quinta-feira, 4 de abril de 2013

Lollapalooza Brasil 2013


Lollapalooza 2013: poucas novidades, várias certezas e uma decepção




E lá se foi a segunda edição do Lollapalooza Brasil. Foram três dias de muito rock, um pouco de rap e mais um tanto de música eletrônica no Jockey Clube de São Paulo. Depois de ter marcado presença no primeiro dia do evento do ano passado (a atração principal do dia foi o Foo Fighters), este ano minha verba destinada a eventos culturais estava pra lá de escassa. Por isso, o que me restou foi acompanhar o festival pela televisão e com apoio da internet. O que eu vi no Lollapalooza deste ano foi um festival com poucas novidades, várias certezas e uma decepção. Deixem-me explicar esta avaliação por partes.

Há poucos dias do início do evento, fiz meu guia particular anotando numa folha de papel os horários dos shows que gostaria de ver através da transmissão de um canal de tv fechada. Mesmo com este “guia” em mãos, de repente poderia acontecer de eu assistir despretensiosamente a apresentação de alguma banda e me surpreender. Mas isso não aconteceu. Eu até tentei. Parei pra ver agumas das várias bandas ainda desconhecidas do grande público brasileiro mas que tem dentro da crescente cena “indie” sua meia dúzia de fãs. Infelizmente, pra mim não rolou.

A única excessão talvez tenha sido a participação dos dois projetos paralelos de Maynard James Keenan, vocalista da banda de metal alternativo (e estranho) Tool. Ambas, A Perfet Circle, no sábado, e Puscifer, no domingo, mostraram um som muito competente. A primeira mais pesada e a segunda mais viajante, mas ambas tecnicamente perfeitas. Como esses projetos existem há anos, não podemos chamar necessariamente de novidades. Mas digamos que foi a única surpresa agradável, já que eu tinha ouvido e visto muito pouco ou nada das duas bandas até então.


Vamos às certezas. De volta ao guia que mencionei lá no começo do texto, era um total de nove bandas que eu havia me proposto a assistir ao vivo com toda a atenção possível. A maratona começaria na sexta à noite com o show do The Killers. Não poderia começar melhor. Esta banda que, para alguns críticos, caiu em descrédito por não ter se tornado tão grande quanto prometia no início da carreira, mostrou que em cima do palco podem fazer um excelente show. Como bem lembrou um dos apresentadores do canal Multishow pouco antes do início da apresentração, o The Killers tem, no mínimo, um single de sucesso em cada um de seus quatro álbuns já lançados. Uma banda com esse arsenal em mãos não teria como decepcionar. E assim foi. Abrindo com um dos seus primeiros hits “Mr. Brightside”, passando pela nova e já favorita entre os fãs,“Runaways” e encerrando com a apoteótica “All These Things That I’ve Done”, o The Killers encerrou a primeira noite do Lollapalooza colocando a barra lá no alto. Caberia às bandas do dia seguinte tentarem atingir o mesmo nível.

De acordo com a minha listinha, o segundo dia de festival me daria a oportunidade de ver Franz Ferdinand, Queens of The Stone Age e The Black Keys, para fechar a noite. Com sorte, eu conseguiria ver também o blueseiro Gary Clark Jr. E eu tive sorte. Eu escrevi aqui no blog sobre este jovem guitarrista americano alguns meses atrás. Falei que o cara era uma revelação da música norte-americana e que tinha chapado completamente no som que ele é capaz de fazer. Artista ainda em fase de afirmação, Gary tocaria no palco alternativo do festival, cujos shows não seriam transmitidos pela tv. Para minha surpresa, no final do show do The Killers, no dia anterior, foi anunciado que um outro canal transmitiria os shows do palco alternativo. Bingo! Às 15 horas e 30 minutos do sábado, Gary Clark Jr. entrou em cena e, durante uma hora, desfilou seus solos, sua voz simples, mas certeira, e sua postura de blues-man rebelde que não estava muito a fim de conversa com o público. Sensacional!


Tive uma hora para recuperar o fôlego e em seguida veio o Franz Ferdinand. Essa banda escocesa que adora vir ao Brasil (seis vezes no total) deve lançar disco novo este ano e por isso seu setlist foi intercalado entre músicas novas e velhas conhecidas dos fãs do grupo. Isso talvez tenha prejudicado um pouco o ritmo da apresentação mas não deixou de ser um bom show, pra variar.

Colado no show do Franz Ferdinand veio aquele que, pra mim, foi um dos melhores, se não o melhor show do festival: Queens of the Stone Age. Se você procura por rock de verdade, daquele sujo, pesado, mas ainda assim muito bom tecnicamente, é só assistir a performance da banda liderada pelo gênio Josh Homme. Assim como o FF, o Queens está prestes a lançar um novo trabalho, mas diferentemente dos britânicos, resolveram “jogar pra torcida” e mandaram apenas uma faixa nova. A excelente “My God is the Sun”. No mais, a plateia insandecida, abrindo rodas de mosh sempre que a intensidade das canções pedia, foi agraciada com as famosas pérolas do QOTSA como “The Lost Art Of Keeping a Secret”, “No One Knows”, “Go With the Flow”e “Little Sister”. Para encerrar de forma catártica, executaram “A Song For the Dead”, uma das músicas mais pesadas e empolgantes que eu já ouvi na minha vida. Não foi à toa que bati cabeça freneticamente, mesmo no conforto do sofá da sala.


Depois dos góticos do A Perfect Circle (já citado no início do texto), chegou a vez da atração principal da noite, The Black Keys. Minha expectativa era enorme para este show. Estava até uniformizado com minha novíssima camiseta da banda. E não deu outra. Showzaço! Não espere dessa dupla americana um espetáculo circense ou interação constante com o público. O vocalista e guitarrista Dan Auerbach até se dirigiu a plateia em alguns intervalos entre uma música e outra para agradecer ou pedir para que cantassem com ele, mas o lance da banda mesmo é mandar rock and roll pra galera. Acompanhado pelos dois bons músicos de apoio ou sozinho no palco, o duo de blues-rock tocou por quase uma hora e meia e recheou seu set com canções dos excelentes álbuns “Brothers” e “El Camino”. Para delírio dos presentes, os caras fecharam o show com o grande hit “Lonely Boy”. Há quem diga que, lá no Jockey, a qualidade do som deixou a desejar. Estaria baixo demais. O que eu pude ver de casa foi mais uma grande performance de um grande banda de rock. Fim de papo.




Enfim veio a última etapa da maratona. No lineup do dia me interessavam quatro bandas que, concidentemente, tocariam na ordem da minha preferência. Primeiro veio o Kaiser Chiefs, que eu pude ver ao vivo no Planeta Terra em 2008. Sem Nick Hodgson, baterista, letrista e co-fundador da banda, coube ao vocalista Rick Wilson lançar mão de todo seu repertório de malabarismos com o pedestal do microfone, escalar as laterais do palco, torre de som, enfim, fazer o diabo pra empolgar a galera. E com a ajuda de hits como “Everyday I Love You Less and Less”, “Ruby”, “Oh My God”, entre outros, o Kaiser Chiefs fez um show eletrizante.

Na sequência veio uma banda que tinha não apenas um, mas dois malucos de carteirinha: o vocalista Pelle Almqvist e seu irmão, o guitarrista Nicholaus Arson. Com eles, cada show dos suecos do The Hives é um espetáculo de música com uma boa dose de comédia. O rock de garagem desses caras que sempre se apresentam com traje de gala é praticamente infalível, mas funciona melhor em um ambiente mais intimista. Por isso e pelo fato de grande parte do público estar ali esperando o show do Pearl Jam (que fecharia o festival), o The Hives teve que penar muito pra conquistar a galera. E nisso eles são bons. Com músicas como “Main Offender”, “Hate to Say I Told You So” e o encerramento explosivo com “Tick, Tick, Boom”, eles botaram o Jockey Clube pra pular. Pelle falou em português, foi cumprimentar o pessoal da grade várias vezes, ou seja, fez o que pôde. No fim, valeu a pena. Não foi o melhor, mas foi mais um grande show da carreira do The Hives.


O penúltimo show que eu havia me proposto a ver era o do Planet Hemp. Sim! A banda brasileira que, com o sucesso alcançado nos anos noventa, se tornou ícone do rock brasileiro, retomou as atividades no ano passado e fez seu primeiro show na cidade de São Paulo após dez anos. Mesmo um pouco mais gordinhos (o tempo é inexorável), os MCs Marcelo D2 e B-Negão lideraram uma apresentação cheia de energia como sempre foram os shows do Planet. Rap, rock, samba e ragga. Há espaço para todos esses gêneros no repertório dos cariocas. Quem queria matar saudade, conseguiu. Quem era muito novinho em 1996, 97, viu como era bom o rock nacional naquela época.

Eis que veio a grande decepção. Ao final do show do Planet Hemp a apresentadora do canal Multishow, Luiza Micheletti, entrevistava os vocalistas do grupo e eu falava sozinho: “acaba logo essa entrevista porque vai começar o show do Pearl Jam!”. A entrevista acabou e apresentadora manda uma frase mais ou menos assim: “Encerramos então a transmissão do Lollapalooza Brasil 2013. Infelizmente o Pearl Jam não liberou a transmissão do seu show e por isso vamos ver a reprise do show do rapper Criolo”.

Eu fiquei “de cara”. Corri pro computador para ver se a restrição também atingia a transmissão online. Nada. Tive que me contentar em acompanhar alguns detalhes do show no “tempo real” do site G1. Uma foto do setlist tirada por um fotógrafo do Multishow revelou um repertório que não apresentava nenhuma grande novidade que eu não tivesse visto nos shows da banda em que estive presente em 2005 e 2011.


Obviamente, quem viu a performance dos veteranos do grunge ficou maravilhado. Um show do Pearl Jam é um acontecimento marcante para a toda a vida de qualquer fã. Nem vou entrar no mérito do que causou o veto da transmissão. Ficou um gosto amargo na boca no final de um festival que me proporcionou tantos shows de ótima qualidade. Já estou ansioso para a edição do ano que vem, já confirmada e com datas definidas. Desta vez quero estar lá pelo menos um dia. É melhor eu começar a juntar uma grana desde já.


ET: Dois dias depois da decepção do show que eu não pude ver, o Multishow confirmou que transmitirá a apresentação do Pearl Jam neste sábado dia 6, às 21:30. Ufa!

Fotos: Blog www.popload.com.br, www.terra.com.br






Um comentário:

  1. O show do The Killers tava excepcional! Perfeito!!
    Ano que vem estarei lá novamente! Será que o FF dará o ar da graça??! :) Queria ver RHCP tbm... Agora é só aguardar a confirmação das bandas!!
    Ótimo artigo! Bjão! Bá

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