quinta-feira, 10 de abril de 2014

LOLLAPALOOZA BRASIL 2014

O incrível Nine Inch Nails e o Lollapalooza 2014



 Finalmente! Eu vi Nine Inch Nails ao vivo! Depois de usar muita força do pensamento e conseguir cancelar o show dos caras aqui em 2008 por estar sem grana para o ingresso, dessa vez não teve erro. Óbvio que isso é uma piada. Aquilo foi uma tremenda sorte mesmo.

A verdade é que o cancelamento do show de Trent Reznor e companhia, seis anos atrás, se deveu a falta de estrutura do local do evento para suportar a parafernália de luzes e efeitos usada nas apresentações do Nine Inch Nails. Outra hipótese que costuma ser levantada quando um show confirmado é cancelado repentinamente é a baixa venda de ingressos. Sou suspeito para falar, mas não creio que esse tenha sido o caso. As apresentações de Santiago e Buenos Aires rolaram normalmente na época e com bom público presente.

Mas o que interessa agora é o que aconteceu de fato. E no último sábado, dia 5 de abril, por volta das oito da noite, subiu no palco Onix do festival Lollapalooza a veterana banda de rock industrial Nine Inch Nails.


No início desta turnê, os shows do grupo sempre se iniciavam com uma pegada  mais eletrônica através da música “Copy of A”, do novo álbum, “Hesitation Marks”, lançado no ano passado. Mas recentemente descobri que houve uma reformulação no setlist e a abertura passou a variar bastante. Por aqui a escolhida foi a instrumental “Pinion”, emendada com a porrada “Wish”, ambas do ótimo EP “Broken” (1990). Ou seja, um início fulminante!

Como era de se esperar, o jogo de luzes no palco, mesmo nao sendo exatamente o mesmo utilizado em shows lá fora, surpreendeu logo de cara. Em outros textos que escrevi sobre essa banda sempre chamei atenção para a experiência audio-visual que um show dos caras proporciona. E quem viu a performance desse sábado pôde comprovar isso. A cada uma das músicas executadas, fossem elas agressivas como “March of Pigs” e “Survivalism” ou mais “climáticas” como “Me I’m Not” e “Beside You in Time”, a sincronia desses elementos era perfeita. O ponto alto desse quesito se deu durante “The Great Destroyer”, do álbum “Year Zero” (1997). Foi uma verdadeira avalanche surreal de sons e luzes que deixou o público num estado misto de perplexidade, empolgação e hipnose. Memorável.

O único deslize desse show, na minha opinião, ocorreu no meio do setlist, quando a banda emendou uma sequência de músicas mais calmas, todas boas, diga-se, mas que deu uma esfriada no ânimo dos fãs ansiosos por petardos que acabaram ficando de fora como “Terrible Lie” ou “1,000.000”.


O peso característico do som do NIN voltou na parte final da apresentação com a execução de “The Hand That Feeds” e a clássica “Head Like a Hole”. Como eu pulei nessa hora! Para encerrar, como de praxe, veio a fantástica “Hurt”, cantada com toda emoção e entrega por parte de Trent Reznor. É admirável ver que ele ainda se sinta assim mesmo a música tendo sido lançada há vinte anos.
  
De qualquer forma, foi um grande show que deixou mais do que clara a competência de cada integrante da banda. Destaque para o baterista monstruoso Ilan Rubin, que esbanjou toda sua técnica e agressividade que casam perfeitamente com as composições do NIN. Já o líder/gênio Trent Reznor, mesmo interagindo poucas vezes com o público (o que não é novidade para quem o conhece) mostrou uma presença de palco incrível e comprovou porque é, facilmente, um dos maiores frontmen do rock dos últimos trinta anos.

Agora, sim! Me sinto aliviado e satisfeito por ter presenciado in loco a performance de um grupo que, com uma pausa aqui e ali, está há 25 anos nos proporcionando música da melhor qualidade. Mais um excelente show para guardar na memória.









O festival:

 O dia não havia começado muito bem em função da dificuldade para adentrar o local do evento. Do lado de fora do autódromo de Interlagos (nova casa do festival, realizado até ano passado no Jockey Clube) me deparei com uma multidão de pessoas subindo e descendo uma longa avenida que margeava o autódromo. Sem ninguém para me dar um informação decente, apelei. Me infiltrei numa fila qualquer que estava andando bem e torci para que meu destino final fosse dentro do festival. Felizmente foi.

Uma vez lá dentro, me assustei com o tamanho do lugar. Já com um mapa em mãos (aí a organização mandou bem), olhei a minha volta e pensei: vai ser um longo dia. 

Ciente das dimensões do local, resolvi adotar uma tática mais conservadora. Não arrisquei perambular muito de um palco pro outro porque a distância era muito grande. Acabei me atendo mesmo aos shows que eu já havia decidido previamente que gostaria de ver.


O primeiro deles, no palco Skol, foi o show solo do vocalista do The Strokes, Julian Casablancas. O que eu pude concluir é que realmente é muito bom quando um membro de uma banda grande tenha um projeto paralelo, solo, ou qualquer coisa que o valha. Digo isso porque é nessas empreitadas que um artista dá vazão a qualquer ideia artística que venha a ter. E é isso que acontece com Julian. Simpático com a galera e acompanhado pela banda de apoio, The Voidz, o cara mandou alguns sons do seu primeiro álbum solo (“Phrazes for the Young”) e também do novo trabalho (ainda sem título) que deve ser lançado este ano. A galera só despertou pra valer mesmo durante a execução de duas músicas do Strokes, Ize of the World e Take it or leave it. No geral, foi um show meio estranho, mas interessante. Não me arrependi de estar ali.

Cerca de uma hora e meia depois do show de Julian, fui dar uma sacada na apresentação da menina prodígio, Lorde. Gostei do que vi. Batidas eletrônicas, teclado e bateria convencional formam a base perfeita para que a neozelandesa de apenas 17 anos possa brilhar com seu ótimo vocal e presença de palco marcante. Só não vi até o final porque teria que percorrer uma enorme distância até chegar no palco onde aconteceria o show do Nine Inch Nails.

Foi nessa hora que passei por um grande perrengue. Uma aglomeração de pessoas, inexplicável para o tamanho do local do festival, se formou no caminho que me levaria até o palco Onix. Depois de muito empurra-empurra, garotinhas histéricas querendo passar a qualquer custo onde não havia espaço nenhum e um singelo banho de cerveja, consegui me ver livre.


Após o show do NIN (devidamente descrito no início deste texto) já não queria mais saber de muvuca. Tinha algo bem melhor pra fazer naquele momento. Preferi relaxar durante todo o show do Muse. Que sábia decisão! Certamente foi um dos pontos mais altos do dia.

Finalizado o último show, era hora de ir embora. Uma rua interditada e informações desencontradas me fizeram andar por cerca de uma hora nas redondezas do autódromo de Interlagos até achar o local onde o ônibus da minha excursão estava estacionado. Uma aventura que definitivamente eu não gostaria de repetir. Conclusão: o próximo Lollapalooza deveria voltar urgentemente para o Jockey Clube!

No dia seguinte, apenas duas bandas me intreressaram. No conforto do meu lar, acompanhei os shows de Soundgarden e New Order. Ambos muito bons! O primeiro, pesado, rock na veia. O outro, rock eletro dos anos 80, divertido, dançante.

Esse foi o meu Lollapalooza 2014. Depois de ter ficado de fora em 2013, fiquei feliz de voltar. Vou guardar ótimas recordações deste festival. Só faço votos que os erros não se repitam em 2015.






terça-feira, 8 de abril de 2014

KURT COBAIN

20 anos sem Kurt Cobain, mas ainda com Nirvana


Incrível como passou rápido. Me lembro que fazia apenas alguns meses que eu havia sido seduzido pelo som do Nirvana. Uma banda de rock sujo, agressivo, mas também melódico, que havia desbancado nada mais nada menos que o cantor Michael Jackson das primeiras posições das paradas de sucesso. Se não me engano, Sergio Chapelin era o apresentador do Jornal Nacional na época e, de passagem pela sala, vi a notícia da morte Kurt Cobain ser anunciada. Pensei comigo: “poxa...mas já?”.

Esse “já” servia para duas coisas: uma era que eu mal havia conhecido a banda. Outra era que um dos músicos mais talentosos dos últimos tempos, apenas aos 27 anos de idade, havia desaparecido para sempre. Mas desde então, minha admiração pela música do Nirvana só cresceu.

Cobain foi um cara que viveu uma vida muito peculiar. Eu li sua biografia - a excelente obra “Mais Pesado Que o Céu”, de Charles R. Cross -, assisti inúmeras reportagens, documentários e vi o quanto ele era um sujeito contrariado, amargurado, que até tentou aproveitar as coisas que ele gostava na sua vida, como a filha e a esposa, mas isso não foi suficiente.


Foi exatamente dessa alma torturada que vieram grandes canções. Verdadeiros hinos do rock exaltados até hoje. Aliás, a grandeza da banda que liderava foi justamente um dos motivos de sua derrocada. Mas é difícil julgar. Cada um sabe dos problemas que tem e o quanto eles podem ser perturbadores para suas vidas.

Vinte anos depois, se serve de consolo, o que ficou mais marcado foi o legado deixado pelo Nirvana. Mesmo breve, a existência do grupo foi fundamental para o que viria ser o rock que conhecemos hoje, tanto musicalmente quanto em termos de atitude e postura a ser adotada por um artista relevante.

É incrível como depois de todo esse tempo eu ainda ouço as canções deste grupo de Seattle com a mesma empolgação de vinte anos atrás. Aliás, demorou para eu perceber que essas músicas envelheceram. Para mim, e felizmente para muitas pessoas, a obra do Nirvana não soa datada. “Smells Like Teen Spirit”, “Rape Me”, “School”, “Aneurysm”, “Sliver”, enfim, a lista é longa. Todas essas músicas ainda mantém a energia da época que foram lançadas.


 Para resumir o que escrevi nesse texto, segue uma breve história: a banda britânica Muse, que se apresentou no festival Lollapalooza, ocorrido na cidade São Paulo, exatamente no dia em que se completavam duas décadas da morte de Kurt Cobain, como não podia deixar de ser, prestou uma homenagem ao músico executando a faixa “Lithium”, do lendário álbum “Nevermind”. Eu estava bem relaxado a essa hora, acompanhando o show de longe. Mas pude ver e ouvir milhares de pessoas, em sua maioria adolescentes, que sequer haviam nascido quando Kurt morreu, cantando o refrão da música em uníssono, como se fosse o maior hit do repertório do próprio Muse. Eu acho que isso explica tudo, não? Não ficarei nem um pouco surpreso se daqui a mais vinte anos essa cena se repetir. Se eu estiver por aqui ainda, “cinquentão” e tudo, certamente vou cantar junto com essa galera.