Cavalera Conspiracy: irmãos reunidos pelo metal
O mundo do rock é cheio o de casos de parentes que fazem ou fizeram
parte de alguma grande banda. Desde os irmãos Wilson, dos Beach Boys, nos anos
60, passando pelos irmãos Eddie e Alex, doVan Halen, nos anos 70 e 80, até
chegar aqui no Brasil com Arnaldo e Sergio Baptista dos Mutantes, que viveram seu
ápice também nos anos 70.
Mas eu escolhi falar nesse texto de um caso que do qual estou
familiarizado. Preferi falar de uma banda brasileira que, por conta de seu
estilo, não tem tantos fãs por aqui como a Legião Urbana ou os Paralamas do Sucesso, mas
é certamente muito respeitada por sua trajetória de sucesso no mundo todo.
Estou me referindo ao Sepultura.
Essa banda de heavy metal foi criada em Belo Horizonte por Max Cavalera (vocal
e guitarra) e seu irmão mais novo, Igor Cavalera (bateria), no ano de 1984, quando
ainda eram adolescentes. O grupo começou a se destacar na cena metal brasileira
ainda nos seus primeiros anos de atividade e, no final dos anos 80, surgiu a
oportunidade de assinarem contrato com uma gravadora americana especializada no
estilo.
O sucesso do grupo foi crescendo e, após lançarem sucessivos álbuns que agradaram
à muitos fãs e à exigente crítica do gênero, adquiriram um status de super
banda. Discos como “Arise”, “Chaos AD” e, principalmente, “Roots”, quase sempre
figuram em listas dos melhores da história do metal.
Infelizmente um clichê do mundo do rock acabou afetando de forma fatal a
continuidade do Sepultura. Em meados dos anos 90, no auge da banda, Igor,
Andreas Kisser (guitarra solo) e Paulo Jr. (baixo) se mostraram insatisfeitos
com o fato de a empresária da banda, Gloria Cavalera, dar mais destaque para o
marido Max. Exato, a empresária da banda era mulher de um de seus membros. As
duas partes não chegaram num acordo e o principal compositor e letrista do
Sepultura se separou dos seus amigos em dezembro de 96.
A partir daí, os irmãos Cavalera ficaram cerca de dez anos praticamente
sem se falar. No máximo rolaram algumas ligações para desejar feliz Natal. Esse
silêncio só foi quebrado em 2006, poucos meses depois de Igor sair do Sepultura, sem dar muitas explicações. Foi através de um telefonema que a velha chama foi
reacendida. Em seguida, Igor fez uma participação num show do Soulfly (banda
formada por Max após sua saída do Sepultura). Na época, Igor já estava envolvido com seu projeto de música eletrônica
chamado Mixhell, enquanto Max seguia com o Soulfly, banda que na realidade
nunca atingiu um grande sucesso no mundo do metal. Os irmãos resolveram então
retormar de onde haviam parado. Para alegria de seus antigos fãs, surgia o
Cavalera Conspiracy.
Menos de dois anos depois de retomarem o contato, os Cavalera entraram
em estúdio para gravar o primeiro trabalho deste novo projeto. “Inflikted” foi
o nome escolhido para o álbum que contou com 11 faixas. Todas elas muito
pesadas e direto ao ponto. Uma verdadeira bomba para ouvidos mais sensíveis. É um disco um tanto quanto diferente dos últimos álbuns do Sepultura e também do Soulfly. Em ambos os casos, a maior característica
era a união do peso às batidas tribais e alguns outros experimentalismos.
Contando com o excelente guitarrista Marc Rizzo (companheiro de Max no Soulfly)
e com o baixista Johny Chow, o CC se reúne sempre que há uma brecha na agenda de Max e Igor e reailza turnês principalmente nos Estados Unidos e na Europa. Felizmente, em sua curta história, os caras já passaram três vezes pelo Brasil.
Na primeira vez, tocaram na noite do metal do festival SWU de 2010. Na segunda, no
ano seguinte, abriram para o Iron Maiden, em São Paulo, e mostraram para o público
algumas músicas novas que fariam parte do novo álbum, “Blunt Force Trauma”, que
seria lançado alguns dias depois.
Em outubro do ano passado, os caras se apresentaram no Brasil pela
terceira vez, em um único show em São Paulo. Lamentavalmente, não pude
comparecer, mas quem esteve lá disse que o "bicho pegou" e que os
irmãos mandaram o mais puro metal por mais de uma hora, sem dó nem piedade.
É verdade que a banda ainda não alcançou o mesmo nível de aceitação dos
tempos áureos do Sepultura. Aliás, nem eles, nem o Soulfly, nem o prórpio
Sepultura atual, com sua formação totalmente desfigurada e sem a identidade
original que conquistou tanta gente. O fato é que todos saíram perdendo com a
confusão ocorrida há quase 20 anos. O metal perdeu um representante espetacular
e ganhou dois de nível médio (com vantagem para o Soulfly, na minha opinião).
Especulações eternas dão conta de que a formação original da banda
brasileira de maior sucesso no mundo ainda poderá se reunir. Em algumas
oportunidades negociações chegaram a ser abertas para que o retorno se
concretizasse, mas nunca foram adiante.
Não sabemos se o CC vai se tornar grande um dia, mas pelo menos um erro
grave foi consertado. Max e Igor estão juntos novamente. O próprio baterista
chegou a dizer recentemente que esta banda é o mais próximo de uma reunião do
Sepultura que as pessoas verão. Não sei se isso realmente será confirmado. De
qualquer forma, da minha parte, e creio que da parte de muitos fãs de metal, a
alma do metal brasileiro continua viva através do Cavalera Conspiracy.
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