terça-feira, 10 de junho de 2014

FAR FROM ALASKA

A estreia arrebatadora do Far From Alaska  


Não é comum, mas às vezes acontece e é muito bom. Sabe quando você compra um disco? Opa! Quase ninguém mais compra discos, mas enfim. Sabe quando você conhece uma banda nova e fica meio que obcecado por, tipo, 96 por cento das músicas? Normalmente (pelo menos pra mim) quando a gente fica sabendo de uma banda, cantor, cantora, etc, é através de uma única música, talvez umas duas. Daí aos poucos você vai ouvindo o resto do repertório, acostumando e tal. Mas e quando você pira num disco inteiro?

Eu acho que não chega a dez o número de vezes que esse tipo de fenômeno havia ocorrido comigo até então. Posso citar como exemplos o primeiro álbum do Slipknot (auto intitulado), o “Toxicity”, do System of a Down ou, mais recentemente, o “Diamond Eyes”, do Deftones. Mas agora aconteceu de novo. De uma forma um pouco diferente das bandas que eu citei, mas eu diria que a sensação foi a mesma.

É raro hoje em dia você assistir um programa de videoclipes na televisão e, mais raro ainda, você ver um clipe que preste. Numa dessas escassas oportunidades eu vi, meio que sem querer, um clipe gravado em um local que parecia um deserto. A música começava com o vocal de uma garota cantando apenas em cima de breves paletadas, causando aquele clima de suspense, para logo em seguida explodir em um riff muito pesado. Obviamente, assisti o clipe até o final pra ver o nome da música e do artista. Música: “Dino vs. Dino; artista: “Far From Alaska”.


Como é de praxe quando descubro uma novidade musical, anotei o nome da banda para que, na primeira chance que eu tivesse, iniciar uma busca frenética na internet pra saber de onde eram, como eram as outras músicas, se já tinham algum trabalho gravado, tudo. Foi aí que o tal fenômeno obssessivo começou a acontecer. Fui ouvindo música atrás de música dessa banda que vim a descobrir que era brasileira e do Rio Grande do Norte. Fiquei “chapado”!

Formado por Emmily Barreto (vocais), Cris Botarelli (sintetizador e efeitos), Rafael Brasil (guitarra), Lauro Kisch (bateria) e Edu Filgueira (baixo), o Far From Alaska despeja riffs pesados e criativos em cada uma das quinze faixas do seu disco de estreia “Mode Human”. A bateria forte e precisa dá mais peso ainda a um som que me parece ter influências variadas como Refused, Audioslave, QOTSA, Wolfmother e talvez algo de Muse.

Toda essa base instrumental prepara o terreno para a voz de Emmily Barreto brilhar à vontade. Do melódico (que segundo um colega, lembra Adele) ao “sujo” (remetendo a Janis Joplin), o vocal de Emmily é facilmente um dos destaques do FFA.


O debut, “Mode Human”, lançado de forma digital no mês passado, abre com “Thievery”, que começa com um riff que lembra um pouco “Cochise”, do Audioslave (que, por sua vez, muitos dizem que lembra “Whole Lotta Love”, do Led Zeppelin), mas depois se torna absolutamente original, com um arranjo bem dinâmico e um excelente refrão. Ótima abertura para o disco.

A segunda faixa é “Deadman”. Pesada como a anterior e ainda evidencia o ótimo trabalho de efeitos e backing vocal de Cris Botarelli. Logo em seguida vem a já citada “Dino vs. Dino”. Nessa altura você já pode pensar: “puta disco que essa molecada gravou!”. Faixa após faixa, “Mode Human” segue sem perder o ritmo. Algumas músicas pendem para o blues, como nos casos de “Another Round” e “Rolling Dice”. Outras abusam um pouco mais do eletrônico como “About Knives”, “Tiny Eyes” e a vinheta “Mode Human Pt. 1”.  Ainda sobra espaço para uma guitarra meio country, cheia de slide em “Politiks” e um teclado bem anos 60 (The Doors, quem sabe?) na faixa “Mama”.

O mais interessante é que mesmo com essa extensa gama de influências, o álbum é bem coeso. Não soa como uma banda pretensiosa que tenta fazer um disco grandioso para chamar atenção. O trabalho tem uma identidade e, ao mesmo tempo em que as músicas apresentam arranjos intrincados, no fim das contas você pode enxergar um rock and roll direto e objetivo. Muito disso provavelmente se deve a mão certeira do produtor do disco, o guitarrista e vocalista da banda Vespas Mandarinas, Chuck Hypolitho.


Já que “Mode Human” ainda não foi lançado fisicamente de forma oficial (por enquanto a bolachinha pode ser adquirida nos shows do grupo), permaneço na ansiedade de ter em mãos o disco dessa galera potiguar. Vale lembrar que o primeiro registro do FFA, o EP “Stereochrome”, de 2012, só foi disponibilizado através de um hot site da banda. Ou seja, nada físico mesmo até aqui.

Com letras cantadas em inglês, fico imaginando qual deve ser o foco do FFA. O reconhecimento que se pode ter aqui no Brasil com o estilo de som que fazem talvez seja um tanto restrito. Seria muita utopia então dizer que o destino do grupo é rodar o mundo mostrando seu som? Eu diria que não. Afinal de contas, não consigo parar de ouvir esse som. E quando finalmente tiver essa peça arcaica chamada cd aqui em casa, vai demorar pra sair do meu aparelho de som.


PS: O tal “deserto” do clipe de “Dino vs. Dino” era na verdade a região das Dunas do Rosado, em Porto do Mangue, próximo ao municípo Areia Branca, no RN. Complexo de vira-lata é fogo...






Um comentário:

  1. Dunas do Rosado. Não fica em Natal na verdade, é no interior do estado, próximo a uma cidade quente pra burro chamada Mossoró.

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