quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

PEARL JAM



Pearl Jam desce um degrau (só um) em novo álbum
 
Quem me conhece um pouco mais de perto sabe que sou fanático pelo Pearl Jam. Acompanho os caras por cerca de 20 (!!!) anos, fui a dois shows e os incluo facilmente no meu top 5 de bandas favoritas de todos os tempos. Cada disco lançado por este grupo de Seattle eu compro de olhos fechados, sem medo de me decepcionar. E de fato isso nunca aconteceu. Salvo alguns experimentalismos aqui e ali em alguns álbuns, eu não vejo nenhuma falha no repertório de um dos pioneiros do chamado rock grunge, lá no início dos anos 90.

Foram quatro anos de intervalo entre o último trabalho de estúdio da banda, o bom “Backspacer”, e o mais recente, “Lightning Bolt”, lançado em outubro do ano passado. Pois é...já faz um tempinho. Mas eu fiz questão de esperar pra colocar as mãos (e os ouvidos) no disco para poder fazer uma avaliação bem justa e imparcial. Só ouvi os dois primeiros singles. Não fucei no You Tube e nem mesmo li críticas a respeito. 

Esperei pacientemente até 25 de dezembro o Papai Noel me trazer “Lightning Bolt” de presente porque o preço não era nada convidativo (acima da média já alta de preços de discos aqui no Brasil). Pois bem. Me ajeitei em uma cadeira, dei play no controle do meu som e dei início a mais uma agradável experiência de ouvir um cd do Pearl Jam. “Getaway” é a primeira faixa. Gostei! Um rock típico deste grupo de Seattle. Sujão, bom pra acompanhar o ritmo batendo o pé. A segunda é “Mind Your Manners”, o primeiro single tirado do álbum e que na época em que foi revelado me causou uma surpresa pra lá de positiva. Trata-se de uma canção clássica de punk rock. Uma sequência de “power chords” básica, à la Ramones ou Black Flag, vocais gritados de Eddie Vedder e curta duração. Excelente!

 
Na sequência vem “My Father’s Son”, outra música bem ao estilo Pearl Jam, cuja letra fala da relação tortuosa entre um pai e um filho (alguém aí lembrou da letra de “Alive”?). Eis que surge então a primeira balada do álbum, “Sirens”. Esse foi o segundo single retirado do disco e com ele veio meu primeiro questionamento sobre o mesmo. O Pearl Jam sempre foi craque no que diz respeito a baladas. A banda que tem no currículo verdadeiros clássicos como “Black”, “Daughter” e “Better Man” (poderia citar mais meia dúzia) decepcionou um pouco dessa vez. A música com certeza é boa, a letra também, mas soa muito “boazinha”, excessivamente polida. Ao invés do órgão geralmente utilizado nas composições mais lentas, dessa vez aparece um piano comum que se vê em baladas mais adocicadas de bandas como Oasis ou Coldplay.

Um dos grandes momentos de “Lightning Bolt” é a faixa que leva o nome do trabalho. Com forte presença de guitarras, arranjo dinâmico e refrão marcante, já é um dos pontos altos dos shows da nova turnê. A partir daí, o disco começa a tomar um rumo...eu diria... questionável. “Infallible” começa logo de cara com um groove que lembra “Tremor Christ”, do álbum “Vitalogy” (1994). Logo depois vem aquele que eu acredito ser o ponto mais baixo do cd. “Pendulum”.

Se você é fã e conhece o Pearl Jam de perto, sabe que, desde a época do já citado “Vitology” e do seu sucessor, “No Code” (1996), o grupo passou a incluir algumas composições mais experimentais, com arranjos nada ortodoxos, às vezes letras faladas ao invés de cantadas, etc. No caso de “Pendulum”, o que se percebe é uma canção bastante cadenciada, marcada por uma linha de bateria meio hipnótica. Talvez por isso tem sido constantemente usada para abrir os shows da atual turnê dos caras, que gostam de iniciar suas apresentações com músicas mais lentas para depois acelerar o ritmo. Mas essa em especial é monótona demais. Quando a ouvi no cd pela primeira vez, nem consegui ir até o fim. Tentei mais algumas vezes pra ver se acostumava, mas ainda assim não deu certo.
 

A empolgação volta um pouco com duas músicas interessantes: “Swallowed Whole” e a blueseira “Let The Records Play”. Mas aí o ritmo cai de novo e o álbum é finalizado com mais três (!!!) baladas. “Sleeping By Myself” é influenciada por country e tem uma passagem de ukelele (uma espécie de violão havaiano) no final que não ajudou muito. “Yellow Moon” é um pouco mais interessante, mas ficou melhor ao vivo do que na versão de estúdio.  A faixa derradeira é “Future Days”. Lenta demais, talvez coubesse melhor em um disco solo de Eddie Vedder. 

Tirando a famigerada “Pendulum”, essas músicas finais não são ruins, ainda que as baladas do cd anterior tenham causado melhor impressão. O problema é que elas estão quase em sequência. Por isso, um pouco depois da metade em diante, o disco se arrasta até o final.

Faço essas críticas a “Lighting Bolt” com a “liberdade” de quem é fã incondicional do Pearl Jam. Apesar da morosidade de algumas músicas, ainda assim esse é um bom disco de rock. O fato é que é improvável que a banda venha a igualar clássicos como “Ten” e “Vs”. Na verdade nem precisa. O restante da discografia fala por si só. Puxando para memória, a única vez que eu havia me sentido um tanto quanto implicante com um trabalho novo de Eddie Vedder e companhia foi com “Riot Act”, há mais de dez anos.  Isso sem mencionar as apresentações ao vivo. Sempre marcantes para qualquer fã. 

É inegável, porém, pelo menos para mim, que os caras desceram um degrau. Mas foi apenas um degrau, certo? Não foi um tombo retumbante. Principalmente se tratando de uma das maiores bandas da história do rock. Exatamente por isso é que eu não duvido que, daqui uns três ou quatro anos, os caras calem minha boca e soltem um novo álbum recheado de boas músicas do começo ao fim. Ou algo bem próximo disso.