De La Tierra: poder latino a serviço do metal
Eu me lembro de já ter comentado sobre isso em algum post anterior. Em meados dos anos 90 a quase finada MTV era minha principal fonte de descoberta de novas bandas. Nessa época eu já estava vidrado em música e todo o dia assistia o canal, ávido por alguma novidade. Foi nesse período que descobri vários grupos, muitos dos quais sigo até hoje como Machine Head, Slipknot, Biohazard, Deftones, Korn, Limp Bizkit e tantos outros. Um desses “tantos outros” era um grupo de metal argentino chamado A.N.I.M.A.L. Isso mesmo. Uma sigla que significa “Acosados, nuestros indios murieron al lutchar”. Traduzindo: “Molestados, nossos índios morreram lutando”. O vídeo que me fez ter o primeiro contato com os caras foi o da música “Milagro”. Uma paulada com guitarras pesadas, bateria quebrada, refrão contagiante e um vocal muito competente, em espanhol, a cargo de Andrés Gimenez.
A partir de então comecei a ficar de olho
nesta banda. Em uma ida à Galeria do Rock, achei exatamente o cd que tinha a faixa “Milagro”,
cujo título era “Poder Latino”. Acertei em cheio. O disco era muito bom. As
músicas misturavam metal, punk, rap e tinha até um pequeno espaço para a música
folclórica argentina.
Não muito tempo depois, percebi que a MTVnão passava nenhum clipe mais recente do
A.N.I.M.A.L. Também não havia You Tube
para eu seguir os passos da banda. Somente em 2011, em viagem a Buenos Aires,
no quarto do hotel, assistindo um programa de clipe de um canal porteño
qualquer, descobri que o vocalista Andrés Gimenez estava com uma nova banda,
chamada D-Mente. Gostei do som e, no dia seguinte, comprei o cd dos caras sem
medo de me decepcionar. O álbum é bom.
Segue uma linha de metal mais tradicional que o A.N.I.M.A.L. Não chega a ser tão cativante
quanto, mas achei bacana.
Pois bem. Mais dois anos se passaram e, acessando
o portal especializado em rock whiplash.net para me atualizar sobre as minhas
bandas preferidas, tomei conhecimento que um novo supergrupo havia sido
formado. Por supergrupo entendam como uma
banda formada por músicos já consagrados em outras bandas. Um bom exemplo é o saudoso Audioslave,
formado pelo vocalista do Soundgarden, Chris Cornell e pela parte instrumental
do Rage Against the Machine, Tom Morello, Timmy C. e Brad Wilk. Temos ainda o Chickenfoot, com integrantes do Van Halen, Red Hot
Chili Peppers e mais o guitarrista Joe Satriani.
Mas este supergrupo que encontrei no
whiplash me chamou a atenção por contar com Andreas Kisser, guitarrista do
Sepultura. Pensei comigo: “vem coisa pesada por aí”. Dito e feito. Lendo a
matéria no site, descobri que o grupo se chamaria De La Tierra e, além de
Andreas, seria formado por Alex González (baterista da famosa banda mexicana
Maná), Sr. Flavio (baixista da banda argentina de ska Los Fabulosos Cadilacs)
e, vejam só. Andrés Gimenez! Sim! O líder do A.N.I.M.A.L. e do D-mente seria o vocalista principal e também guitarrista.
Me empolguei imediatamente e fui ouvir o
primeiro single disponibilizado na internet, chamado “Maldita Historia”. Excelente
música com influências nítidas de A.N.I.M.A.L. e Sepultura. Em seguida saí
caçando entrevistas com os caras pra saber como se reuniram , com qual
motivação, etc. Não demorou muito mais tempo e o álbum, auto-intitulado, foi
disponibilizado em sua totalidade, em streaming, pela gravadora que
distribuiria o trabalho.
Sem saber quando e se o disco sequer seria
lançado aqui no Brasil, não pensei duas vezes. Ouvi de ponta a ponta e
confirmei. Que discaço! A intro, “D.L.T”, com um dueto de violão acústico e guitarrra,
abre caminho para a primeira porrada, “Somos Uno”. Logo de cara percebo que os
vocais de Andrés estão mais potentes e agressivos se comparados ao álbum do
D-mente. Eu imaginava que o cara, há tantos anos na ativa, já não teria mais a
pegada de outrora. Felizmente me enganei redondamente.
A terceira faixa é
“Rostros”. Tanto quanto ou mais pesada que a anterior, tem tudo para ser um dos
destaques nas apresentações ao vivo. Em seguida vem “San Asesino”. A introdução
é uma bateria emulando um samba, mas logo depois é o metal que impera em toda a
canção. Porém, um outro detalhe especial vem à tona nesta faixa: Andreas
Kisser divide os vocais com Gimenez cantando em português. Excelente idéia que
aparece também em outras músicas com o mesmo resultado positivo. A junção dos vocais nos dois idiomas dá uma
cara ainda mais única para o trabalho que segue sem diminuir o ritmo em nenhum
momento. “Chaman
de Manaus” e “Reducidores de Cabeza” são outras duas faixas que se destacam um
pouco mais em relação às outras. Finalmente, “Cosmonauta Quechua”, um thrash metal desgracento, fecha o cd de
forma brilhante.
No geral, os arranjos privilegiam as
caracteríticas dos quatro integrantes. Os inconfundíveis solos dissonantes de
Andreas se encaixam perfeitamente às boas bases de guitarra compostas por
Gimenez. Enquanto que na “cozinha”, Sr. Flavio lança mão de alguns slaps nos
momentos certos e Alex González se revela um grande baterista de metal (apesar
de fazer parte de uma banda de rock com fortes influências de música latina) e
ainda canta em um trecho de “Maldita Historia”.
Muito interessante observar que todos os
membros do De La Tierra contribuíram de forma relevante para as composições do
álbum. Seja com a letra ou com a música, todos eles assinam as onze músicas
presentes no disco. Aliás, foram eles mesmos os responsáveis tanto pela
produção executiva quanto artística do disco.
Para minha enorme satisfação, “De La
Tierra”, o cd, foi lançado aqui no Brasil agora em fevereiro. Obviamente, já comprei minha cópia e tenho escutado
constantemente junto com outro excepcional disco de um ex-membro do Sepultura.
Mas isso é assunto para um post vindouro.
Sob a efervescência do lançamento mundial do
disco, o De La Tierra vai fazer sua estreia ao vivo neste mês de março, abrindo os
shows da turnê sul-americana do Metallica. Nada mais apropriado, não? O
primeiro deles será na Colômbia (dia 16) e, na sequência se apresentam no
Equador (dia 18), Peru (dia 20) e Paraguai (dia 24). Cinco dias depois os caras
estarão no México, onde serão uma das atrações do festival Vive Latino, na capital
mexicana. Infelizmente, nenhuma data aqui no Brasil foi confirmada até agora.
Pois bem. Há mais de quinze anos reforcei
meu gosto por rock cantado em espanhol através da banda A.N.I.M.A.L. Os
“hermanos” apenas confirmaram o que eu já havia descoberto através da brutal
banda mexico-americana Brujeria, poucos anos antes. E a busca continua. Ano passado, em nova viagem a Buenos Aires, comprei
o cd da banda de outro ex-membro do A.N.I.M.A.L., chamada Carajo. E devo
continuar nesse caminho. Em uma terra onde o heavy metal permanece muito forte e cujos fãs talvez sejam os
mais fiéis ao estilo em todo mundo, nada melhor do que uma banda que reúne o
que temos de melhor pra oferecer. Mais do que nunca, é o poder latino a serviço
do metal!
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