Lollapalooza 2013: poucas novidades, várias
certezas e uma decepção
E lá se foi
a segunda edição do Lollapalooza Brasil. Foram três dias de muito rock, um
pouco de rap e mais um tanto de música eletrônica no Jockey Clube de São Paulo.
Depois de ter marcado presença no primeiro dia do evento do ano passado (a
atração principal do dia foi o Foo Fighters), este ano minha verba destinada a
eventos culturais estava pra lá de escassa. Por isso, o que me restou foi
acompanhar o festival pela televisão e com apoio da internet. O que eu vi no
Lollapalooza deste ano foi um festival com poucas novidades, várias certezas e
uma decepção. Deixem-me explicar esta avaliação por partes.
Há poucos
dias do início do evento, fiz meu guia particular anotando numa folha de papel
os horários dos shows que gostaria de ver através da transmissão de um canal de
tv fechada. Mesmo com este “guia” em mãos, de repente poderia acontecer de eu
assistir despretensiosamente a apresentação de alguma banda e me surpreender.
Mas isso não aconteceu. Eu até tentei. Parei pra ver agumas das várias bandas
ainda desconhecidas do grande público brasileiro mas que tem dentro da
crescente cena “indie” sua meia dúzia de fãs. Infelizmente, pra mim não rolou.
A única
excessão talvez tenha sido a participação dos dois projetos paralelos de
Maynard James Keenan, vocalista da banda de metal alternativo (e estranho)
Tool. Ambas, A Perfet Circle, no sábado, e Puscifer, no domingo, mostraram um
som muito competente. A primeira mais pesada e a segunda mais viajante, mas
ambas tecnicamente perfeitas. Como esses projetos existem há anos, não podemos
chamar necessariamente de novidades. Mas digamos que foi a única surpresa
agradável, já que eu tinha ouvido e visto muito pouco ou nada das duas bandas
até então.
Vamos às
certezas. De volta ao guia que mencionei lá no começo do texto, era um total de
nove bandas que eu havia me proposto a assistir ao vivo com toda a atenção
possível. A maratona começaria na sexta à noite com o show do The Killers. Não
poderia começar melhor. Esta banda que, para alguns críticos, caiu em
descrédito por não ter se tornado tão grande quanto prometia no início da
carreira, mostrou que em cima do palco podem fazer um excelente show. Como bem
lembrou um dos apresentadores do canal Multishow pouco antes do início da
apresentração, o The Killers tem, no mínimo, um single de sucesso em cada um de
seus quatro álbuns já lançados. Uma banda com esse arsenal em mãos não teria
como decepcionar. E assim foi. Abrindo com um dos seus primeiros hits “Mr.
Brightside”, passando pela nova e já favorita entre os fãs,“Runaways” e
encerrando com a apoteótica “All These Things That I’ve Done”, o The Killers
encerrou a primeira noite do Lollapalooza colocando a barra lá no alto. Caberia
às bandas do dia seguinte tentarem atingir o mesmo nível.
De acordo
com a minha listinha, o segundo dia de festival me daria a oportunidade de ver
Franz Ferdinand, Queens of The Stone Age e The Black Keys, para fechar a noite.
Com sorte, eu conseguiria ver também o blueseiro Gary Clark Jr. E eu tive
sorte. Eu escrevi aqui no blog sobre este jovem guitarrista americano alguns
meses atrás. Falei que o cara era uma revelação da música norte-americana e que
tinha chapado completamente no som que ele é capaz de fazer. Artista ainda em fase
de afirmação, Gary tocaria no palco alternativo do festival, cujos shows não
seriam transmitidos pela tv. Para minha surpresa, no final do show do The
Killers, no dia anterior, foi anunciado que um outro canal transmitiria os
shows do palco alternativo. Bingo! Às 15 horas e 30 minutos do sábado, Gary
Clark Jr. entrou em cena e, durante uma hora, desfilou seus solos, sua voz
simples, mas certeira, e sua postura de blues-man rebelde que não estava muito
a fim de conversa com o público. Sensacional!
Tive uma
hora para recuperar o fôlego e em seguida veio o Franz Ferdinand. Essa banda
escocesa que adora vir ao Brasil (seis vezes no total) deve lançar disco novo
este ano e por isso seu setlist foi intercalado entre músicas novas e velhas
conhecidas dos fãs do grupo. Isso talvez tenha prejudicado um pouco o ritmo da
apresentação mas não deixou de ser um bom show, pra variar.
Colado no
show do Franz Ferdinand veio aquele que, pra mim, foi um dos melhores, se não o
melhor show do festival: Queens of the Stone Age. Se você procura por rock de
verdade, daquele sujo, pesado, mas ainda assim muito bom tecnicamente, é só
assistir a performance da banda liderada pelo gênio Josh Homme. Assim como o
FF, o Queens está prestes a lançar um novo trabalho, mas diferentemente dos
britânicos, resolveram “jogar pra torcida” e mandaram apenas uma faixa nova. A
excelente “My God is the Sun”. No mais, a plateia insandecida, abrindo rodas de
mosh sempre que a intensidade das canções pedia, foi agraciada com as famosas
pérolas do QOTSA como “The Lost Art Of Keeping a Secret”, “No One Knows”, “Go
With the Flow”e “Little Sister”. Para encerrar de forma catártica, executaram “A
Song For the Dead”, uma das músicas mais pesadas e empolgantes que eu já ouvi
na minha vida. Não foi à toa que bati cabeça freneticamente, mesmo no conforto do
sofá da sala.
Depois dos góticos do A Perfect Circle (já citado no início do texto), chegou a
vez da atração principal da noite, The Black Keys. Minha expectativa era enorme
para este show. Estava até uniformizado com minha novíssima camiseta da banda.
E não deu outra. Showzaço! Não espere dessa dupla americana um espetáculo
circense ou interação constante com o público. O vocalista e guitarrista Dan
Auerbach até se dirigiu a plateia em alguns intervalos entre uma música e outra
para agradecer ou pedir para que cantassem com ele, mas o lance da banda mesmo
é mandar rock and roll pra galera. Acompanhado pelos dois bons músicos de
apoio ou sozinho no palco, o duo de blues-rock tocou por quase uma hora e meia
e recheou seu set com canções dos excelentes álbuns “Brothers” e “El Camino”. Para
delírio dos presentes, os caras fecharam o show com o grande hit “Lonely Boy”.
Há quem diga que, lá no Jockey, a qualidade do som deixou a desejar. Estaria
baixo demais. O que eu pude ver de casa foi mais uma grande performance de um
grande banda de rock. Fim de papo.
Enfim veio
a última etapa da maratona. No lineup do dia me interessavam quatro bandas que,
concidentemente, tocariam na ordem da minha preferência. Primeiro veio o Kaiser
Chiefs, que eu pude ver ao vivo no Planeta Terra em 2008. Sem Nick Hodgson, baterista,
letrista e co-fundador da banda, coube ao vocalista Rick Wilson lançar mão de
todo seu repertório de malabarismos com o pedestal do microfone, escalar as
laterais do palco, torre de som, enfim, fazer o diabo pra empolgar a galera. E
com a ajuda de hits como “Everyday I Love You Less and Less”, “Ruby”, “Oh My
God”, entre outros, o Kaiser Chiefs fez um show eletrizante.
Na
sequência veio uma banda que tinha não apenas um, mas dois malucos de
carteirinha: o vocalista Pelle Almqvist e seu irmão, o guitarrista Nicholaus
Arson. Com eles, cada show dos suecos do The Hives é um espetáculo de música
com uma boa dose de comédia. O rock de garagem desses caras que sempre se
apresentam com traje de gala é praticamente infalível, mas funciona melhor em
um ambiente mais intimista. Por isso e pelo fato de grande parte do público
estar ali esperando o show do Pearl Jam (que fecharia o festival), o The Hives
teve que penar muito pra conquistar a galera. E nisso eles são bons. Com
músicas como “Main Offender”, “Hate to Say I Told You So” e o encerramento explosivo
com “Tick, Tick, Boom”, eles botaram o Jockey Clube pra pular. Pelle falou em
português, foi cumprimentar o pessoal da grade várias vezes, ou seja, fez o que
pôde. No fim, valeu a pena. Não foi o melhor, mas foi mais um grande show da
carreira do The Hives.
O penúltimo
show que eu havia me proposto a ver era o do Planet Hemp. Sim! A banda
brasileira que, com o sucesso alcançado nos anos noventa, se tornou ícone do
rock brasileiro, retomou as atividades no ano passado e fez seu primeiro show
na cidade de São Paulo após dez anos. Mesmo um pouco mais gordinhos (o tempo é
inexorável), os MCs Marcelo D2 e B-Negão lideraram uma apresentação cheia de
energia como sempre foram os shows do Planet. Rap, rock, samba e ragga. Há
espaço para todos esses gêneros no repertório dos cariocas. Quem queria matar
saudade, conseguiu. Quem era muito novinho em 1996, 97, viu como era bom o rock
nacional naquela época.
Eis que
veio a grande decepção. Ao final do show do Planet Hemp a apresentadora do
canal Multishow, Luiza Micheletti, entrevistava os vocalistas do grupo e eu
falava sozinho: “acaba logo essa entrevista porque vai começar o show do Pearl
Jam!”. A entrevista acabou e apresentadora manda uma frase mais ou menos assim:
“Encerramos então a transmissão do Lollapalooza Brasil 2013. Infelizmente o
Pearl Jam não liberou a transmissão do seu show e por isso vamos ver a reprise
do show do rapper Criolo”.
Eu fiquei
“de cara”. Corri pro computador para ver se a restrição também atingia a
transmissão online. Nada. Tive que me contentar em acompanhar alguns detalhes
do show no “tempo real” do site G1. Uma foto do setlist tirada por um fotógrafo
do Multishow revelou um repertório que não apresentava nenhuma grande novidade
que eu não tivesse visto nos shows da banda em que estive presente em 2005 e
2011.
Obviamente,
quem viu a performance dos veteranos do grunge ficou maravilhado. Um show do
Pearl Jam é um acontecimento marcante para a toda a vida de qualquer fã. Nem
vou entrar no mérito do que causou o veto da transmissão. Ficou um gosto amargo
na boca no final de um festival que me proporcionou tantos shows de ótima
qualidade. Já estou ansioso para a edição do ano que vem, já confirmada e com
datas definidas. Desta vez quero estar lá pelo menos um dia. É melhor eu começar a
juntar uma grana desde já.
ET: Dois
dias depois da decepção do show que eu não pude ver, o Multishow confirmou que
transmitirá a apresentação do Pearl Jam neste sábado dia 6, às 21:30. Ufa!
Fotos: Blog www.popload.com.br, www.terra.com.br