quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

BAD BRAINS


Bad Brains: a banda mais caótica do mundo!



 E lá vamos nós de volta aos anos noventa. Onde tudo começou. Afinal de contas, foi nesse época que me tornei o grande fã de música que sou hoje. Assistia MTV religiosamente todos os dias. Especialmente o programa “Fúria Metal”. Sim! Existiu um programa nesta emissora dedicado a música pesada. Bons tempos aqueles.

Algumas bandas tinham sempre o mesmo clipe transmitido no programa. “Albatross”, do Corrosion of Conformity, “Critical Mass”, do Nuclear Assault, “La Migra”, do Brujeria e “Soulcraft”, do Bad Brains. Este último sempre me chamou a atenção. A música era uma espécie de funk rock e os integrantes da banda eram quatro caras negros com dreadlocks até a cintura. Eu sempre ficava curioso pra saber mais sobre os caras, mas naquela época eu mal tinha acesso à internet e estava mais exposto às bandas de maior repercursão no mundo do rock como Metallica, Nirvana ou Sepultura. Assim, o Bad Brains permaneceu no limbo da minha mente.

O tempo foi passando e eu fui me tornando fã de inúmeras bandas de rock dos mais variados estilos. Fui comprando os discos, vídeos, indo a shows, comprando camisetas, etc. Foi vendo ou lendo entrevistas das bandas que eu gostava que comecei a reparar que algumas delas citavam o Bad Brains como influência e às vezes até faziam covers deles. Aos poucos minha curiosidade ia sendo cada vez mais aguçada para descobrir mais sobre esse grupo obscuro. 

Dentre os vários estilos de rock que me agradam um deles certamente é o punk rock. Portanto, nada mais natural, para mim pelo menos, que eu começasse a “cavar” cada vez mais fundo para saber quais eram os precursores de bandas que eu curti muito na minha adolescência (e ainda curto, na verdade) como The Offspring e Green Day. Foi assim que finalmente as peças começaram a se encaixar. Cavando bem fundo descobri que o Bad Brains é uma das bandas pioneiras do hardcore punk. Vertente deste estilo que surgiu nos Estados Unidos no final dos anos setenta e cujo auge durou não mais do que cinco anos.




Todos os membros das bandas que fizeram parte desta cena eram categóricos ao afirmar que o Bad Brains era especial. Que eram quatro caras que sempre que subiam no palco faziam shows memoráveis, com carisma e energia de sobra. Não deu outra. Resolvi conhecer de verdade do que se tratava de fato esse “tal” Bad Brains.

O grupo formado em 1977, na cidade de Washington DC, por H.R (vocais), Dr. Know (guitarra), Darryl Jenifer (baixo) e Earl Hudson (bateria) era, antes mesmo de adotarem o nome atual, uma banda de jazz fusion chamada Mind Power. Mas em pouco tempo mudaram sua direção musical e passaram a compor canções totalmente ao estilo hardcore.

Provavelmente o trunfo do Bad Brains está justamente no fato de terem tocado um outro estilo musical no início da carreira. Como uma banda de jazz, todos os músicos desenvolveram uma técnica apurada para manusear seus instrumentos. Sendo assim, quando enveredaram para o hardcore, onde a destreza musical não era a maior virtude de grande parte das bandas, o Bad Brains se destacou. Além de ter a mesma “pegada” caótica de um Black Flag ou um Minor Threat em cima do palco, eles esbanjavam categoria em suas composições. Dr. Know conseguia mesclar a agressividade dos riffs típicos de hardcore com solos intricados de um guitarrista muito competente.




Meu primeiro contato direto com a música dos caras foi através da coletânea “Banned in DC: Bad Brains’ Greatest Riffs”, que eu tive a chance de comprar fora do Brasil, já que, por ser uma banda underground, seus discos nunca foram lançados por uma gravadora daqui. Fiquei boquiaberto. Bastou soarem os primeiros acordes de “Pay To Cum” para que eu entendesse enfim porque todo mundo havia falado tão bem deste grupo.

O cd passeia pela primeira fase da formação clássica, desde o álbum de estreia “Bad Brains”, lançado em 1982, até “Quickness” (álbum que contem a faixa “Soulcraft” do clipe que eu via na MTV), de 1989. Nesta coleção dá pra ver muito bem como a banda foi se transformando com o passar dos anos. O punk “direto ao ponto” dos primeiros discos foram dando lugar ao metal, funk metal, soul e reggae. Este último mais do que justificado, já que os integrantes do grupo são todos seguidores da religião Rastafari. Vem justamente daí grande parte da temática das letras escritas por H.R., que vão desde a crítica à violência policial, racismo, chegando a temas mais brandos como a espiritualidade.

Pelo fato de serem ácidos críticos da sociedade americana, o Bad Brains chegou a ser informalmente banido de sua própria cidade natal, no fim dos anos setenta. Nenhuma casa de shows da região queria abrigar um show de uma banda cujas letras tocavam na ferida de uma sociedade em que predominava um moralismo e conservadorismo extremos.




Pouco tempo depois de ter adquirido a coletânea “Banned in DC”, já totalmente fissurado por esses punk-rastafaris, comprei pela internet o Dvd “Live at CBGB’s”. Se trata de um show gravado na véspera do Natal de 1982, como o título já diz, na lendária casa de shows novaiorquina CBGB’s. O grande templo do punk na cidade. Na verdade o local era um “moquifo”. Um cenário ideal para a performance agressiva do Bad Brains diante de seus fãs que constantemente subiam no palco, tentavam tomar o microfone de H.R para cantar junto com o ídolo músicas espetaculares como “Big Takeover”, “I”, “Right Brigade”, “How Low Can a Punk Get”, entre tantas outras. Toda aquela “confusão” era tudo o que um show de punk rock que se preze deve ter. Totalmente recomendável para os fãs do gênero.

Após o lançamento de “Quickness”, o grupo passou por várias mudanças em sua formação e lançou mais três trabalhos que não atingiram o mesmo patamar da primeira fase. Até que, em 1998, a formação clássica se reuniu e gravou mais três discos, sendo o último, intitulado “Into the Future”, lançado ano passado.

Para minha imensa alegria, o Bad Brains fará sua primeira visita ao Brasil neste ano de 2013. No dia 5 de abril, os caras vão tocar em um bar em São Paulo. Isso mesmo. Um bar! Dá pra vocês terem uma noção do caos que será promovido neste dia? Nesse momento vem a pergunta: Fábio, você vai estar lá? Farei tudo que estiver ao meu alcance para que eu esteja. Se eu realmente estiver presente neste show, tenho plena certeza que não serei o mesmo depois deste dia.





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