gavadora Cash Money Records para formar com o também jovem B. G. a dupla de hip hop The B.G.’z. 

Em 1997, ainda na adolescência, Lil Wayne ingressou em um grupo chamado Hot Boys. O sucesso começava a fazer parte da vida do rapaz.  Rapidamente o jovem rapper se destacou entre seus parceiros e gravou seu primeiro álbum solo “Tha Block Is Hot”.

A essa altura, Wayne já vivenciava os problemas comuns entra vários artistas de gangsta rap. O abuso de bebida e outras drogas se tornava cada vez mais constante na vida do rapper. Mas ao mesmo tempo a fama também aumentava. Já fora dos Hot Boys, que tiveram suas atividades encerradas em 2001 (retornaram em 2007), Lil Wayne engatou durante os anos 2000 um álbum de sucesso atrás do outro até chegar na sua obra prima, “The Carter III”, lançado em 2008.

O disco contou com hits como “Lollipop”, “A Milli” e “Mrs. Officer” e, até julho do ano passado, já havia vendido mais três milhões de cópias. A produção de primeira linha teve feras como Kanye West (que surpresa...), Swizz Beatz e Cool & Dre por trás de algumas das ótimas faixas do cd. A maior prova da qualidade de “Tha Carter III” foi o prêmio de melhor álbum de rap na 51ª edição do Grammy Awards.



Mas paralelamente a brilhante carreira musical, o ultratatuado Lil Wayne se envolveu com sérios problemas com a justiça. O cara foi preso em algumas oportunidades por posse de substâncias proibidas e porte ilegal de arma de fogo, que acabou sendo o delito pelo qual foi acusado e sentenciado em 2009 e cumpriu pena em 2010. Pois é. Nada bonzinho o rapaz...
Apesar de toda a polêmica, Lil Wayne inegavelmente deve ser reconhecido pelo seu talento. O cara tem as manhas de fazer rimas muito criativas e possui um timbre de voz pra lá de peculiar. Quem ouvir uma de suas canções fatalmente vai reconhecer aquela vozinha meio estranha em qualquer outra. 

Para dar seuqência ao multiplatinado “Tha Carter III”, munido daquele espírito megalomaníaco que toma conta de todo artista de rap que faz sucesso, Wayne resolveu gravar um álbum com forte inspiração no rock intitulado “Rebirth”. Apesar de ter sido bem sucedido em termos de vendas, o disco recebeu críticas negativas e o baixinho teve que partir para a próxima empreitada. Para isso, lançou mais dois álbuns: “I Am Not a Human Being” e “Tha Carter IV”.    
O primeiro deles, inclusive, foi lançado enquanto Wayne estava privado de sua liberdade.
Pelo lado bom e pelo lado negativo, Lil Wayne é, sem dúvida, uma das maiores e mais comentadas estrelas do hip hop e da música como um todo. O cara é muito “bombado” nos Estados Unidos. Concorreu a vários prêmios musicais, é requisitado para fazer parcerias com artistas dos mais variados estilos, e ainda sobra oportunidade de aparecer em um outdoor em plena Times Square, em Nova Iorque.

Por tudo isso, o senhor Dwyane Carter até chega a ameaçar o reinado do seu “parente”, Shawn Carter, muito mais conhecido, é claro, como Jay-Z. Não sabemos se um dia ele será o maior, mas o pequeno rapper já é um gigante do hip hop e ainda pode dar muito que falar. Eu apostaria nisso.



  

Uma breve explicação + Indie Rock

Pessoal, vale lembrar vocês que os textos iniciais que postei aqui e muitos outros que ainda postarei foram produzidos nos últimos 5 anos. 
Todos eles foram escritos para serem publicados na Newsletter com a qual contribuo lá no meu trabalho.
Portanto, se preparem para um vasto repertório de reviews de shows ocorridos já a algum tempo e cds e DVDs lançados em passado recente.
Bom...acho que devia dar essa explicação para que vocês não fiquem confusos. E aí vai mais um texto:


A história do "indie rock"



O rock and roll é certamente um dos gêneros musicais mais complexos que existem. Desde seus primórdios, lá no início dos anos 50, com o “pai” Chuck Berry, o estilo passou por inúmeras transformações, reciclagens, distorções, enfim, tudo que se pode imaginar.
Por ser um estilo musical que sempre foi acompanhado de rebeldia (em alguns momentos mais e em alguns outros menos), os vários artistas que embarcaram nessa viagem se permitiram a fazer rock da maneira que bem entendessem. Ou seja, adotando todo e qualquer tipo de influência que tivessem, fosse ela de outros tipos de música ou do modo de vida que levassem. Acredito que é daí que vem a riqueza do rock e o que o faz sobreviver por tanto tempo, ainda que vez ou outra seja taxado de morto por tantos críticos especializados.
Uma das vertentes mais interessantes do rock certamente é aquela chamada “indie rock”.
Inicialmente, vale a pena explicar o porquê do termo. O que já dá uma dimensão do que vem a ser o estilo. O “indie” vem de “independent”. Portanto, traduzindo ao pé da letra, “indie rock” nada mais seria do que “rock independente”.

Dito isso, fica claro que as bandas que se enquadram no rótulo indie procuram criar suas canções da maneira mais subjetiva possível, sem se preocupar em soar assim ou assado ou tentar agradar fulano ou ciclano. É claro que a palavra “independente” tem um significado forte e por isso ficaria difícil algum artista se auto-proclamar totalmente independente. Sempre vai haver algum momento em esse artista vai ter que se submeter a alguma convenção. Mas é aí que está a sacada. O quanto uma banda acredita na sua obra e o quanto ela está disposta a abrir mão de suas ideias e personalidade para levar adiante o sonho de viver de música? Os representantes do “indie rock” normalmente têm esta noção de não se “entregarem” totalmente. Por isso acabam se distinguindo dos outros estilos de rock, chegando a dificultar para qualquer um encontrar uma maneira de defini-los, tanto esteticamente quanto musicalmente.

Os grupos “indie”, muitas vezes chamados também de grupos de “rock alternativo”, recebem uma gama de influência extremamente variada. É possível encontrar artistas que misturam elementos de outros estilos de rock, como o punk, ou então que utilizam de elementos da new wave, do jazz, do metal, do reggae, do folk, do eletrônico, enfim. É realmente muito amplo. O que, na minha opinião, é muito enriquecedor para qualquer artista, desde que bem feito, é claro.

A origem do “indie rock” se deu no início dos anos 80, no Reino Unido e nos Estados Unidos. Bandas cujas composições não se enquadravam no mundo pop da época acabavam não sendo aceitas por nenhuma gravadora. E verdade seja dita, a maioria dessas bandas nem gostaria de ser empregadas de alguma companhia que não os desse a liberdade que era fundamental para que pudessem criar suas canções, gravar discos, etc. Esses artistas resolveram então montar suas próprias gravadoras e distribuir seus discos da maneira que achassem mais conveniente. 

Público não faltaria para comprar os álbuns ds grupos que adotavam este esquema. Os jovens universitários talvez fossem o grande nicho de consumidores de “indie rock”. Daí inclusive o surgimento das “college radios” americanas, responsáveis por divulgar vários artistas que viriam a fazer sucesso mundialmente após alguns anos.


 

Neste contexto, as primeiras bandas que se destacaram foram os americanos do REM e os britânicos do The Smiths. Posteriormente, ainda nos anos 80, surgiram bandas com um som um pouco mais agressivo e ousado como Pixies, Husker Dü e Sonic Youth.Todas essas bandas tiveram relativo sucesso. Umas mais como no caso dos já citados The Smiths. Mas não chegou a ser algo avassalador como o que viria na década seguinte.

Após dez anos em que a música pop imperou em todo o mundo, os jovens influenciados pelas bandas indie e também pelas bandas punks dos anos 70 já estavam totalmente saturados daquela cena musical. Tudo bem que alguns artistas pop eram inegavelmente talentosos, como nos casos de Michael Jackson, Madonna e alguns outros. Mas grande parte era muito pasteurizada e carecia de verdadeira competência. Isso sem contar as bandas de rock da época. No fim dos anos 80, o chamado “glam rock” dominava as paradas com suas bandas e respectivos integrantes bem mais preocupados com a aparência do que com a música.

Foi aí que uma molecada, devidamente instigada por alguns donos de gravadoras independentes que estavam no lugar certo e na hora certa, acabaram dando origem ao grunge. 



O grunge na verdade era um sub-gênero do rock indie/alternativo. Muitos dos seus representantes até rejeitavam o termo. Eles detestavam ser rotulados. Mas o fato é que, da cidade de Seattle, na região noroeste dos Estados Unidos, surgiu uma verdadeira horda de bandas excelentes. Estou falando simplesmente de Nirvana, Pearl Jam, Soundgarden, Alice In Chains, Mudhoney, entre tantas outras menos famosas. Foi uma verdadeira febre.

Assim como toda tribo tem seus costumes, jeito de vestir e de se comportar, os fãs de rock alternativo não são diferentes. Durante a explosão do grunge, as camisas xadrez de flanela, bermudas abaixo do joelho e botas de lenhador era o traje mais usado. Algo, eu diria, bem desleixado. Na verdade, mudando uma peça ou outra, a moda casual sempre predominou entre os “indies”. Já predominava antes do grunge e predomina hoje em dia.

A grunge mania durou até meados dos anos 90 e, junto com as bandas de Seattle, outras tantas de várias partes dos Estados Unidos também ganharam seu espaço. A principal delas e um dos maiores símbolos do “indie rock” era a banda Weezer, que fez grande sucesso com seus dois primeiros discos e permanece em atividade até hoje.

Enquanto isso, na Inglaterra, um fenômeno equivalente ao grunge americano (em termos de popularidade e não de som) ocorreu e tomou de assalto quase todos os súditos da rainha. Foi o Britpop. Liderado pelo Oasis, o Britpop teve vários representantes que, a exemplo das bandas de Seattle, também colocaram o rock alternativo na mídia como jamais havia se visto. Ao lado do grupo dos irmãos Gallagher, bandas como Blur, The Verve e Suede também ganharam grande reconhecimento.

Contemporânea do Britpop, também na Inglaterra, uma banda singular deu as caras e, assim como o Weezer na América, personificou o espírito indie. Tratava-se do Radiohead. Um grupo que hoje tem cerca de 20 anos de carreira e, incrivelmente, por mais que adote direcionamentos musicais distintos a cada álbum lançado, sua base fãs não os abandona. É reconhecidamente uma referência de conduta para quem quer andar no lado alternativo da indústria musical.

Dando sequência a história, como mencionei no início deste texto, o rock várias vezes passou por altos e baixos e muitos críticos insistiam em decretar seu final em função do crescimento de outros gêneros do próprio rock,do hip hop ou do pop. Mas não é assim que funciona, meus amigos. A grande mídia pode, por vários momentos, escolher a quem promover, a quem dar destaque. Mas na indústria do entretenimento tudo é um ciclo. Se algo novo surge com algum potencial, independente de ser uma unanimidade ou não, vai fazer parte do mainstream e não há nada que impeça isso.

Sendo assim, no início dos anos 2000, assim como havia acontecido com o Nirvana, pouco menos de dez anos antes, mais uma banda “indie” foi promovida à “salvação do rock”.  A bola da vez agora era o The Strokes. Só que desta vez, com o advento da internet, tv a cabo, etc, o poder de divulgação de uma nova tendência era muito maior. Estava pronto o cenário para a volta do “alternative rock”. Na esteira dos Strokes veio mais uma leva de bandas de estilo relativamente parecido. As principais eram White Stripes, The Hives e The Vines. Todas elas, à seu modo, muito competentes, acabaram abrindo espaço novamente para um rock despretensioso e sem muita pompa.

Esse “retorno” do rock (como se por acaso ele tivesse ido a algum lugar) deu vazão a uma geração de bandas ainda mais novas. Principalmente no Reino unido. Conduzidos pelos escoceses do Franz Ferdinand e pelos ingleses do The Libertines, surgiram bandas excelentes como Arctic Monkeys, Bloc Party, Kasabian, Kaiser Chiefs e outras tantas.




Pouco a pouco, esse novo “boom” do rock independente ganhou terreno. Hoje em dia, por exemplo, são vários os festivais brasileiros que contam com bandas desse estilo em seus line-ups. Festivais como o Planeta Terra, o extinto Tim Festival e, mais recentemente, SWU e Lollapalooza, sempre escalam algumas dessas novas bandas que tem atraído um grande público.

De volta a América, outros exemplos de grupos que ascenderam com a “nova onda” do “indie rock” são os americanos The Killers, Kings of Leon e The Black Keys, além dos canadenses do Arcade Fire. Este último inclusive venceu o Grammy de álbum do ano, em 2011.

Na minha humilde opinião, em que pese este fenômeno estar sendo claramente insuflado pela mídia especializada, há de se admitir que são várias as bandas de ótima qualidade. Quando eu comecei a ouvir rock, lá no início dos anos 90, só me interessavam as bandas de rock muito pesado. Daquelas bem agressivas e que apresentavam o mínimo possível de sensibilidade em algumas músicas apenas pra que eu pudesse dar uma folga ao pescoço entre uma ou outra porrada musical de um Pantera ou de um Sepultura. O grunge também me agradava demais, mas era igualmente um som essencialmente pesado, com guitarras distorcidas e tudo mais.

Acho que amadurecendo um pouco, abri a mente para novos horizontes e fui conhecendo e me identificando com bandas que apresentam outras propostas, que carregam outras influências na bagagem e nos oferecem da mesma forma um som honesto e competente. Ou seja, é rock and roll também. Vai depender apenas do gosto de cada um.

Particularmente, creio que várias dessas novas bandas com pouco mais de cinco anos de estrada podem ter uma bela carreira pela frente. Se sobreviverem apenas duas ou três delas, não tem problema algum. Estamos cansados de saber que o rock tem um poder incrível de auto-renovação. Vejo no “indie rock” uma fonte muito promissora de talentos. O futuro da boa música está garantido, meus caros.




Com quantos dentes se faz um vocalista de verdade?


Dez anos sem Joe Strummer, ícone do punk
 



Muita gente se lembra ou pelo menos já ouviu algumas vezes no rádio ou em festinhas com o tema “anos 80”, as canções “Should I Stay or Should I Go” e “Rock the Casbah”.  Acontece que pelo menos metade dessas pessoas não tem a menor ideia de quem canta essas músicas. Para essas pessoas eu respondo: essas canções são de uma banda chamada The Clash.

Surgido no ano de 1976 na cidade de Londres, o The Clash foi um dos grandes responsáveis pela explosão e também pela manutenção do movimento punk, principalmente na Inglaterra, mas também nos Estados Unidos e em várias outras partes do mundo. 

Inicialmente, a banda era punk até os ossos. Musicalmente, liricamente, visualmente, enfim. Em tudo. Pouco a pouco, seus integrantes foram evoluindo em todos esses sentidos. Continuavam punks na atitude. Mas se transformaram numa grande banda de rock e não só de punk. O guitarrista Mick Jones e o baixista Paul Simonon contribuíram fundamentalmente para esta evolução do The Clash. Mas “o cara” do grupo era o também guitarrista e vocalista principal Joe Strummer. 

Nascido John Graham Mellor, no dia 21 de agosto de 1952, na cidade de Ankara, na Turquia, devido às constantes mudanças em função do trabalho de seu pai, Joe não só era “o cara” como também era “a cara” do The Clash. Seu gosto por música foi despertado ainda na infância nos tempos em que estudava em um colégio interno, em Londres, onde passava horas ouvindo artistas como Little Richard e Beach Boys. Este último foi o grande responsável por colocar na cabeça do garoto o desejo de se tornar um músico profissional.

No início da juventude, por volta de 1973, Joe Strummer se mudou para a cidade de Newport, no País de Gales. Lá, conheceu vários músicos que estudavam na Newport College Art. Começava assim o caminho para realização do sonho de viver de música. Nesse período, quando ainda tinha o apelido de Woody Mellor, o rapaz montou algumas bandas e passou a tocar em bares.

Algum tempo depois, Joe não queria mais ser chamado de Woody. Guitarrista apenas mediano, ele decidiu que passaria a ser Joe “Strummer”, devido a pouca técnica com o instrumento que ele apenas dedilhava (strum, em inglês) e jamais fazia solos intrincados. Seu grupo na época se chamava The 101’ers e a especialidade era o Rythm & Blues.

Mais alguns anos se passaram e, em Abril de 76, após uma apresentação dos The 101’ers em um clube londrino, dois caras se aproximaram de Joe e o convidaram para ser vocalista de um recém formado grupo de punk rock chamado The Clash. Em pouco tempo, a banda passou a fazer shows com maior frequência, chegando inclusive a abrir algumas apresentações dos Sex Pistols, banda que catapultou o punk na terra da rainha.




Com a presença de Joe Strummer entre seus membros, o The Clash só cresceu. A formação clássica com ele, Jones, Simonon e mais o baterista Topper Headon foi responsável por álbuns fundamentais na história do rock. Desde o trabalho de estreia, auto-intitulado, passando por “Give’em Enough Rope” e os ultra-clássicos “London Calling”, “Sandinista!” e “Combat Rock”, o Clash mostrou ao mundo diversos clássicos em seus curtos dez anos de estrada.

A evolução musical a qual me referi no início deste texto foi tomando forma ao longo da carreira do grupo britânico. O punk rock tosco foi sendo incrementado pelos seus integrantes que possuíam influências de outros estilos musicais. Aquele R&B que Joe tocava no início da carreira aos poucos foi se fazendo presente nas composições do The Clash. A clássica faixa “London Calling” é um exemplo disso. Mais tarde, a banda passaria a flertar fortemente com o reggae, gerando excelentes canções como “Guns of Brixton”, “Magnificent Seven” e “Armagideon Time”.

Já com relação as letras, o Clash era um capítulo à parte. Seus membros, todos eles jovens vindo de uma classe média engajada artistica e politicamente, adotaram desde o início da carreira, uma postura forte contra o sistema vigente. A Inglaterra vivia um momento de estagnação em várias áreas e a juventude resolveu tomar uma atitude perante esse contexto. O movimento punk, principalmente através de suas bandas, foi a voz que essas pessoas precisavam para expressar suas críticas e insatisfações. 

Joe Strummer, ao lado de Mick Jones e com uma contribuição mais discreta de Paul Simonon, não se privavam de escrever letras que criticavam fortemente a sociedade britânica. Canções como “London’s Burning”, “Career Opportunities” e “English Civil War” são perfeitas demonstrações da agressividade das letras do The Clash. 

Em cima do palco a banda traduzia exatamente tudo o que produzia em seus discos. Através de performances vibrantes, o Clash conseguiu arrebanhar muitos fãs na Europa e posteriormente nos Estados Unidos. Strummer era um show à parte. Mesmo empunhando sua guitarra na maior parte do tempo, o vocalista tinha uma presença de palco muito marcante. Agitava sem parar e conversava com o público entre a execução das músicas. Como a origem do seu próprio apelido diz, a técnica não era sua principal característica. Nem com a guitarra e nem no vocal. Mas isso era compensado com muito carisma e entrega durante cada performance. 



Um exemplo clássico da imagem de Joe Strummer, e consequentemente do The Clash, é o clipe da música “Tommy Gun”. O vídeo nada mais é do que uma performance ao vivo da banda em um estúdio de TV. Mas o grande destaque são os closes em Strummer, denunciando a feição nada delicada do rapaz, a falta de alguns dentes, mas ao mesmo tempo mostrando um cara cantando com muito vigor e acreditando em cada palavra que saía de sua boca.

No início dos anos 80, já com os dentes mais arrumadinhos, Strummer e companhia lançaram os dois hits que citei no início deste texto. “Should I Stay or Should I Go” e “Rock the Casbah” entraram no álbum “Combat Rock” e fizeram deste disco o maior sucesso comercial da carreira do The Clash. Esse sucesso porém, acabou seguido de um desgaste na convivência entre os principais  compositores da banda. Assim, Mick Jones acabou deixando o grupo em 83. Com a nova formação ainda seria lançado o mal sucedido álbum “Cut the Crap”, em 85, mas no ano seguinte o The Clash encerraria suas atividades definitivamente.

 Joe Stummer deu início então a uma carreira solo que consistia em projetos que nunca atingiram o mesmo sucesso de sua gloriosa banda anterior. O único desses projetos que ganhou certa notoriedade foi Joe Strummer and The Mescaleros, criado no fim dos anos 90. 

E nesse momento de estabilidade, quando inclusive já se ventilava um possível retorno às atividades do Clash, um fato totalmente inesperado pegou todos de surpresa. Em 22 de dezembro de 2002, aos 50 anos de idade, Strummer sofreu um ataque cardíaco fulminante, causado por uma má-formação congênita jamais diagnosticada até então. Com a morte do vocalista, qualquer chance de retorno dos ícones do punk rock foi descartada. Afinal, Joe Strummer era a verdadeira alma da banda e não faria qualquer sentido ela voltar a existir sem sua presença. 


  


Neste fim de ano, certamente várias homenagens serão prestadas a este grande compositor, ativista político e vegetariano, que nos deixou mensagens brilhantes através de suas músicas e influenciou uma enorme quantidade de artistas e fãs tanto no aspecto musical como através de sua postura como cidadão. Mas eu resolvi me antecipar e ser assim um dos primeiros a lembrar dos dez anos da perda de Joe Strummer. Talvez tenha feito isso para compensar o fato de ter demorado demais pra prestar atenção nos caras. Somente em 2008 comecei a ouvir suas músicas e acabei virando um fã incondicional, não só do grupo, mas especialmente deste artista revolucionário que mostrou pra muita gente com quantos dentes se faz um vocalista de verdade de uma banda de rock de verdade.  Salve The Clash! Salve Joe Strummer!

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Começa um novo capítulo da minha vida

Muito bem, meus amigos. Depois de muito tempo, deixei a preguiça de lado e resolvi aceitar a sugestão de criar um blog.

Esse é um blog de música. Pelo menos a princípio. É um espaço que criei para postar os textos que escrevo sobre shows, cds, histórias de artistas, enfim....tudo que envolva boa música.

Opa! Boa música é um termo perigoso. O que quero dizer é que vou postar textos sobre o que eu julgo ser música de qualidade. Isso não quer dizer que quem venha a ler concorde comigo. Mas vamos ver. Estou ansioso para saber qual resultado esta empreitada terá.

E pra começar, vou relembrar um show que assisti há quase dois anos, mas que não sai da minha memória. Com vocês, Rage Against the Machine, live from SWU Festival 2010.




Testify - Live from SWU - 2010

Rage promoveu o caos em Itu e eu sobrevivi

Foram anos de espera. Mais precisamente 14 anos. Mas o grande dia havia chegado. O início foi no distante ano 1996 quando um amigo me apresentou um som que unia os estlios musicais que eu mais gosto: rock e rap. E que mistura! Vocal típico de um MC de hip hop a cargo de Zack de La Rocha sobre uma base rock extremamente competente formada pelo gênio Tom Morello na guitarra, além de Tim Commerford no baixo e Brad Wilk na bateria. Juntos os quatro formam a banda chamada Rage Against the Machine.

Mas o Rage não é só uma banda. As letras de cada canção são verdadeiros discursos que mostram claramente o posicionamento político de seus integrantes. Este conteúdo aliado ao peso da parte instrumental dá como resultado um verdadeiro coquetel molotov.

Por duas oportunidades o RATM esteve perto de se apresentar no Brasil. Em 97 as datas já estavam marcadas mas o show foi cancelado devido a uma torção de tornozelo sofrida por Zack de La Rocha durante  uma de suas performances frenéticas em cima do palco. Já em 2000, o guitarrista Tom Morello chegou a prometer numa entrevista para um canal de TV brasileiro que estariam por aqui em breve. Porém, alguns meses depois, a banda se separou repentinamente no auge do sucesso em função de desentendimentos até hoje inexplicados.

Nos primeiros oito anos de atividade o Rage lançou três álbuns. O primeiro, auto-intitulado, em 1992. O segundo,‘’Evil Empire’’, em 96, e o terceiro e último até agora, ‘’The Battle of Los Angeles’’, em 2000. Sou suspeito pra falar, mas todos esses trabalhos são excelentes. Muito difícil destacar o melhor de todos mas, para não ficar em cima do muro, talvez o primeiro leve uma pequena vantagem sobre os outros dois.

Em 2007, quase dez anos depois de deixar seus fãs espalhados pelo mundo na saudade, o grupo retomou suas atividades. Surgia novamente a esperança de ver o RATM ao vivo pela primeira vez. É por tudo isso que o dia nove de outubro tinha tudo para ser especial.

A oportunidade desta banda de Los Angeles finalmente se apresentar por aqui ocorreria no festival SWU, realizado na distante fazenda Maeda, na cidade de Itu. Após vários shows ocorridos durante a tarde e a noite, com destaque para Infectious Grooves, Mutantes (sim, eles mesmo), Los Hermanos (mais um show esporádico durante o hiato) e The Mars Volta, chegava a hora da atração principal da primeira noite do festival.

O frio congelante que judiava este que vos escreve (um simples moletom para uma temperatura de 11 graus ajudou muito pouco) desapareceu imediatamente após os primeiros acordes de ‘’Testify’’. Pronto. Começava o caos. A insanidade tomou conta de praticamente todas as 45 mil pessoas presentes. Vários mosh pits (aquelas rodas em que a galera parece que está brigando, mas na verdade está curtindo o som) surgiram pela pista afora. Inclusive um bem do meu lado.

Foi em função desse clima que após três músicas o show teve que ser interrompido. Motivo: a grade que separava a público do foço localizado logo a frente do palco estava prestes a ceder. Um integrante da produção do concerto e logo em seguida o próprio vocalista do Rage tiveram que pedir pra galera se afastar um pouco pra trás e cuidar uns dos outros para que ninguém se ferisse. É, minha gente. Foi esse o nível de intensidade do show.

Situação controlada, a apresentação seguiu bem com as execuções de ‘’Know Your Enemy’’ e de um de seus maiores sucessos ‘’Bulls On Parade’’. Mas na música seguinte, mais um percalço surgiu. Desta vez foi o sistema de som do local que não aguentou a ‘’pressão’’ e falhou enquanto a banda tocava ‘’Township Rebellion’’. Foram pouco mais de dez minutos de pausa até que o problema fosse solucionado. A galera chegou a se irritar, xingou um pouco. Mas, pra mim, essa pausa, mais do que me chatear, só serviu como um descanso para a sequência do concerto.
 
 

O setlist que privilegiou o primeiro álbum (sete músicas executadas) ainda deu espaço para sons mais recentes como ‘’Calm Like A Bomb’’, ‘’Guerrilla Radio’’ e ‘’Sleep Now In the Fire’’. A essa altura eu já havia atingido o nivel máximo de empolgação, que é quando minha cabeça parece que vai explodir de tanto berrar as letras de cada música. A primeira parte se encerrou logo em seguida com ‘’Wake Up’’.

Após a tradicional pausa para o bis, ainda sob os gritos de ‘’Rage! Rage! Rage!’’, soa pelos alto-falantes o hino socialista ‘’A Internacional’’ e então a banda volta ao palco para mandar uma perfomance arrebatadora de Freedom e e depois encerrarem com um dos maiores hinos da história do rock ‘’Killing In The Name’’.

Na saída, eu e mais três amigos (entre eles o que me apresentou o Rage em 96) tivemos que esperar quatro horas (!!!!) para pegar ônibus circular disponibilizado pela ‘’organização’’ do festival para nos levar até o bolsão de estacionamento dos carros. Mas não vale a pena entrar nesse detalhe. Nem mesmo esse absurdo foi capaz de me tirar a alegria de ter vivido mais um sábado inesquecível. Mais um show da minha lista dos que eu era obrigado a ver. Já consegui assistir Metallica e Pearl Jam. Como lamentavelmente não poderei ver Nirvana e Pantera, acho que agora não falta mais nada.