segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

letlive.

Letlive: deixe o novo viver


Eu demorei alguns anos para começar a expandir meus horizontes musicais. Comecei a ouvir rock e rap, meus gêneros favoritos, por volta de 1993 e montei uma espécie de “grupo dos intocáveis”. Um grupo de não muito mais do que dez bandas/artistas que eu escutava sem parar. E ai de quem ousasse falar mal de algum deles.

O problema era que eu me mantinha de certa forma congelado no tempo. Não ouvia nada muito novo, nada “desconhecido”, nem nada do passado. Só depois de amadurecer, sob todos os aspectos, que fui aprendendo a escutar outros tipos de bandas, outras vertentes do rock, além dos grupos que os influenciaram e que foram infuenciados pelo meu “grupo dos intocáveis”. Foi assim que eu fui mais fundo no punk rock, no indie rock, no funk e na soul music. Eu imagino o quanto eu perderia se não tivesse adquirido o hábito de constantemente buscar novas bandas. Foi assim que descobri...sei lá...uns quarenta porcento das bandas que ouço hoje regularmente.

Outra forma muito efetiva de descobrir novidades musicais é através da colaboração dos meus parceiros de gosto musical. Aquela galera que você sabe que sistematicamente vai te indicar um som novo que muito provavelmente você vai gostar e vai acabar comprando cd, indo ao show, etc.


 Pois foi justamente através da indicação de um desses parceiros que eu fiquei sabendo da existência de uma banda chamada letlive. (se escreve assim mesmo, com letra minúscula e um ponto no final). Formado na cidade de Los Angeles em 2002, esse é um grupo relativamente dificil de encaixar em um estilo. A princípio seria uma banda de metal. Mas é mais do que isso. Metal moderno? Avant gard metal? Progressivo? Hardcore metal? Metal experimental? Eu diria que um pouco de cada. E é justamente aí que está o diferencial dos caras. Aliás, aí e nas caóticas performances ao vivo.

O vocalista do letlive. é o malucão Jason Butler. Se dando entrevistas ele parece ser um rapaz bem calmo e articulado para expor suas ideias, quando sobe no palco vira um bicho. Se joga no chão, na plateia, se pendura em qualquer lugar possível, enfim, um show a parte. Mas nada disso é forçado. A atitude de Jason no palco reflete a intensidade do som e das letras do letlive. que geralmente tratam sobre o comportamento humano em muitas de suas variáveis: sexo, religião, preconceito e por aí afora.

O grupo já passou por algumas mudanças em sua formação desde o lançamento de seu primeiro disco, “Speak Like You Talk”, em 2005, mas hoje conta, além de Jason, com os guitarristas Jean Nascimento (sim, brasileiro) e Jeff Sahyoun, o baixista Ryan Jay Johnson e o baterista Loniel Robinson.


Cinco anos depois do primeiro álbum a banda começou a chamar a atenção da mídia especializada com a chegada de “Fake History”. Este disco colocou o letlive. no rol das “promessas do novo metal”. Fez parte de várias listas do tipo “preste atenção nesta banda”. E não era pra menos, “Fake History é um excelente trabalho. Consistente e agressivo em quase sua totalidade, não fossem os momentos certeiros em que incluem em algumas músicas passagens melódicas, arranjos mais cadenciados e até mesmo uma participação de um vocal feminino (na faixa “Muther”). Mas veja bem. Essa mistura não serve pra adocicar o som dos caras. Nem pense em ouvir “Fake History” achando que vai encontrar um metal acessível estilo Linkin Park. Os berros de Jason e as guitarras competentes de Jean e Jeff dão exatamente o que uma banda de metal precisa. Adicione a isso a “cozinha” afiadíssima que acaba dando um toque especial às composições do letlive..

Difícil destacar três ou quatro faixas que me agradam mais neste LP. Talvez eu fique com “Le Prologue’’, “The Sick, Sick, 6,8 Billion”, “Casino Columbus”, “Muther” e “H. Ledger”. Opa! Citei mais de quatro músicas. Pois é. Eu avisei que o disco é excelente.

Já sob o status de banda estabelecida no cenário alternativo do metal, o letlive. partiu para a gravação de seu terceiro trabalho de estúdio. Em julho de 2013 lançaram “The Blackest Beautiful”. Eu já ouvi o álbum umas três vezes para poder fazer uma análise minimamente justa. O que pude observar logo de cara é que não é uma mera cópia do disco anterior. Nitidamente os caras tentaram variar um pouco em relação a “Fake History”. Não dá pra dizer que experimentaram mais porque seu antecessor já foi bem experimental. Mas, no geral, as composições desaceleraram um pouco, sem perder a característica caótica, típica desses californianos.



A primeira faixa, “Banshee (Ghost Fame)”, tem uma pegada meio hip hop no início, mas mais adiante alterna passagens melódicas e gritos ensandecidos. “Empty Elvis” e "The Priest and Used Cars" também são bem pesadas e facilmente entrariam no cd anterior. Já "White America's Beautiful Black Market" me chamou a atenção pela letra na ponte: “we get sick so they can feel better”, cantada por Jason de forma desesperada. Um dos pontos altos do disco.

Três canções específicas, "That Fear Fever", "Virgin Dirt" e "Younger" marcam a desaceleração das composições do grupo que eu citei anteriormente. A segunda está proxima de ser uma balada e se destaca por um trecho da letra que diz “love is just a cancer and sex is just a pill”. A última beira o pop rock. Talvez seja o único momento meio sem graça do álbum.

A última faixa é “27 Club”. Extremamente agressiva, é uma das melhores músicas do repertório do letlive. e já vinha sendo executada nos shows da banda antes do lançamento de “The Blackest...”.  Não poderiam ter escolhido um encerramento mais adequado.


Apesar de me fazer lembrar nitidamente de outras bandas que possam tê-los influenciado como Deftones e Ill Nino, dá pra perceber que o letlive. tem uma identidade própria. Musicalmente falando e pela sua surpreendente postura ao vivo, como já afirmei aqui. Eu fiz questão de dividir com alguns amigos uns trechos de shows dos caras e a reação quase sempre foi a mesma: um espanto inicial e logo em seguida a constatação de um som frenético e bem “in your face” mesmo.

Por enquanto o grupo continua com o status de sensação do underground. Não acredito que isso deva mudar muito nos próximos anos. Não consigo imaginar o som do letlive. excessivamente exposto pelas grandes mídias. Nunca vi um clipe sequer deles em uma MTV ou Vh1 da vida. Por mim, tudo bem. Eu já consegui descobrir que a banda existe. Quem ainda não havia descoberto, pode ter acabado de fazê-lo por aqui ou vai acabar descobrindo cedo ou tarde através de algum garimpeiro da boa música como eu e meus parceiros. Boa sorte!
  


Clique aqui para ver o letlive. ao vivo no Orion Festival - Junho de 2012

Clique aqui para ver entrevista com Jason Butler

Clique aqui para ouvir o álbum "Fake History" na íntegra

Clique aqui para ouvir o álbum "The Blackest Beautiful" na íntegra

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

TOP 5

Top 5 – Os melhores álbuns do rock nacional


Este top 5 é uma espécie de homenagem ao rock brasileiro. Nesse momento muito complicado para o estilo, em que a maioria das bandas que se destacam tem uma qualidade, no mínimo, questionável, resolvi fazer uma pesquisa e conversar com uma galera pra que pudéssemos decidir quais são os cinco melhores álbuns de rock nacional.
É claro que seria mais justo fazer uma lista com dez discos, talvez até 20, porque são muitos os bons trabalhos feitos por aqui nos últimos 30, 40 anos. Mas resolvi manter o padrão desta seção e ficar realmente nos cinco.
Como nos anos 80 tivemos um “boom” de grandes bandas e grandes álbuns, nada mais natural que elas predominassem na lista final. Infelizmente, muita coisa boa dos anos 70 e 90 e até dos anos 2000 ficaram de fora.
Como sempre, fiquem à vontade pra discordar dos nossos eleitos. Mas, no fim das contas, é justamente pra criar uma certa polêmica que servem essas listas, certo?









 1º “Dois” – Legião Urbana – 1986
A Legião Urbana, para muitos,  foi a maior banda de rock do Brasil. “Dois”, como o nome já indica, é o segundo álbum do grupo que já havia feito um ótimo trabalho no disco de estreia um ano antes e se firmou como destaque do cenário do rock brasileiro com este LP reacheado de belas cançoes com letras inspiradíssimas escritas pelo ótimo compositor Renato Russo. Musicalmente, a Legião fugiu um pouco do punk rock do disco anterior e passou a usar um pouco mais de violões, o que deixou as músicas menos agressivas mas não menos contundentes em função das mensagens que passavam. Faixas como “Quase Sem Querer”, “Tempo Perdido”, “Eduardo e Mônica” e “Índios” catapultaram “Dois” para ser o disco mais bem sucedido da carreira da banda, vendendo mais de 1,2 milhão de cópias.









 2º “O Passo do Lui” – Os Paralamas do Sucesso – 1984
Foi também com seu segundo álbum lançado que os Paralamas do Sucesso explodiram de vez e se tornaram uma das melhores bandas de rock do país. Das dez faixas de “O Passo do Lui”, nada menos do que sete se tornaram hits radiofônicos e até hoje são lembradas mesmo por aqueles que não são grandes fãs do grupo liderado por Herbert Vianna. Chamados de última hora pra tocar no Rock In Rio I, os Paralamas tiveram a oportunidade de tocar para milhares de pessoas e fizeram um show memorável baseando seu setlist justamente no então recém lançado álbum. O público foi ao delírio com músicas como “Óculos”, “Meu Erro”, “Romance Ideal” e “Ska”. Segundo lugar mais do que merecido.









3º “Nós Vamos Invadir Sua Praia” – Ultraje à Rigor – 1984
O Ultraje à Rigor desde o início deixou muito clara a intenção de suas composições: rock básico e divertido. “Nós Vamos Invadir...” foi o álbum de estreia da banda e mostrou exatamente essas características. As letras divertidas de Roger Moreira casavam perfeitamente com músicas simples, porém muito bem executadas. O baixo inconfundível de Maurício e os solos de Carlinhos eram marcas registradas de todas as canções. Fica difícil destacar apenas três ou quatro faixas deste LP. Acreditem. Todas chegaram a fazer sucesso e tocar nas rádios FM na época. Vou colocar aqui aquelas que a maioria de vocês certamente vai lembrar: a faixa título,  é claro, “Ciúme”, “Inútil” e “Eu Me Amo”. Lembraram, né?










 4º “Cabeça Dinossauro” – Titãs – 1986
Eu me lembro de ter a versão em fita cassete deste disco. Eu e minha irmã ouviamos sem parar embora ficássemos escandalizados com algumas letras extremamente agressivas ou simplesmente esquisitas de autoria de Arnaldo Antunes, Paulo Miklos, Sergio Britto e até do guitarrista Toni Belotto. Depois de lançar dois discos “inofensivos”, o terceiro álbum dos Titãs veio realmente pra chocar, o que os deixou na época com a fama de “banda do mal”. Ao mesmo tempo serviu para que se tornassem conhecidos em todo o país. Faixas como “AA UU”, “Polícia”, “Homem Primata” e “Bichos Escrotos” talvez sejam os maiores destaques desta que é mais uma das pérolas do rock brazuka!










 5º “Gita” – Raul Seixas – 1974
Não é à toa que surgiu o bordão “Toca Raul”, utilizado em muitos daqueles shows  de barzinhos que muitos de nós já foram pelo menos uma vez na vida. Para muitos críticos especializados e fãs de rock em geral, Raul Seixas é o pai do rock brasileiro. O cantor e compositor que já vinha “botando pra quebrar”  desde 63, marcou época com este álbum que incluía canções marcantes como “Medo da Chuva”, “Sociedade Alternativa” e a própria faixa-título. Contando com a parceria do escritor Paulo Coelho, as letras de “Gita” (e várias outras no decorrer de sua carreira) abordavam a temática do misticismo e também da crítica contra o regime político da época. É certamente um trabalho marcante que fecha em alto nível o Top 5 deste mês.




Como eu disse na introdução, excelentes discos não conseguiram uma vaga nesta lista. Alguns deles chegaram muito perto de entrar. Por isso, nada mais justo que destacar todas as bandas que foram votadas por aqueles que contribuíram para esta eleição: O Rappa, Raimundos, Ira, Camisa de Vênus, Cazuza, Barão Vermelho, Chico Science e Nação Zumbi, Los Hermanos, Pitty, Skank, Lulu Santos, Jota Quest e Velhas Virgens.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

MONSTERS OF ROCK

Monsters of Rock: Arena Anhembi em fúria!


No meu post anterior eu deixei bem clara minha insatisfação com a edição deste ano do Rock In Rio. Apesar de algumas justificativas que cheguei a citar naquele texto, o festival da cidade maravilhosa deixou a desejar no quesito atrações. Além disso, eu já tinha em mente o line up de um outro festival que seria realizado cerca de um mês depois na cidade de São Paulo. O Monsters of Rock.

Este festival essencialmente voltado ao heavy metal teve sua origem na cidade de Donington, na Inglaterra, nos anos 80, e hoje se chama Download Festival. No Brasil foi realizado pela primeira vez em 1994 e havia tido sua última edição em 1998. Seu retorno ao nosso calendário de shows neste ano de 2013 deixou os amantes da música pesada em polvorosa. E não era pra menos.

Inteligentemente, a organização do evento resolveu dividir o festival em dois dias. O primeiro privilegiou a vertente mais moderna do metal, incluindo bandas tidas como da “nova geração” do estilo e que não possuem muito mais do que 20 anos de estrada. O segundo dia foi voltado para o chamado “hard rock” incluindo bandas que fizeram sucesso nos anos 70 e principlamente anos 80 como Aerosmith, Whitesnake, Ratt, entre outras.

Naturalmente, minha geração, que passou a adolescência e início de juventude durante os anos 90 e começo dos 2000, se viu atraída pela programação do primeiro dia do Monsters. Nomes consagrados do chamado “nu metal” como Slipknot, Korn e Limp Bizkit, acompanhados de representantes do metalcore ou hardcore metal como Killswitch Engage, Hatebreed e Gojira, se apresentaram para um público de cerca de 30 mil pessoas. Preciso dizer que eu era uma delas? É por isso que este post é dedicado totalmente ao primeiro dia do evento.


 Eu, meu parceiro de longa data em shows, Alex e seu sobrinho Rafael (devidamente encaminhado musicalmente)  chegamos na Arena Anhembi (sambódromo) por volta de 13 horas, embaixo de um sol impiedoso. Pouco depois entrou no palco a banda brasileira Projeto 46, vencedora de um concurso promovido pela organização do Monsters. Acompanhei os caras meio de longe e o que deu pra perceber foi que eles mandaram um metalcore competente que combinava muito bem com as outras atrações do dia. Em seguida foi a vez dos franceses do Gojira. Esse é um grupo que, ano após ano, vem conquistando seu espaço no cenário do heavy metal com uma pegada mais progressiva, ou seja, com músicas mais longas e arranjos intrincados.

Mas foi por volta das três e meia que o festival começou pra valer. O público, que a essa hora já era de razoável pra bom, estava com energia estocada de sobra e pronto pra explodir. E o Hatebreed foi o estopim que faltava. A banda liderada pelo carismático vocalista Jamie Jasta, despejou seu hardcore, sem dó, por quase 45 minutos. O cover de Refuse/Resist, dos ícones brasileiros do metal, Sepultura (que contou com a participação do guitarrista Andreas Kisser), elevou ainda mais o nível de agressividade da apresentação. A última música executada pelos caras resumiu bem o que foi o show: “Destroy Everything”. Eu ousaria dizer que, por conta deste início bombástico, boa parte do público não conseguiu chegar ao fim do festival com o gás que gostaria.


Coube então ao Killswitch Engage a árdua tarefa de tocar depois da avalanche promovida pelo Hatebreed. Vale lembrar que o Killswitch, ao lado do Slipknot, era o show que eu mais aguardava. Mas as coisas não começaram muito bem para eles. Inexplicavemente, a qualidade do som que foi um dos pontos altos da apresentação anterior deixou os metaleiros de Boston na mão durante as duas primeiras músicas do set dos caras.


Claramente isso afetou a animação da galera que foi embalando aos poucos, muito em função da garra e da competência dos integrantes da banda. O vocalista Jesse Leach, recém retornando ao grupo após dez anos de ausência, se mostrou em grande forma, tanto para cantar quanto para se dirigir ao público em momentos estratégicos. Além de Jesse, não posso deixar de destacar a qualidade absurda do batera Justin Folley, o fôlego interminável do baixista Mike D’Antonio (ele já havia tocado com o Hatebreed substituindo o baixista original, que se machucou antes de vir ao Brasil)  e, claro, a insanidade do guitarrista e líder da banda, Adam Dutkiewicz, que se comportava no palco como se estivesse numa micareta. Nem tentem entender o porque. Eu já desisti. No fim das contas, a apresentação agradou aos fãs e até o sol, que se pôs ao final da performance, deve ter se abalado com o peso do som do KsE.


 Após alguns minutos preciosos para recuperar o fôlego, estava pronto para a apresentação do Limp Bizkit. A banda se consolidou como uma das mais “pop” do nu metal, e até por isso quase sempre foi amada e odiada pela crítica e pelos fãs do estilo. Portanto este show era uma certa incógnita para mim. Eu era um grande fã dos caras no final dos anos 90. Cheguei até a usar a música “Nookie” como trilha sonora da minha caixa postal do celular (na época que eu tinha tempo pra personalizar minha caixa postal). Mas, com o tempo, o grupo caiu no ostracismo. Lançou apenas dois LPs e um EP em um período de dez anos! Mas não é que a popularidade deles continua forte por aqui? Se a performance do Hatebreed havia sido a mais agressiva do dia até então, Fred Durst e cia. fizeram a mais concorrida. Percebi muita molecada e muitas meninas tentando rumar em direção ao palco para acompanhar o show de perto.

O fato é que Fred Durst não deixou de ser o competente frontman do auge do Limp Bizkit. Usando uma camisa estampada com uma foto do saudoso rapper brasileiro Sabotage (morto em 2003),  ele teve a galera na mão durante cerca de uma hora. Não posso deixar de mencionar também o traje surreal do excelente guitarrista Wes Borland que parecia um misto de robô com extraterrestre.


Em boa parte do show passei sufoco espremido entre os cotovelos pontudos de uma garota que estava com medo de ser tragada pela multidão e o “mosh pit” que insistia em se abrir logo à minha frente. Tanto insistiu que eu resolvi fazer parte dele durante as músicas finais. Enfim, uma boa apresentação, com direito a covers dos hinos do rock “Smells Like Teen Spirit”, do Nirvana, e “Killing In the Name”, do Rage Against The Machine. Me surpreendi positivamente.

Eis que veio o único show “meia boca” do dia. Pelo menos para mim. O Korn é outra banda que eu ouvi bastante alguns anos atrás e ainda ouço de vez em quando. Tenho três álbuns dos caras no meu ipod, inclusive. Mas são álbuns lançados em 1994, 98 e 99. Em 2002 fui a um show deles em um local fechado e posso dizer, sem exageros, que foi um dos melhores que fui até hoje.


 Após a saída de um de seus guitarristas, Brian “Head” Welch, em 2005, e, logo em seguida, do baterista David Silveria, o grupo não conseguiu mais lançar discos de qualidade indiscutível como na primeira metade da carreira. A banda recrutou o ótimo baterista Ray Luzier e vem flertando constantemente com a música eletrônica no afã de de renovar sua sonoridade e se tornar verdadeiramente relevante de novo. Head voltou este ano e já gravou um novo álbum com os caras, mas não está rolando. Isso ficou muito claro na apresentação do Monsters. Depois de abrir com força total executando a fantástica “Blind” e emendando com “Falling Away From Me”, o Korn cometeu um erro amador para uma banda experiente em festivais. Tocou quatro canções seguidas de sua fase mais recente. Canções que muitos dos que estavam ali no Anhembi desconheciam. Obviamente os ânimos esfriaram.

Somente o cover de “Roots Bloody Roots”, do Sepultura, contando mais uma vez com participação do “arroz de festa” Andreas Kisser, acompanhado pelo vocalista Derrick Green, fez a galera acordar. Eu acordei junto e assim fiquei assim até o final da apresentação com as ótimas e antigas “Got The Life” e “Freak On a Leash”, provavelmente o maior hit do Korn. Enfim. Sendo bem sincero, foi um show não mais do que nota 6.


Finalmente chegava a hora da grande atração da noite. Da banda que tem uma base de fãs tremendamente fiel, conhecidos como “maggots” e que encheram o Anhembi trajados com camisteas das mais variadas estampas. Isso sem falar dos fãs ainda mais ardorosos que, mesmo com o sol ardendo sem piedade, fizeram questão de se vestir com a indumentária semelhante a dos seus ídolos: macacão e máscara.

É impressionante. Se você já viu um show do Slipknot, ainda que pela televisão, sabe que se trata de uma experiência, no mínimo, intrigante. Alguns se assustam e acham um absurdo aquele bando de caras pulando de um lado pro outro no palco usando máscaras que parecem ter saído de um filme de terror. Mas para os “maggots” uma apresentação do Slipknot significa tirar energia não sei de onde para aproveitar cada música de um setlist repleto de músicas pesadíssimas. Exceção feita apenas para umas duas músicas um pouco mais lentas.



Antes mesmo de começar esse show eu já estava com dor de cabeça, dor no pescoço e com a voz avariada. Mas nada me impediu de pular e vibrar com músicas como “Liberate”, “Everything Ends” e “Surfacing”, que encerrou o show e ainda teve o “truque” da bateria de Joey Jordison em que a mesma é elevada em uma plataforma, inclinada para frente e depois retorna ao seu lugar. Só depois de tudo encerrado é que o cansaço bateu de vez. Estávamos os três esgotados, mas totalmente satisfeitos com um sábado extremamente agitado. Um sábado que viu a passarela do samba na capital paulista se transformar na mais autêntica fúria metal.










segunda-feira, 30 de setembro de 2013

ROCK IN RIO V

Rock in Rio 2013. Salvo pelo metal!




Que o Rock In Rio não faz jus ao seu nome todo mundo sabe. Desde a segunda edição, há mais de 20 anos, isso já ficou bem claro quando o line up teve representantes típicos da música pop como George Michael e New Kids On the Block. Na verdade, nem vou discutir muito essa questão. O “dono da bola”, Roberto Medina, percebeu logo de cara que, se o festival re restringisse ao rock, fatalmente não alcançaria seu objetivo de atrair todo tipo de público para o evento e ingressos esgotados todos os dias gerando um lucro bem polpudo. Se ele está certo ou não, essa é uma outra discussão. Medina não é um Perry Farrell da vida. Nunca teve banda. Ele certamente deve gostar de música mas, antes disso, ele é um empresário. Portanto, tudo isso faz sentido.

Com o passar dos anos, como vocês bem sabem, o Rock in Rio foi se distanciando do seu lugar de origem. Várias edições foram realizadas em Lisboa e Madrid e, nas poucas edições nacionais, a programaçaão continuava recheada de aritstas dos mais variados estilos. Mas a noite do metal (ou apenas rock, se você preferir) sempre teve seu lugar cativo. E não é para menos. Em todos os RIR ocorridos no Brasil, os shows mais marcantes sempre foram os de rock. Foi assim na primeira edição em 85 com Queen e AC/DC, em 91 com o Guns N’ Roses, em 2001 com Iron Maiden e Foo Fighters, e ano retrasado com Metallica e Slipknot. E não é que isso se repetiu este ano?

Na minha humilde opinião, a programação do Rock In Rio deste ano foi decepcionante. Mesmo tirando as atrações que realmente não combinam com meu gosto musical, sobrou pouca coisa que realmente me interessasse. A princípio, os únicos shows que eu fazia questão de ver do início ao fim eram, em ordem cronológica, Alicia Keys, The Offspring, Muse, Metallica, Slayer e Iron Maiden. Convenhamos, muito pouco para um festival que teve mais de 80 apresentações nos palcos principais, Mundo e Sunset.


 Desses shows que eu mencionei, de fato gostei de todos. Mas quem me conhece já pode imaginar que considerei Metallica e Iron Maiden como os grandes destaques. As duas bandas são verdadeiros ícones do heavy metal. Mesmo quem não é fã do estilo sabe que não é nada incomum ver por aí homens, garotos e mulheres envergando com orgulho sua camiseta (surrada ou mais nova) de uma ou de outra. Metallica e Iron Maiden são o protótipo do metaleiro comum. São sinônimos de um gênero musical que tem em seus fãs um verdadeiro exército que segue seus ídolos de forma fiel e duradoura. Portanto, não é de se espantar que o show desses dois grupos tenham sido de excelente qualidade.

A banda norte-americana liderada pela dupla James Hetfield (guitarra e vocal) e Lars Ulrich (bateria) se apresentou na segunda semana do festival e logo de cara mandou “Hit the Lights”. Mais adiante, seguiu surpreendendo boa parte dos seus fãs incluindo no setlist faixas não muito comuns como “Holier Than Thou” e “...And Justice For All”. O encerramento já tradicional ficou por conta de “Seek And Destroy”, música de maior destaque do primeiro álbum dos caras que completa trinta anos agora em 2013.

Coube aos ainda mais veteranos do metal, os britânicos do Iron Maiden, encerrar o Rock In Rio 5. Cerca de deza anos mais velhos que os integrantes do Metallica, os integrantes do Maiden mais uma vez esbanjaram energia em cima do palco. É desnecessário dizer que o vocalista Bruce Dickinson  teve o público em suas mãos durante toda a perfomance. Inteligentemente, a banda capitaneada pelo baixista e letrista Steve Harris mesclou seu repertório com canções mais corriqueiras nos shows do grupo como “The Number of the Beast”, “2 Minutes to Midnight” e “Fear of The Dark, com canções não menos clássicas mas menos executadas como “The Prisoner”, Phantom of the Opera” e  “Afraid to Shoot Strangers”. Mais uma apresentação impecável da “Donzela de Ferro” para satisfação total das cerca de 80 mil pessoas presentes na Cidade do Rock.


 Eu não posso ignorar que outros shows fizeram sucesso durante o festival. Os fãs de Bruce Springsteen (que fez um show com quase três horas e duração) e de Bon Jovi (que eu fiz questão de não assistir um segundo sequer) provavelmente não tiveram nada do que reclamar. O mesmo se aplica a Justin Timberlake e John Mayer, por exemplo.

O fato é que, talvez com excessão a Springsteen, por tudo que foi comentado pela imprensa ou pelo que dei uma sapeada aqui e ali, nenhum outro show fora os dois que comentei com mais entusiasmo neste texto foi capaz de marcar a história do Rock In Rio. Faço questão de ressaltar mais uma vez que não acredito que o Rock In Rio devesse ser um festival estritamente de rock. É justamente por isso que hoje há espaço para o indie rock, através do Lollapalooza, para o metal, com o retorno do Monsters of Rock, e assim por diante.

De qualquer forma, só pelo tanto de vezes que ouvi de várias pessoas no meu trabalho a seguinte pergunta: “nossa...você viu o show do Metallica ontem?”, ficou mais do que evidente que o metal salvou o Rock in Rio 2013.







quarta-feira, 18 de setembro de 2013

TOP 5

Top 5 – Os maiores produtores da história

Para gravar um álbum, o artista não pode simplesmente entrar em um estúdio, pedir para um cara apertar “rec” e começar a cantar ou tocar seus instrumentos. Existe todo um processo por trás do registro de uma canção e, consequentemente, de um disco completo.

Cada banda, cantor, etc, tem uma identidade musical. Ou pelo menos deveria buscar uma. É preciso que seu trabalho soe de maneira coesa, com um arranjo bem equilibrado e com cada parte em seu lugar. Acontece que nem sempre esse artista tem condições de tomar essas decisões. Principalmente se ele for um iniciante. É aí que entra o produtor musical.

Este profissional tem o dom (além de ter estudado pra isso, é claro) de moldar o som de uma banda. Fazer com que ela soe mais suave ou mais pesada, mais polida ou mais “suja”. Este é um trabalho que demanda muita sensibilidade e entrosamento entre produtor e produzido. 

Muitas vezes surge uma química entre essas partes que acabam produzindo obras maravilhosas. Em algumas oportunidades, acredite, mesmo que os dois lados não se entendam, é possível que saia um bom trabalho. No pior dos cenários, produtor e artista entram em choque total, tudo tem que ser jogado no lixo e o jeito é começar do zero com uma outra pessoa na mesa de gravação.

Este mês eu mergulhei neste ambiente e, mais uma vez pesquisando aqui e ali, encontrei os maiores produtores da história. Muitos deles eu já conhecia e imaginava que estariam entre os melhores. Vários  outros nomes apareceram em todas as listas observadas, mas creio que os eleitos não deixam dúvidas. Entre eles está o meu favorito, que inclusive me inspira a, quem sabe um dia, enveredar por este caminho. Veja então quem são, na opinião deste humilde blogueiro, os cinco maiores produtores musicais de todos os tempos.








1º George Martin
O grande vencedor deste top 5 é um caso típico de química ideal entre produtor e artista. O inglês George Martin simplesmente é o produtor por trás de todos os álbuns dos Beatles. Considerado o maior fenômeno musical da história, o grupo dos quatro rapazes de Liverpool teve como grande marca a espetacular evolução musical que apresentaram no decorrer de seus quase 10 anos de atividade. A cada disco lançado os Fab Four iam progredindo a olhos vistos. Não se conhece nenhuma banda que progrediu tanto tecnicamente e liricamente como os Beatles. E George Martin sempre esteve por trás, ás vezes compondo arranjos de cordas ou mesmo de melodias vocais.  Ano após ano a banda lançava uma obra prima, sempre com o toque mágico do produtor. O único percalço desta parceria foi o álbum “Let It Be”, composto em meio a uma crise interna que viria a decretar o fim do grupo e por isso teve que ser re-produzido por um outro integrante desta lista que vocês verão logo mais. Os destaques do seu porfolio eu diria que são “Sgt Pepper Lonely Heart’s Club Band”, “The White Album” e “Abbey Road”. Ah...como se tudo isso não fosse o suficiente, Martin ainda produziu artistas como Jeff Beck, Cheap Trick e alguns discos do The Wings, banda de Paul McCartney pós Beatles.









2º Rick Rubin
Na introdução desta lista eu falei que meu produtor musical favorito havia conseguido um lugar entre os cinco eleitos. Bem. Aqui está ele: Rick Rubin. Este americano de 49 anos começou a se envolver com música no iníco dos anos 80 tocando em bandas de punk rock.  Apesar de ser amante de música e ter vasto conhecimento no assunto, seu talento como músico era limitado. Por isso acabou se tornando DJ. Assim como o rock, o hip hop também era sua paixão e por isso montou uma gravadora, a Def Jam  Records, para trabalhar com grupos de rap e, consequentemente, produzi-los. Foi assim que Rick iniciou uma carreira espetacular como produtor. O mais incrível foi como ele passeou entre os mais variados estilos, sempre com a mesma competência. Dentro do rock trabalhou com nomes como AC-DC, Red Hot Chili Peppers e Metallica. Já no hip hop, foi notabilizado por trabalhos espetaculares com os Beastie Boys, Run-DMC e Jay-Z. Mas fora desses gêneros, Rick Rubin contribuiu com o retorno triunfante do mestre do country Johnny Cash, nos anos 2000. Também nesta época, produziu as garotas country do Dixie Chicks e, mais recentemente, trabalhou com uma “tal de Adele”, que nem fez muito sucesso com seu álbum “21”. É incrível! Praticamente tudo que o cara põe a mão faz sucesso. Com seu jeitão zen, trabalhando muito mais a parte emocional do que técnica dos aritstas, Rick é, sem dúvida, um dos maiores produtores do mundo.











3º Quincy Jones
Produtor, maestro, arranjador, compositor de trilhas sonoras, produtor de televisão e trompetista. Querem mais? Ok. Ele produziu o álbum mais vendido de todos os tempos: “Thriller”, de Michael Jackson. Esse é Quincy Delight Jones Jr., natural de Chicago, nos Estados Unidos. Um gênio da música contemporânea que acompanhou grande parte da carreira de um dos maiores artistas de todos os tempos. Antes de “Thriller”, Quincy Jones já havia produzido o álbum anterior de Michael, a obra-prima soul/disco/funk “Off The Wall”, lançado em 1979, e ainda produziria o sucessor do álbum multi-platinado,  o também excelente “Bad”, de 1987. Além da extremamente bem sucedida parceria com o rei do pop, Jones trabalhou com artistas do quilate de Aretha Franklin, Frank Sinatra e Donna Summer. E como se tudo isso ainda não fosse suficiente, Jones foi o produtor/arranjador do clássico “We Are The World”, uma música composta para o álbum “USA For Africa”, de 1984, criado para arrecadar fundos para a população da Etiópia. A canção foi gravada por uma verdadeira constelação de artistas como Michael Jackson, Lionel Ritchie (compositores da canção), Stevie Wonder, Ray Charles, Bruce Springsteen, Bob Dylan e muitos outros. Deem uma olhada no clipe dessa música e vocês verão a “fera” regendo os cantores. Uma lenda e fim de papo.










4º Phil Spector
Esse é, sem dúvida, o mais polêmico dos cinco produtores eleitos neste top 5. Um dos pioneiros do som das “girl-groups” dos anos 60, este novaiorquino do Bronx foi responsável pela produção de vários hits durante os anos 60. Um dos seus grandes méritos foi ter criado o “Wall of Sound” ou “Parede de Som”, uma técnica de produção usada até hoje por muitos profissionais do ramo que consiste em gravar vários instrumentos em uníssono, como guitarras ou um naipe de metais, ajudando assim a encorpar mais o arranjo de uma canção. Mas, provavelmente, seu trabalho mais relevante tenha sido a re-produção do álbum “Let It Be” dos Beatles (aquele que eu citei no trecho sobre George Martin). O som do álbum ficou fantástico! Puro, orgânico. Experimente ouvir todo o disco com fones de ouvido e talvez você tenha a impressão de estar ouvindo uma apresentação ao vivo. Nos anos 70 Spector seguiu trabalhando com grandes artistas como John Lennon e George Harrison em seus trabalhos solo. Durante os anos 80 e 90 caiu no ostracismo e praticamente se afastou da música. Só apareceu com destaque produzindo em 1980 o álbum “End Of The Century” dos Ramones. O pior viria muitos anos depois, exatamente no dia 3 de fevereiro de 2003, quando Phil Spector assassinou a atriz Lana Clarkson em sua mansão em Long Beach. O produtor acabou sendo condenado e preso em 2009 e passou a cumprir desde então uma pena de dezenove anos.











5º Dr. Dre
Chegamos ao final deste top 5 com um representante mais do que digno da música atual. O californiano Andre Young se destacou pela primeira vez na música quando era um dos membros do N.W.A., grupo pioneiro de “gangsta rap” que fez grande sucesso entre o final dos anos 80 e início dos 90. Após o fim do N.W.A., Dr. Dre saiu em carreira solo e se tornou ainda mais bem sucedido. Ao lado de seus eternos parceiros, Snoop Dogg e o saudoso Tupac Shakur, ele era um dos pilares que formavam o que poderíamos chamar de “santíssima trindade” do rap americano e mundial durante boa parte dos anos 90. Paralelamente a sua carreira como performer, Dre começou a desenvolver suas habilidades como produtor musical. Aos poucos ele foi deixando de lado o desejo de estar o tempo todo em cima do palco e passou a se dedicar a composição de batidas incríveis a serem utilizadas pelos novos talentos que ele mesmo identificava no rap norte-americano. Artistas multi-platinados como Eminem e 50 Cent foram descobertos por Dre e tiveram vários de seus álbuns produzidos por ele. No meio do rap e do R&B e até da música pop, Andre é tido como um gênio. Além dos já citados, o cara trabalhou com artistas gabaritados como Jay-Z, Nas, Alicia Keys e Gwen Stefani . Apesar do enorme sucesso como produtor, ele ainda faz alguns shows e deve lançar em breve, o longamente aguardado álbum intitulado “Detox”. É esperar pra ver o que vem por aí.



Alguns nomes de produtores citados várias vezes nas listas pesquisadas ficaram de fora da lista final, mas merecem uma menção honrosa.  Da “velha-guarda” temos: Sam Philips (Elvis Presley), Brian Eno (U2), Lee “Scratch” Perry (Bob Marley), George Clinton (Funkadelic), Mutt Lange (AC/DC), Bob Ezrin (Kiss) e Prince. Entre os “novatos” temos:  Butch Vig (Nirvana ), Trent Reznor (Nine Inch Nails), Timbaland (Lil Wayne),  Mark Ronson (Amy Winehouse), Kanye West (Jay-Z), Babyface (Madonna), The Neptunes (Alicia Keys), Danger Mouse (The Black Keys) e Nigel Godrich (Radiohead), só para citar alguns.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Arctic Monkeys

Arctic Monkeys: evolução musical tem limite?


E lá vou eu para mais um review de um álbum da banda Arctic Monkeys. Este é o terceiro álbum deste grupo britânico que eu humildemente analiso. O primeiro foi o surpreendente “Humbug” de 2009. Depois veio o excessivamente leve “Suck it And See”, de 2011. Agora é a vez de “AM” lançado no último dia 9 de setembro.

O título do trabalho é simples, mas o “approach” de Alex Turner e seus parceiros é pra lá de ousado. “AM” é puro groove. Isso mesmo. O próprio vocalista da banda declarou em entrevista à revista inglesa New Musical Express há alguns meses que o novo trabalho do Arctic Monkeys teria uma pegada hip hop (!!!). Acho que ele quis dizer que seria uma coleção de canções feitas para dançar. Isso quer dizer então que é um disco divertido e agradável de se ouvir? Hmmm...mais ou menos.

O começo é arrebatador. A faixa inicial e primeiro single lançado, “Do I Wanna Know”, simplesmente não sai da minha cabeça. Um riff esperto que casa perfeitamente com uma linha vocal igualmente criativa permea toda a faixa. É uma canção que tem seu peso, mas também  bem “dançável". Logo em seguida vem uma música que já é “velha conhecida” dos fãs do Arctic Monkeys. “R U Mine” foi lançada inicialmente em 2012 como um single especial para o “Record Store Day”. Fez tanto sucesso que acabou sendo incluída no novo trabalho. Essa foi outra canção que me conquistou logo de cara com seu riff pegajoso e refrão com vocalização em falsete, técnica que vem sendo cada vez mais utilizada nas composições da banda.


A terceira faixa, “One For the Road”, tem um ritmo mais cadenciado que as anteriores e é seguida por “Arabella”, onde as guitarras pesadas aparecem novamente e fazem todo mundo que a ouve pela primeira vez lembrar automaticamente de “War Pigs”, do Black Sabbath. Sim! Black Sabbath! Há quem diga que ficou uma imitação descarada. Ok. Lembra muito! Mas, no geral, a música ficou boa e é, sem dúvida, um dos destaques do LP.

A partir daí , “AM” começa uma derrocada que eu não esperava. O rock básico “I Want it All” talvez seja o último realmente bom momento do álbum. Mais uma vez vemos os vocais em falsete - lembrando inclusive Dan Auerbach do The Black Keys em “Everlasting Light” - que dão um toque interessante a canção. Mas na sequência vem as baladas “No. 1 Party Anthem” e “Mad Sounds”. Ambas fracas, não chegam aos pés da belíssima “Cornerstone”, do álbum  “Humbug”.

Das últimas quatro canções, a única que se salva é “Why’d You Only Call Me When You’re High?”. Bem divertida e certamente a mais dançante de “AM” (vale a pena conferir o divertido videoclipe feito para a faixa). As outras três são tentativas exageradas dos caras de fazer um som diferente de tudo que haviam feito até então. Nem a participação de Josh Homme (do Queens of The Stone Age) em “Knee Socks” ajuda a tornar esta parte final do álbum mais interessante. Em todas elas a pegada “groovy” continua, mas a banda esbarra na falta de uma maior experiência na área do “dance rock”. Por isso o que se vê são canções “inofensivas” que carecem da energia que sobra em grupos especialistas no estilo como Bloc Party e Franz Ferdinand.


Depois de uma teimosia que durou alguns anos, eu finalmente parei de comparar os álbuns mais recentes do Arctic Monkeys com seu primeiro e ultra-bem-sucedido disco de estreia  - “Whatever Peaple Say I Am, That’s What I’m Not”- . Eu entendo que em 2006 eles mal haviam saído da adolescência e, a partir dali, eles certamente amadureceriam e evoluiriam musicalmente, como aconteceu com o Silverchair, por exemplo, e tem acontecido com eles mesmos. Mas talvez até evolução musical tenha limite. Na ânsia por compor canções, digamos, diferenciadas, o grupo acabou criando um álbum que tem um grande “gap de qualidade”. É possível encontrar em “AM” músicas fantásticas que já se encaixam perfeitamente com o resto do repertório dessa “jovem banda veterana” e, ao mesmo tempo, músicas que se perdem no afã de dar um passo adiante, musicalmente falando.

Apesar da minha decepção com talvez quarenta porcento deste LP, uma vantagem ele tem em relação ao seu desanimado antecessor. Eu não deverei pensar duas vezes antes adquiri-lo assim que chegar às lojas por aqui. Isso é pra vocês terem uma ideia do tamanho da disparidade entre suas músicas. Eu gostei deste disco quase tanto quanto desgostei. Se é que isso é possível. A verdade é que eu sou fã do Arctic Monkeys o suficiente para que eu ainda suporte mais alguns álbuns irregulares nos próximos anos.