quarta-feira, 23 de outubro de 2013

MONSTERS OF ROCK

Monsters of Rock: Arena Anhembi em fúria!


No meu post anterior eu deixei bem clara minha insatisfação com a edição deste ano do Rock In Rio. Apesar de algumas justificativas que cheguei a citar naquele texto, o festival da cidade maravilhosa deixou a desejar no quesito atrações. Além disso, eu já tinha em mente o line up de um outro festival que seria realizado cerca de um mês depois na cidade de São Paulo. O Monsters of Rock.

Este festival essencialmente voltado ao heavy metal teve sua origem na cidade de Donington, na Inglaterra, nos anos 80, e hoje se chama Download Festival. No Brasil foi realizado pela primeira vez em 1994 e havia tido sua última edição em 1998. Seu retorno ao nosso calendário de shows neste ano de 2013 deixou os amantes da música pesada em polvorosa. E não era pra menos.

Inteligentemente, a organização do evento resolveu dividir o festival em dois dias. O primeiro privilegiou a vertente mais moderna do metal, incluindo bandas tidas como da “nova geração” do estilo e que não possuem muito mais do que 20 anos de estrada. O segundo dia foi voltado para o chamado “hard rock” incluindo bandas que fizeram sucesso nos anos 70 e principlamente anos 80 como Aerosmith, Whitesnake, Ratt, entre outras.

Naturalmente, minha geração, que passou a adolescência e início de juventude durante os anos 90 e começo dos 2000, se viu atraída pela programação do primeiro dia do Monsters. Nomes consagrados do chamado “nu metal” como Slipknot, Korn e Limp Bizkit, acompanhados de representantes do metalcore ou hardcore metal como Killswitch Engage, Hatebreed e Gojira, se apresentaram para um público de cerca de 30 mil pessoas. Preciso dizer que eu era uma delas? É por isso que este post é dedicado totalmente ao primeiro dia do evento.


 Eu, meu parceiro de longa data em shows, Alex e seu sobrinho Rafael (devidamente encaminhado musicalmente)  chegamos na Arena Anhembi (sambódromo) por volta de 13 horas, embaixo de um sol impiedoso. Pouco depois entrou no palco a banda brasileira Projeto 46, vencedora de um concurso promovido pela organização do Monsters. Acompanhei os caras meio de longe e o que deu pra perceber foi que eles mandaram um metalcore competente que combinava muito bem com as outras atrações do dia. Em seguida foi a vez dos franceses do Gojira. Esse é um grupo que, ano após ano, vem conquistando seu espaço no cenário do heavy metal com uma pegada mais progressiva, ou seja, com músicas mais longas e arranjos intrincados.

Mas foi por volta das três e meia que o festival começou pra valer. O público, que a essa hora já era de razoável pra bom, estava com energia estocada de sobra e pronto pra explodir. E o Hatebreed foi o estopim que faltava. A banda liderada pelo carismático vocalista Jamie Jasta, despejou seu hardcore, sem dó, por quase 45 minutos. O cover de Refuse/Resist, dos ícones brasileiros do metal, Sepultura (que contou com a participação do guitarrista Andreas Kisser), elevou ainda mais o nível de agressividade da apresentação. A última música executada pelos caras resumiu bem o que foi o show: “Destroy Everything”. Eu ousaria dizer que, por conta deste início bombástico, boa parte do público não conseguiu chegar ao fim do festival com o gás que gostaria.


Coube então ao Killswitch Engage a árdua tarefa de tocar depois da avalanche promovida pelo Hatebreed. Vale lembrar que o Killswitch, ao lado do Slipknot, era o show que eu mais aguardava. Mas as coisas não começaram muito bem para eles. Inexplicavemente, a qualidade do som que foi um dos pontos altos da apresentação anterior deixou os metaleiros de Boston na mão durante as duas primeiras músicas do set dos caras.


Claramente isso afetou a animação da galera que foi embalando aos poucos, muito em função da garra e da competência dos integrantes da banda. O vocalista Jesse Leach, recém retornando ao grupo após dez anos de ausência, se mostrou em grande forma, tanto para cantar quanto para se dirigir ao público em momentos estratégicos. Além de Jesse, não posso deixar de destacar a qualidade absurda do batera Justin Folley, o fôlego interminável do baixista Mike D’Antonio (ele já havia tocado com o Hatebreed substituindo o baixista original, que se machucou antes de vir ao Brasil)  e, claro, a insanidade do guitarrista e líder da banda, Adam Dutkiewicz, que se comportava no palco como se estivesse numa micareta. Nem tentem entender o porque. Eu já desisti. No fim das contas, a apresentação agradou aos fãs e até o sol, que se pôs ao final da performance, deve ter se abalado com o peso do som do KsE.


 Após alguns minutos preciosos para recuperar o fôlego, estava pronto para a apresentação do Limp Bizkit. A banda se consolidou como uma das mais “pop” do nu metal, e até por isso quase sempre foi amada e odiada pela crítica e pelos fãs do estilo. Portanto este show era uma certa incógnita para mim. Eu era um grande fã dos caras no final dos anos 90. Cheguei até a usar a música “Nookie” como trilha sonora da minha caixa postal do celular (na época que eu tinha tempo pra personalizar minha caixa postal). Mas, com o tempo, o grupo caiu no ostracismo. Lançou apenas dois LPs e um EP em um período de dez anos! Mas não é que a popularidade deles continua forte por aqui? Se a performance do Hatebreed havia sido a mais agressiva do dia até então, Fred Durst e cia. fizeram a mais concorrida. Percebi muita molecada e muitas meninas tentando rumar em direção ao palco para acompanhar o show de perto.

O fato é que Fred Durst não deixou de ser o competente frontman do auge do Limp Bizkit. Usando uma camisa estampada com uma foto do saudoso rapper brasileiro Sabotage (morto em 2003),  ele teve a galera na mão durante cerca de uma hora. Não posso deixar de mencionar também o traje surreal do excelente guitarrista Wes Borland que parecia um misto de robô com extraterrestre.


Em boa parte do show passei sufoco espremido entre os cotovelos pontudos de uma garota que estava com medo de ser tragada pela multidão e o “mosh pit” que insistia em se abrir logo à minha frente. Tanto insistiu que eu resolvi fazer parte dele durante as músicas finais. Enfim, uma boa apresentação, com direito a covers dos hinos do rock “Smells Like Teen Spirit”, do Nirvana, e “Killing In the Name”, do Rage Against The Machine. Me surpreendi positivamente.

Eis que veio o único show “meia boca” do dia. Pelo menos para mim. O Korn é outra banda que eu ouvi bastante alguns anos atrás e ainda ouço de vez em quando. Tenho três álbuns dos caras no meu ipod, inclusive. Mas são álbuns lançados em 1994, 98 e 99. Em 2002 fui a um show deles em um local fechado e posso dizer, sem exageros, que foi um dos melhores que fui até hoje.


 Após a saída de um de seus guitarristas, Brian “Head” Welch, em 2005, e, logo em seguida, do baterista David Silveria, o grupo não conseguiu mais lançar discos de qualidade indiscutível como na primeira metade da carreira. A banda recrutou o ótimo baterista Ray Luzier e vem flertando constantemente com a música eletrônica no afã de de renovar sua sonoridade e se tornar verdadeiramente relevante de novo. Head voltou este ano e já gravou um novo álbum com os caras, mas não está rolando. Isso ficou muito claro na apresentação do Monsters. Depois de abrir com força total executando a fantástica “Blind” e emendando com “Falling Away From Me”, o Korn cometeu um erro amador para uma banda experiente em festivais. Tocou quatro canções seguidas de sua fase mais recente. Canções que muitos dos que estavam ali no Anhembi desconheciam. Obviamente os ânimos esfriaram.

Somente o cover de “Roots Bloody Roots”, do Sepultura, contando mais uma vez com participação do “arroz de festa” Andreas Kisser, acompanhado pelo vocalista Derrick Green, fez a galera acordar. Eu acordei junto e assim fiquei assim até o final da apresentação com as ótimas e antigas “Got The Life” e “Freak On a Leash”, provavelmente o maior hit do Korn. Enfim. Sendo bem sincero, foi um show não mais do que nota 6.


Finalmente chegava a hora da grande atração da noite. Da banda que tem uma base de fãs tremendamente fiel, conhecidos como “maggots” e que encheram o Anhembi trajados com camisteas das mais variadas estampas. Isso sem falar dos fãs ainda mais ardorosos que, mesmo com o sol ardendo sem piedade, fizeram questão de se vestir com a indumentária semelhante a dos seus ídolos: macacão e máscara.

É impressionante. Se você já viu um show do Slipknot, ainda que pela televisão, sabe que se trata de uma experiência, no mínimo, intrigante. Alguns se assustam e acham um absurdo aquele bando de caras pulando de um lado pro outro no palco usando máscaras que parecem ter saído de um filme de terror. Mas para os “maggots” uma apresentação do Slipknot significa tirar energia não sei de onde para aproveitar cada música de um setlist repleto de músicas pesadíssimas. Exceção feita apenas para umas duas músicas um pouco mais lentas.



Antes mesmo de começar esse show eu já estava com dor de cabeça, dor no pescoço e com a voz avariada. Mas nada me impediu de pular e vibrar com músicas como “Liberate”, “Everything Ends” e “Surfacing”, que encerrou o show e ainda teve o “truque” da bateria de Joey Jordison em que a mesma é elevada em uma plataforma, inclinada para frente e depois retorna ao seu lugar. Só depois de tudo encerrado é que o cansaço bateu de vez. Estávamos os três esgotados, mas totalmente satisfeitos com um sábado extremamente agitado. Um sábado que viu a passarela do samba na capital paulista se transformar na mais autêntica fúria metal.