O incrível Nine Inch Nails e o Lollapalooza 2014
Finalmente!
Eu vi Nine Inch Nails ao vivo! Depois de usar muita força do pensamento e conseguir
cancelar o show dos caras aqui em 2008 por estar sem grana para o ingresso, dessa
vez não teve erro. Óbvio que isso é uma piada. Aquilo foi uma tremenda sorte
mesmo.
A verdade é
que o cancelamento do show de Trent Reznor e companhia, seis anos atrás, se deveu
a falta de estrutura do local do evento para suportar a parafernália de luzes e
efeitos usada nas apresentações do Nine Inch Nails. Outra hipótese que costuma
ser levantada quando um show confirmado é cancelado repentinamente é a baixa
venda de ingressos. Sou suspeito para falar, mas não creio que esse tenha sido o
caso. As apresentações de Santiago e Buenos Aires rolaram normalmente na época
e com bom público presente.
Mas o que
interessa agora é o que aconteceu de fato. E no último sábado, dia 5 de abril,
por volta das oito da noite, subiu no palco Onix do festival Lollapalooza a
veterana banda de rock industrial Nine Inch Nails.
No início
desta turnê, os shows do grupo sempre se iniciavam com uma pegada mais eletrônica através da música “Copy of
A”, do novo álbum, “Hesitation Marks”, lançado no ano passado. Mas recentemente
descobri que houve uma reformulação no setlist e a abertura passou a variar
bastante. Por aqui a escolhida foi a instrumental “Pinion”, emendada com a
porrada “Wish”, ambas do ótimo EP “Broken” (1990). Ou seja, um início
fulminante!
Como era de
se esperar, o jogo de luzes no palco, mesmo nao sendo exatamente o mesmo
utilizado em shows lá fora, surpreendeu logo de cara. Em outros textos que
escrevi sobre essa banda sempre chamei atenção para a experiência audio-visual
que um show dos caras proporciona. E quem viu a performance desse sábado pôde
comprovar isso. A cada uma das músicas executadas, fossem elas agressivas como
“March of Pigs” e “Survivalism” ou mais “climáticas” como “Me I’m Not” e “Beside
You in Time”, a sincronia desses elementos era perfeita. O ponto alto desse
quesito se deu durante “The Great Destroyer”, do álbum “Year Zero” (1997). Foi
uma verdadeira avalanche surreal de sons e luzes que deixou o público num
estado misto de perplexidade, empolgação e hipnose. Memorável.
O único deslize
desse show, na minha opinião, ocorreu no meio do setlist, quando a banda
emendou uma sequência de músicas mais calmas, todas boas, diga-se, mas que deu
uma esfriada no ânimo dos fãs ansiosos por petardos que acabaram ficando de
fora como “Terrible Lie” ou “1,000.000”.
O peso
característico do som do NIN voltou na parte final da apresentação com a
execução de “The Hand That Feeds” e a clássica “Head Like a Hole”. Como eu
pulei nessa hora! Para encerrar, como de praxe, veio a fantástica “Hurt”, cantada
com toda emoção e entrega por parte de Trent Reznor. É admirável ver que ele
ainda se sinta assim mesmo a música tendo sido lançada há vinte anos.
De qualquer
forma, foi um grande show que deixou mais do que clara a competência de cada
integrante da banda. Destaque para o baterista monstruoso Ilan Rubin, que esbanjou toda sua técnica
e agressividade que casam perfeitamente com as composições do NIN. Já o
líder/gênio Trent Reznor, mesmo interagindo poucas vezes com o público (o que
não é novidade para quem o conhece) mostrou uma presença de palco incrível e
comprovou porque é, facilmente, um dos maiores frontmen do rock dos últimos
trinta anos.
Agora, sim!
Me sinto aliviado e satisfeito por ter presenciado in loco a performance de
um grupo que, com uma pausa aqui e ali, está há 25 anos nos proporcionando
música da melhor qualidade. Mais um excelente show para guardar na memória.
O festival:
O dia não
havia começado muito bem em função da dificuldade para adentrar o local do
evento. Do lado de fora do autódromo de Interlagos (nova casa do festival, realizado
até ano passado no Jockey Clube) me deparei com uma multidão de pessoas subindo
e descendo uma longa avenida que margeava o autódromo. Sem ninguém para me dar
um informação decente, apelei. Me infiltrei numa fila qualquer que estava
andando bem e torci para que meu destino final fosse dentro do festival.
Felizmente foi.
Uma vez lá
dentro, me assustei com o tamanho do lugar. Já com um mapa em mãos (aí a
organização mandou bem), olhei a minha volta e pensei: vai ser um longo dia.
Ciente das
dimensões do local, resolvi adotar uma tática mais conservadora. Não arrisquei
perambular muito de um palco pro outro porque a distância era muito grande.
Acabei me atendo mesmo aos shows que eu já havia decidido previamente que
gostaria de ver.
O primeiro
deles, no palco Skol, foi o show solo do vocalista do The Strokes, Julian
Casablancas. O que eu pude concluir é que realmente é muito bom quando um
membro de uma banda grande tenha um projeto paralelo, solo, ou qualquer coisa
que o valha. Digo isso porque é nessas empreitadas que um artista dá vazão a
qualquer ideia artística que venha a ter. E é isso que acontece com Julian.
Simpático com a galera e acompanhado pela banda de apoio, The Voidz, o cara
mandou alguns sons do seu primeiro álbum solo (“Phrazes for the Young”) e
também do novo trabalho (ainda sem título) que deve ser lançado este ano. A
galera só despertou pra valer mesmo durante a execução de duas músicas do
Strokes, Ize of the World e Take it or leave it. No geral, foi um show meio
estranho, mas interessante. Não me arrependi de estar ali.
Cerca de
uma hora e meia depois do show de Julian, fui dar uma sacada na apresentação da
menina prodígio, Lorde. Gostei do que vi. Batidas eletrônicas, teclado e bateria
convencional formam a base perfeita para que a neozelandesa de apenas 17 anos possa
brilhar com seu ótimo vocal e presença de palco marcante. Só não vi até o final
porque teria que percorrer uma enorme distância até chegar no palco onde aconteceria
o show do Nine Inch Nails.
Foi nessa
hora que passei por um grande perrengue. Uma aglomeração de pessoas, inexplicável
para o tamanho do local do festival, se formou no caminho que me levaria até o
palco Onix. Depois de muito empurra-empurra, garotinhas histéricas querendo
passar a qualquer custo onde não havia espaço nenhum e um singelo banho de
cerveja, consegui me ver livre.
Após o show
do NIN (devidamente descrito no início deste texto) já não queria mais saber de
muvuca. Tinha algo bem melhor pra fazer naquele momento. Preferi relaxar
durante todo o show do Muse. Que sábia decisão! Certamente foi um dos pontos
mais altos do dia.
Finalizado
o último show, era hora de ir embora. Uma rua interditada e informações
desencontradas me fizeram andar por cerca de uma hora nas redondezas do
autódromo de Interlagos até achar o local onde o ônibus da minha excursão
estava estacionado. Uma aventura que definitivamente eu não gostaria de
repetir. Conclusão: o próximo Lollapalooza deveria voltar urgentemente para o
Jockey Clube!
No dia
seguinte, apenas duas bandas me intreressaram. No conforto do meu lar,
acompanhei os shows de Soundgarden e New Order. Ambos muito bons! O primeiro,
pesado, rock na veia. O outro, rock eletro dos anos 80, divertido, dançante.
Esse foi o
meu Lollapalooza 2014. Depois de ter ficado de fora em 2013, fiquei feliz de
voltar. Vou guardar ótimas recordações deste festival. Só faço votos que os
erros não se repitam em 2015.
Parece que, finalmente, aprendemos a organizar grandes eventos, não é? Parabéns pelo texto.
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