Pearl Jam: 20 anos remando contra a maré
Foi mais ou menos no final do ano de 1993 que eu ouvi numa fita cassete
gravada por um amigo o seguinte refrão: “Jeremy spoke in...class today”. Era uma música bem melancólica. O vocalista
passava muita emoção em cada verso. Na parte final, a melancolia dava lugar a
gritos. Guitarras, baixo e bateria, em uníssono com a itensidade do vocal,
alcançaram um volume muito mais alto do que no início da canção. O encerramento
era belíssimo. Uma linha de baixo soando sozinha, do mesmo modo que havia
iniciado. Pronto, a banda Pearl Jam acabava de ganhar um fã para sempre.
Quando eu ouvi “Jeremy” (a música citada no parágrafo acima) pela
primeira vez, essa banda de Seattle já havia lançado seu primeiro disco cerca
de dois anos antes. Eddie Vedder (vocal), Stone Gossard (guitarra base), Jeff
Ament (baixo), Mike McCready (guitarra solo) e Dave Krusen (bateria) gravaram
em 1991 o álbum “Ten”. O chamado
movimento grunge, na cidade Seattle, já estava em plena ebulição. Bandas como
Soundgraden, Alice In Chains, Screaming Trees e claro, Nirvana, já faziam
sucesso quando o quinteto lançou um álbum que conquistou público e mídia com
canções poderosíssimas como “Even Flow”, “Black”, “Once”, a própria “Jeremy” e
um dos hinos do rock dos anos 90, “Alive”.
Mas alguns expoentes do grunge, dentre os quais, Kurt Cobain, torceram o
nariz para o Pearl Jam. Achavam que o grupo estava apenas se aproveitando da
onda de sucesso para fazer uma grana. Ledo engano. O Pearl Jam tinha raízes
ainda nos anos 80 quando Gossard e Ament tocaram em bandas que ajudaram a criar
o grunge como Green River e Mother Love Bone.
Pouco a pouco todos perceberam que os caras realmente haviam chegado pra
ficar. As letras profundas de Eddie Vedder sensibilizaram muita gente e casavam
perfeitamente com os ótimos instrumentistas. Aliás, logo na primeira turnê, o
baterista Dave Krusen foi substituído por Dave Abbruzzese, que deixou as
performances ao vivo ainda melhores.
A partir daí a banda não parou de crescer. Os hits do álbum de estreia
dominavam a programação das rádios alternativas do mundo inteiro.
Consequentemente, muita coisa que costuma vir no “pacote da fama” passou pelo
caminho do Pearl Jam. O vocalista passou a chamar mais atenção por ser boa
pinta e se transformaram nos queridinhos da MTV, gravando inclusive uma
performance acústica para a emissora.
Obviamente também veio o primeiro videoclipe para a canção já tão falada
nesse texto, “Jeremy”. E não deu outra.
O Pearl Jam ganhou prêmios no MTV Video Music Awards pela obra dirigida por
Mark Pellington, que descrevia exatamente o que falava a letra baseada num fato
verídico: a história de um garoto pré-adolescente que não recebia muita atenção
dos pais, era rejeitado na escola e acabou cometendo suicídio em frente aos
colegas, em plena sala de aula.
Mas foi a partir daí que tudo começou a mudar para a banda de Seattle. O
sucesso começou a incomodar os caras. A excessiva exposição não seduziu
seus integrantes, nem tampouco os
fez arrogantes ou megalomaníacos. Muito
pelo contrário. O Pearl Jam se tornou totalmente avesso à mídia. Não lançaram
mais nenhum clipe para o álbum “Ten” (apenas trechos de apresentações ao vivo e
uma colagem de imagens pessoais da banda foram exibidos como clipes). Também
ficaram extremamente irritados com a quantidade absurda de vezes que a MTV
exibiu o acústico que haviam gravado pouco tempo antes.
Nesse clima mais do que alternativo, em setembro de 93, o grupo lançou
seu segundo álbum. “Vs” conseguiu passar com louvor o temido “teste do segundo
álbum”. Aquele trauma que quase toda banda tem quando atinge um grande sucesso
logo no primeiro tabalho e cria uma
enorme expectativa com relação ao seu sucessor.
Mesmo sem se expor demais, contando com a sua já fiel base de fãs e com
os críticos que reconheciam o valor da banda, “Vs” foi muito bem recebido. E
não era pra menos. Começando com a pancadaria de “Go”, continuando com
“Animal”, as baladas “Daughter” e “Dissident”, até chegar na sensacional
“Rearviewmirror”, o cd era mais uma obra prima de Vedder e companhia.
No ano seguinte, o Pearl Jam seguiu ainda mais engajado a lutar contra o
“sistema”. No auge do sucesso, a banda simplesmente decidiu se recusar a fazer
shows que tivessem venda de ingressos organizada pela empresa Ticketmaster.
Alegando que se tratava de um monopólio e que os preços cobrados pelos
ingressos dos concertos eram abusivos, o grupo tentou utilizar métodos
alternativos para excursionar, entrou na justiça, fez tudo o que pôde. Não deu
muito certo. Acabou sendo um tiro no próprio pé.
Com poucos shows agendados, o Pearl Jam resolveu se dedicar a gravação
de seu terceiro trabalho que ganhou o nome de “Vitalogy”. Foi o último com o
baterista Dave Abbruzzeese, que seria substituído por Jack Irons. Mesmo com
toda a adversidade do momento, as novas canções mais uma vez conquistaram a
todos. “Better Man”, “Corduroy”e “Not For You” foram alguns dos grandes
destaques do álbum.
À margem do “mainstream”, o Pearl Jam seguiu. Musicalmente, os
integrantes sentiram que era hora de experimentar mais, de tentar elaborar mais
suas composições. Os discos “No Code”, de 96 e “Yield”, de 98, causaram pouco
alarde. O segundo ganhou relevância maior porque, depois de seis anos, um novo
videoclipe foi produzido. Uma animação criada pelo desenhista Todd McFarlane,
que contava a história da humanidade mostrando guerras, escravidão, entre
outras atrocidades, foi o pano de fundo para a grande canção “Do The
Evolution”.
Com a chegada do novo milênio, o Pearl Jam não perdeu o ritmo. No ano
2000 saiu o álbum “Binaural”. Foi o primeiro com o baterista Matt Cameron,
ex-Soundgarden, que permanece no posto até hoje. Também neste início de século
os caras se envolveram ainda mais com causas políticas e sociais. As letras de
Eddie Vedder passaram a conter mensagens um pouco mais ácidas contra o governo
norte-americano da época.
Já no quesito meio-ambiente, o Pearl Jam manteve a tradição iniciada em
94 de utilizar apenas papel reciclado nas embalagens de todos os cds lançados.
Até hoje, nenhum álbum da banda chega às lojas na convencional caixinha de
plástico.
Mas foi justamente um grupo que se preocupa tanto com seu público e com as pessoas como um todo que viu o destino lhe pregar uma grande peça. Ainda em 2000, durante sua performance no festival Roskilde, na Dinamarca, um grande tumulto causou a morte de nove pessoas pisoteadas. Foi um enorme baque para os membros da banda que, a partir deste dia fatídico, redobraram o cuidado com a audiência de seus concertos.
Esse cuidado foi visto de perto por nós brasieliros em 2005, quando
finalmente, após uma espera que parecia interminável, o grupo se apresentou no
país pela primeira vez. Foi um total de cinco shows realizados nas cidades de
Porto Alegre, Curitiba, São Paulo (duas noites) e Rio de Janeiro. Eu estive na
primeira noite em São Paulo e é mais do que óbvio dizer que aquele dia de 2 de
dezembro foi inesquecível.
O show marcava a parte final da turnê do álbum “Riot Act”, lançado três
anos antes. Foi espetacular testemunhar em loco aquilo que até então eu só
havia visto em DVDs ou em raras oportunidades pela televisão. Uma emoção muito
grande tomou conta da banda e da plateia presente, do início ao fim.
Para a alegria de todos os fãs espalhados pelo mundo, de 2005 pra cá, o
Pearl Jam ainda gravou mais dois cds. O auto-entitulado “Pearl Jam”, em 2006 e
o mais recente, “Backspacer”, em 2009. Neste início de 2011, para celebrar os
20 anos de banda , um cd ao vivo (mais um dentre os vários já lançados) chamado
“Live On Ten Legs” acaba de ser lançado. Este registro é mais uma pequena
amostra do que significa o Pearl Jam. Uma amostra do poder de suas performances
ao vivo, da riqueza das letras e da honestidade de cada um dos seus membros
que, por todo esse tempo, vem fazendo o que mais gostam: boa música e remar
contra a maré. Meus parabéns e obrigado, rapazes.
Ah....o Eddie Vedder..... S2
ResponderExcluiruoohooouuuu quero vê-los ao vivo!!!!!!!!!!!!
ResponderExcluirLuv PJ 4ever