terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

CAVALERA CONSPIRACY



Cavalera Conspiracy: irmãos reunidos pelo metal 

  

O mundo do rock é cheio o de casos de parentes que fazem ou fizeram parte de alguma grande banda. Desde os irmãos Wilson, dos Beach Boys, nos anos 60, passando pelos irmãos Eddie e Alex, doVan Halen, nos anos 70 e 80, até chegar aqui no Brasil com Arnaldo e Sergio Baptista dos Mutantes, que viveram seu ápice também nos anos 70.

Mas eu escolhi falar nesse texto de um caso que do qual estou familiarizado. Preferi falar de uma banda brasileira que, por conta de seu estilo, não tem tantos fãs por aqui como a Legião Urbana ou os Paralamas do Sucesso, mas é certamente muito respeitada por sua trajetória de sucesso no mundo todo. Estou me referindo ao Sepultura.


Essa banda de heavy metal foi criada em Belo Horizonte por Max Cavalera (vocal e guitarra) e seu irmão mais novo, Igor Cavalera (bateria), no ano de 1984, quando ainda eram adolescentes. O grupo começou a se destacar na cena metal brasileira ainda nos seus primeiros anos de atividade e, no final dos anos 80, surgiu a oportunidade de assinarem contrato com uma gravadora americana especializada no estilo.

O sucesso do grupo foi crescendo e, após lançarem sucessivos álbuns que agradaram à muitos fãs e à exigente crítica do gênero, adquiriram um status de super banda. Discos como “Arise”, “Chaos AD” e, principalmente, “Roots”, quase sempre figuram em listas dos melhores da história do metal.


Infelizmente um clichê do mundo do rock acabou afetando de forma fatal a continuidade do Sepultura. Em meados dos anos 90, no auge da banda, Igor, Andreas Kisser (guitarra solo) e Paulo Jr. (baixo) se mostraram insatisfeitos com o fato de a empresária da banda, Gloria Cavalera, dar mais destaque para o marido Max. Exato, a empresária da banda era mulher de um de seus membros. As duas partes não chegaram num acordo e o principal compositor e letrista do Sepultura se separou dos seus amigos em dezembro de 96. 




A partir daí, os irmãos Cavalera ficaram cerca de dez anos praticamente sem se falar. No máximo rolaram algumas ligações para desejar feliz Natal. Esse silêncio só foi quebrado em 2006, poucos meses depois de Igor sair do Sepultura, sem dar muitas explicações. Foi através de um telefonema que a velha chama foi reacendida. Em seguida, Igor fez uma participação num show do Soulfly (banda formada por Max após sua saída do Sepultura). Na época, Igor já estava envolvido com seu projeto de música eletrônica chamado Mixhell, enquanto Max seguia com o Soulfly, banda que na realidade nunca atingiu um grande sucesso no mundo do metal. Os irmãos resolveram então retormar de onde haviam parado. Para alegria de seus antigos fãs, surgia o Cavalera Conspiracy.


Menos de dois anos depois de retomarem o contato, os Cavalera entraram em estúdio para gravar o primeiro trabalho deste novo projeto. “Inflikted” foi o nome escolhido para o álbum que contou com 11 faixas. Todas elas muito pesadas e direto ao ponto. Uma verdadeira bomba para ouvidos mais sensíveis. É um disco um tanto quanto diferente dos últimos álbuns do Sepultura e também do Soulfly. Em ambos os casos, a maior característica era a união do peso às batidas tribais e alguns outros experimentalismos. 


Contando com o excelente guitarrista Marc Rizzo (companheiro de Max no Soulfly) e com o baixista Johny Chow, o CC se reúne sempre que há uma brecha na agenda de Max e Igor e reailza turnês principalmente nos Estados Unidos e na Europa. Felizmente, em sua curta história, os caras já passaram três vezes pelo Brasil. Na primeira vez, tocaram na noite do metal do festival SWU de 2010. Na segunda, no ano seguinte, abriram para o Iron Maiden, em São Paulo, e mostraram para o público algumas músicas novas que fariam parte do novo álbum, “Blunt Force Trauma”, que seria lançado alguns dias depois.

Em outubro do ano passado, os caras se apresentaram no Brasil pela terceira vez, em um único show em São Paulo. Lamentavalmente, não pude comparecer, mas quem esteve lá disse que o "bicho pegou" e que os irmãos mandaram o mais puro metal por mais de uma hora, sem dó nem piedade.

 

É verdade que a banda ainda não alcançou o mesmo nível de aceitação dos tempos áureos do Sepultura. Aliás, nem eles, nem o Soulfly, nem o prórpio Sepultura atual, com sua formação totalmente desfigurada e sem a identidade original que conquistou tanta gente. O fato é que todos saíram perdendo com a confusão ocorrida há quase 20 anos. O metal perdeu um representante espetacular e ganhou dois de nível médio (com vantagem para o Soulfly, na minha opinião).


Especulações eternas dão conta de que a formação original da banda brasileira de maior sucesso no mundo ainda poderá se reunir. Em algumas oportunidades negociações chegaram a ser abertas para que o retorno se concretizasse, mas nunca foram adiante.


 Não sabemos se o CC vai se tornar grande um dia, mas pelo menos um erro grave foi consertado. Max e Igor estão juntos novamente. O próprio baterista chegou a dizer recentemente que esta banda é o mais próximo de uma reunião do Sepultura que as pessoas verão. Não sei se isso realmente será confirmado. De qualquer forma, da minha parte, e creio que da parte de muitos fãs de metal, a alma do metal brasileiro continua viva através do Cavalera Conspiracy. 





quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

BAD BRAINS


Bad Brains: a banda mais caótica do mundo!



 E lá vamos nós de volta aos anos noventa. Onde tudo começou. Afinal de contas, foi nesse época que me tornei o grande fã de música que sou hoje. Assistia MTV religiosamente todos os dias. Especialmente o programa “Fúria Metal”. Sim! Existiu um programa nesta emissora dedicado a música pesada. Bons tempos aqueles.

Algumas bandas tinham sempre o mesmo clipe transmitido no programa. “Albatross”, do Corrosion of Conformity, “Critical Mass”, do Nuclear Assault, “La Migra”, do Brujeria e “Soulcraft”, do Bad Brains. Este último sempre me chamou a atenção. A música era uma espécie de funk rock e os integrantes da banda eram quatro caras negros com dreadlocks até a cintura. Eu sempre ficava curioso pra saber mais sobre os caras, mas naquela época eu mal tinha acesso à internet e estava mais exposto às bandas de maior repercursão no mundo do rock como Metallica, Nirvana ou Sepultura. Assim, o Bad Brains permaneceu no limbo da minha mente.

O tempo foi passando e eu fui me tornando fã de inúmeras bandas de rock dos mais variados estilos. Fui comprando os discos, vídeos, indo a shows, comprando camisetas, etc. Foi vendo ou lendo entrevistas das bandas que eu gostava que comecei a reparar que algumas delas citavam o Bad Brains como influência e às vezes até faziam covers deles. Aos poucos minha curiosidade ia sendo cada vez mais aguçada para descobrir mais sobre esse grupo obscuro. 

Dentre os vários estilos de rock que me agradam um deles certamente é o punk rock. Portanto, nada mais natural, para mim pelo menos, que eu começasse a “cavar” cada vez mais fundo para saber quais eram os precursores de bandas que eu curti muito na minha adolescência (e ainda curto, na verdade) como The Offspring e Green Day. Foi assim que finalmente as peças começaram a se encaixar. Cavando bem fundo descobri que o Bad Brains é uma das bandas pioneiras do hardcore punk. Vertente deste estilo que surgiu nos Estados Unidos no final dos anos setenta e cujo auge durou não mais do que cinco anos.




Todos os membros das bandas que fizeram parte desta cena eram categóricos ao afirmar que o Bad Brains era especial. Que eram quatro caras que sempre que subiam no palco faziam shows memoráveis, com carisma e energia de sobra. Não deu outra. Resolvi conhecer de verdade do que se tratava de fato esse “tal” Bad Brains.

O grupo formado em 1977, na cidade de Washington DC, por H.R (vocais), Dr. Know (guitarra), Darryl Jenifer (baixo) e Earl Hudson (bateria) era, antes mesmo de adotarem o nome atual, uma banda de jazz fusion chamada Mind Power. Mas em pouco tempo mudaram sua direção musical e passaram a compor canções totalmente ao estilo hardcore.

Provavelmente o trunfo do Bad Brains está justamente no fato de terem tocado um outro estilo musical no início da carreira. Como uma banda de jazz, todos os músicos desenvolveram uma técnica apurada para manusear seus instrumentos. Sendo assim, quando enveredaram para o hardcore, onde a destreza musical não era a maior virtude de grande parte das bandas, o Bad Brains se destacou. Além de ter a mesma “pegada” caótica de um Black Flag ou um Minor Threat em cima do palco, eles esbanjavam categoria em suas composições. Dr. Know conseguia mesclar a agressividade dos riffs típicos de hardcore com solos intricados de um guitarrista muito competente.




Meu primeiro contato direto com a música dos caras foi através da coletânea “Banned in DC: Bad Brains’ Greatest Riffs”, que eu tive a chance de comprar fora do Brasil, já que, por ser uma banda underground, seus discos nunca foram lançados por uma gravadora daqui. Fiquei boquiaberto. Bastou soarem os primeiros acordes de “Pay To Cum” para que eu entendesse enfim porque todo mundo havia falado tão bem deste grupo.

O cd passeia pela primeira fase da formação clássica, desde o álbum de estreia “Bad Brains”, lançado em 1982, até “Quickness” (álbum que contem a faixa “Soulcraft” do clipe que eu via na MTV), de 1989. Nesta coleção dá pra ver muito bem como a banda foi se transformando com o passar dos anos. O punk “direto ao ponto” dos primeiros discos foram dando lugar ao metal, funk metal, soul e reggae. Este último mais do que justificado, já que os integrantes do grupo são todos seguidores da religião Rastafari. Vem justamente daí grande parte da temática das letras escritas por H.R., que vão desde a crítica à violência policial, racismo, chegando a temas mais brandos como a espiritualidade.

Pelo fato de serem ácidos críticos da sociedade americana, o Bad Brains chegou a ser informalmente banido de sua própria cidade natal, no fim dos anos setenta. Nenhuma casa de shows da região queria abrigar um show de uma banda cujas letras tocavam na ferida de uma sociedade em que predominava um moralismo e conservadorismo extremos.




Pouco tempo depois de ter adquirido a coletânea “Banned in DC”, já totalmente fissurado por esses punk-rastafaris, comprei pela internet o Dvd “Live at CBGB’s”. Se trata de um show gravado na véspera do Natal de 1982, como o título já diz, na lendária casa de shows novaiorquina CBGB’s. O grande templo do punk na cidade. Na verdade o local era um “moquifo”. Um cenário ideal para a performance agressiva do Bad Brains diante de seus fãs que constantemente subiam no palco, tentavam tomar o microfone de H.R para cantar junto com o ídolo músicas espetaculares como “Big Takeover”, “I”, “Right Brigade”, “How Low Can a Punk Get”, entre tantas outras. Toda aquela “confusão” era tudo o que um show de punk rock que se preze deve ter. Totalmente recomendável para os fãs do gênero.

Após o lançamento de “Quickness”, o grupo passou por várias mudanças em sua formação e lançou mais três trabalhos que não atingiram o mesmo patamar da primeira fase. Até que, em 1998, a formação clássica se reuniu e gravou mais três discos, sendo o último, intitulado “Into the Future”, lançado ano passado.

Para minha imensa alegria, o Bad Brains fará sua primeira visita ao Brasil neste ano de 2013. No dia 5 de abril, os caras vão tocar em um bar em São Paulo. Isso mesmo. Um bar! Dá pra vocês terem uma noção do caos que será promovido neste dia? Nesse momento vem a pergunta: Fábio, você vai estar lá? Farei tudo que estiver ao meu alcance para que eu esteja. Se eu realmente estiver presente neste show, tenho plena certeza que não serei o mesmo depois deste dia.





terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

PEARL JAM

Faltam pouco menos de dois meses para a segunda edição brasileira do festival Lollapalooza. O evento tradicional do indie rock, criado por Perry Farrell (vocalista da banda ícone do indie, Jane's Addiction), foi realizado pela primeira vez no nosso País no ano passado com performances memoráveis de Foo Fighters e Arctic Monkeys. O line up deste ano está tão poderoso ou mais que o do ano passado. Eu fiz questão de dedicar alguns posts do blog a alguns artistas que se apresentarão no Lolla Brasil 2013. Os headliners The Killers e Black Keys, além de Franz Ferdinand e Gary Clark Jr, já foram destacados aqui no Essa é Minha Cara. Mas ainda faltava falar de um headliner. O Pearl Jam. A veterana banda de Seattle, pioneira do chamado "movimento grunge" nos anos noventa, será a atração principal do último dia do festival. Como um aperitivo para esta que será a terceira visita de Eddie Vedder e companhia ao Brasil, resgatei o texto que escrevi sobre o grupo tratando dos 20 anos de carreira completados em 2011. Espero que sirva de incentivo para que vocês estejam presentes no Jockey Clube de São Paulo no dia 31 de março. 


Pearl Jam: 20 anos remando contra a maré




Foi mais ou menos no final do ano de 1993 que eu ouvi numa fita cassete gravada por um amigo o seguinte refrão: “Jeremy spoke in...class today”.  Era uma música bem melancólica. O vocalista passava muita emoção em cada verso. Na parte final, a melancolia dava lugar a gritos. Guitarras, baixo e bateria, em uníssono com a itensidade do vocal, alcançaram um volume muito mais alto do que no início da canção. O encerramento era belíssimo. Uma linha de baixo soando sozinha, do mesmo modo que havia iniciado. Pronto, a banda Pearl Jam acabava de ganhar um fã para sempre.

Quando eu ouvi “Jeremy” (a música citada no parágrafo acima) pela primeira vez, essa banda de Seattle já havia lançado seu primeiro disco cerca de dois anos antes. Eddie Vedder (vocal), Stone Gossard (guitarra base), Jeff Ament (baixo), Mike McCready (guitarra solo) e Dave Krusen (bateria) gravaram em 1991 o álbum “Ten”.  O chamado movimento grunge, na cidade Seattle, já estava em plena ebulição. Bandas como Soundgraden, Alice In Chains, Screaming Trees e claro, Nirvana, já faziam sucesso quando o quinteto lançou um álbum que conquistou público e mídia com canções poderosíssimas como “Even Flow”, “Black”, “Once”, a própria “Jeremy” e um dos hinos do rock dos anos 90, “Alive”. 

Mas alguns expoentes do grunge, dentre os quais, Kurt Cobain, torceram o nariz para o Pearl Jam. Achavam que o grupo estava apenas se aproveitando da onda de sucesso para fazer uma grana. Ledo engano. O Pearl Jam tinha raízes ainda nos anos 80 quando Gossard e Ament tocaram em bandas que ajudaram a criar o grunge como Green River e Mother Love Bone.




Pouco a pouco todos perceberam que os caras realmente haviam chegado pra ficar. As letras profundas de Eddie Vedder sensibilizaram muita gente e casavam perfeitamente com os ótimos instrumentistas. Aliás, logo na primeira turnê, o baterista Dave Krusen foi substituído por Dave Abbruzzese, que deixou as performances ao vivo ainda melhores.

A partir daí a banda não parou de crescer. Os hits do álbum de estreia dominavam a programação das rádios alternativas do mundo inteiro. Consequentemente, muita coisa que costuma vir no “pacote da fama” passou pelo caminho do Pearl Jam. O vocalista passou a chamar mais atenção por ser boa pinta e se transformaram nos queridinhos da MTV, gravando inclusive uma performance acústica para a emissora.

Obviamente também veio o primeiro videoclipe para a canção já tão falada nesse texto, “Jeremy”.  E não deu outra. O Pearl Jam ganhou prêmios no MTV Video Music Awards pela obra dirigida por Mark Pellington, que descrevia exatamente o que falava a letra baseada num fato verídico: a história de um garoto pré-adolescente que não recebia muita atenção dos pais, era rejeitado na escola e acabou cometendo suicídio em frente aos colegas, em plena sala de aula.




Mas foi a partir daí que tudo começou a mudar para a banda de Seattle. O sucesso começou a incomodar os caras. A excessiva exposição não seduziu seus  integrantes, nem tampouco os fez  arrogantes ou megalomaníacos. Muito pelo contrário. O Pearl Jam se tornou totalmente avesso à mídia. Não lançaram mais nenhum clipe para o álbum “Ten” (apenas trechos de apresentações ao vivo e uma colagem de imagens pessoais da banda foram exibidos como clipes). Também ficaram extremamente irritados com a quantidade absurda de vezes que a MTV exibiu o acústico que haviam gravado pouco tempo antes.

Nesse clima mais do que alternativo, em setembro de 93, o grupo lançou seu segundo álbum. “Vs” conseguiu passar com louvor o temido “teste do segundo álbum”. Aquele trauma que quase toda banda tem quando atinge um grande sucesso logo  no primeiro tabalho e cria uma enorme expectativa com relação ao seu sucessor.  Mesmo sem se expor demais, contando com a sua já fiel base de fãs e com os críticos que reconheciam o valor da banda, “Vs” foi muito bem recebido. E não era pra menos. Começando com a pancadaria de “Go”, continuando com “Animal”, as baladas “Daughter” e “Dissident”, até chegar na sensacional “Rearviewmirror”, o cd era mais uma obra prima de Vedder e companhia.

No ano seguinte, o Pearl Jam seguiu ainda mais engajado a lutar contra o “sistema”. No auge do sucesso, a banda simplesmente decidiu se recusar a fazer shows que tivessem venda de ingressos organizada pela empresa Ticketmaster. Alegando que se tratava de um monopólio e que os preços cobrados pelos ingressos dos concertos eram abusivos, o grupo tentou utilizar métodos alternativos para excursionar, entrou na justiça, fez tudo o que pôde. Não deu muito certo. Acabou sendo um tiro no próprio pé.




Com poucos shows agendados, o Pearl Jam resolveu se dedicar a gravação de seu terceiro trabalho que ganhou o nome de “Vitalogy”. Foi o último com o baterista Dave Abbruzzeese, que seria substituído por Jack Irons. Mesmo com toda a adversidade do momento, as novas canções mais uma vez conquistaram a todos. “Better Man”, “Corduroy”e “Not For You” foram alguns dos grandes destaques do álbum.

À margem do “mainstream”, o Pearl Jam seguiu. Musicalmente, os integrantes sentiram que era hora de experimentar mais, de tentar elaborar mais suas composições. Os discos “No Code”, de 96 e “Yield”, de 98, causaram pouco alarde. O segundo ganhou relevância maior porque, depois de seis anos, um novo videoclipe foi produzido. Uma animação criada pelo desenhista Todd McFarlane, que contava a história da humanidade mostrando guerras, escravidão, entre outras atrocidades, foi o pano de fundo para a grande canção “Do The Evolution”.

Com a chegada do novo milênio, o Pearl Jam não perdeu o ritmo. No ano 2000 saiu o álbum “Binaural”. Foi o primeiro com o baterista Matt Cameron, ex-Soundgarden, que permanece no posto até hoje. Também neste início de século os caras se envolveram ainda mais com causas políticas e sociais. As letras de Eddie Vedder passaram a conter mensagens um pouco mais ácidas contra o governo norte-americano da época.




Já no quesito meio-ambiente, o Pearl Jam manteve a tradição iniciada em 94 de utilizar apenas papel reciclado nas embalagens de todos os cds lançados. Até hoje, nenhum álbum da banda chega às lojas na convencional caixinha de plástico.

Mas foi justamente um grupo que se preocupa tanto com seu público e com as pessoas como um todo que viu o destino lhe pregar uma grande peça. Ainda em 2000, durante sua performance no festival Roskilde, na Dinamarca, um grande tumulto causou a morte de nove pessoas pisoteadas. Foi um enorme baque para os membros da banda que, a partir deste dia fatídico, redobraram o cuidado com a audiência de seus concertos.

Esse cuidado foi visto de perto por nós brasieliros em 2005, quando finalmente, após uma espera que parecia interminável, o grupo se apresentou no país pela primeira vez. Foi um total de cinco shows realizados nas cidades de Porto Alegre, Curitiba, São Paulo (duas noites) e Rio de Janeiro. Eu estive na primeira noite em São Paulo e é mais do que óbvio dizer que aquele dia de 2 de dezembro foi inesquecível.




O show marcava a parte final da turnê do álbum “Riot Act”, lançado três anos antes. Foi espetacular testemunhar em loco aquilo que até então eu só havia visto em DVDs ou em raras oportunidades pela televisão. Uma emoção muito grande tomou conta da banda e da plateia presente, do início ao fim. 

Para a alegria de todos os fãs espalhados pelo mundo, de 2005 pra cá, o Pearl Jam ainda gravou mais dois cds. O auto-entitulado “Pearl Jam”, em 2006 e o mais recente, “Backspacer”, em 2009. Neste início de 2011, para celebrar os 20 anos de banda , um cd ao vivo (mais um dentre os vários já lançados) chamado “Live On Ten Legs” acaba de ser lançado. Este registro é mais uma pequena amostra do que significa o Pearl Jam. Uma amostra do poder de suas performances ao vivo, da riqueza das letras e da honestidade de cada um dos seus membros que, por todo esse tempo, vem fazendo o que mais gostam: boa música e remar contra a maré. Meus parabéns e obrigado, rapazes.