quarta-feira, 27 de março de 2013

GREEN DAY


Uno!, Dos!, Tré!. A fase mais complicada do Green Day




Há quase sete meses o Green Day dava início ao lançamento de sua trilogia denominada “Uno!”, “Dos!”, “Tré!”. Seria na verdade um álbum triplo, mas que chegaria ao público separadamente, em um intervalo de cinco meses.

O primeiro deles, como o nome claramente já diz, “Uno”, foi lançado em setembro do ano passado e, logo em seguida, teve sua review publicada neste blog. Na minha humilde opinião, avaliei o trabalho como apenas mediano e aquém das expectativas que tinha antes de ouvi-lo. Deixei aberta, porém, a possibilidade de os caras “virarem” o jogo nos álbuns “Dos!” e “Tré!”, que seriam lançados respectivamente em novembro e janeiro.

Pois bem. Quando tive a chance de ouvir “Dos!”, torcendo para que fosse um disco superior ao seu antecessor, mais uma vez me decepcionei. Tanto é que acabei nem escrevendo uma crítica do álbum na época que chegou às lojas. Desanimei. Adiei este texto várias vezes em detrimento de outros temas que me empolgaram mais.


Agora resolvi não adiar mais. Vou falar sobre “Dos!” e “Tré!”. No fim das contas acabou até sendo uma boa porque esse período de lançamento dos novos álbuns do Green Day lamentavelmente foi preenchido por muita turbulência envolvendo os pop-punkers da Califórnia. Ou seja, agora tenho assunto acumulado para tratar por aqui.

Com relação a segunda parte da trilogia, o que posso dizer é que o disco pouco se difere de “Uno”. Há canções que lembram um pouco o Green Day do final dos anos 90 como “Makeout Party”, “Ashley” e “Stray Heart”, primeiro single do cd. Estão presentes também faixas que remetem ao “alter-ego” da banda, Foxboro Hotubs, ou seja, influenciadas por rock sessentista. São os casos de “F*ck Time” (que abre o disco após uma breve introdução) e “Stop When the Red Lights Flash”.

As músicas mais diferenciadas do cd são “Nightlife”, mais uma tentativa de dance rock que já não havia dado certo em “Uno!”, e a balada meio bossa nova que encerra os trabalhos, “Amy”. Como o nome já indica, uma canção em homenagem a cantora Amy Winehouse, morta em 2011.


Numa avaliação geral, “Dos” é um álbum que não empolga muito. Até existem alguns momentos mais agitados, mas ouvindo uma faixa atrás da outra, você fica com a sensação que o disco vai embalar, mas isso nunca acontece. Uma pena.

Para piorar a situação, o vocalista e guitarrista Billie Joe Armostrong, logo no início da turnê da trilogia, ainda em setembro, teve que ser internado em uma clínica de reabilitação, ao que se sabe, por uso abusivo de medicamentos. O fato obviamente destruiu os planos da banda de excursionar para promover os novos discos. Várias datas de shows foram adiadas ou canceladas. Para tentar amenizar esse baita revés, o jeito foi antecipar o lançamento de “Tré!”. O álbum que sairia somente em janeiro deste ano, acabou vendo a luz do dia oficialmente ainda em dezembro do ano passado. O vazamento das músicas do disco na internet também contribuiu para que isso ocorresse.


Com “Tré!” vinha a chance do Green Day fechar bem a trilogia e se recuperar dos tropeços de “Uno!” e “Dos!”. Pois bem. Até que deu certo. Não sei se a ideia da banda era deixar o melhor para o final ou se foi apenas uma coincidência. O fato é que o nível das canções melhorou. As faixas soam com mais pegada que as anteriores. Nada que chegue muito perto do estilo dos primeiros quatro discos dos caras, mas deu pra lembrar bastante dos bons momentos dos álbuns “Nimrod” (1997)  e “Warning” (2000).

As músicas que mais me agradaram foram “8th Avenue”, “Sex, Drugs and Violence”, que conta até com uma participação no vocal do baixista Mike Dirnt, além de “A Little Boy Named Train” e “Amanda”. Essa sequência, na verdade, foi a que elevou o nível do álbum. Todos os integrantes de destacam. Tré Cool desfila algumas viradas de bateria bem interessantes e alguns solos de guitarra de Billie Joe e do membro mais recente do grupo, Jason White,  abrilhantam as canções.

Mas o grande destaque de “Tré!” ficou por conta da música “Dirty Rotten Bastards”. Apesar de longa, cerca de seis minutos de duração, tem a energia que se espera do Green Day. Ela começa meio lenta e parece que vai ser apenas uma balada insossa, Mas logo a bateria acelera e torna a música muito mais interessante que todas as outras do cd. Lá pelas tantas, até um solo de baixo aparece para dar mais qualidade ainda a faixa. Sem medo de errar, posso dizer que é a melhor música de toda a trilogia, que acabou sendo incluída, digamos, naquele que foi mais agradável dos três álbuns.


Se for pra fazer uma avaliação geral de “Uno!”, “Dos!” e “Tré!”, infelizmente digo que foi uma decepção. Foi uma sensação ruim chegar em uma loja, ver esses cds nas prateleiras e não sentir a menor vontade de comprar nenhum deles. Muito diferente do que acontecia até alguns anos atrás, quando eu comprava qualquer álbum do Green Day de olhos fechados.
Passada toda essa tormenta, vamos ver como a banda se sai daqui pra frente. Billie Joe saiu da reabilitação recentemente e os shows adiados já começam a ser reagendados. Inclusive, os caras foram escolhidos para serem um dos headliners do tradicional Reading/Leeds Festival, na Inglaterra, a ser realizado durante o verão europeu.

Deve ser muito difícil para uma banda se manter relevante por tanto tempo. O Green Day começou como uma banda punk underground no final dos anos oitenta, atingiu o auge com seu terceiro álbum “Dookie” (1994), manteve um desempenho apenas mediano durante alguns anos e mais uma vez explodiu em popularidade com “American Idiot” (2004). Eu fico imaginando o que os integrantes da banda ficam pensando cada vez que entram em estúdio para compor um novo trabalho. Devem ficar matutando muito para saber que direção tomar e o que fazer para continuar chamando atenção do público e da mídia. Ou talvez não. Talvez eles estejam apenas preocupados em compor músicas naturalmente sem se preocupar se vão estourar nas paradas. Só perguntando pra eles para saber qual é a verdade.

O fato é que o Green Day de hoje, para mim, deixa a desejar. Com certeza vou continuar de olho na banda. Acompanhei os caras por tantos anos que eu acharia injusto simplesmente desencanar de vez. Fica a expectativa de que possam entrar nos trilhos novamente. Fazendo uma analogia com uma frase típica do meio futebolístico, “ninguém desaprende a jogar bola”. Ou seja, quem nasceu craque, vai continuar craque. O Green Day ainda deve ter alguns anos de carreira pela frente. Por isso, a qualquer momento, podemos ver o grupo competente mais uma vez. Potencial não falta. É aguardar pra ver.




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