A estreia arrebatadora do Far From Alaska
Não é
comum, mas às vezes acontece e é muito bom. Sabe quando você compra um disco?
Opa! Quase ninguém mais compra discos, mas enfim. Sabe quando você conhece uma
banda nova e fica meio que obcecado por, tipo, 96 por cento das músicas?
Normalmente (pelo menos pra mim) quando a gente fica sabendo de uma banda,
cantor, cantora, etc, é através de uma única música, talvez umas duas. Daí aos
poucos você vai ouvindo o resto do repertório, acostumando e tal. Mas e quando
você pira num disco inteiro?
Eu acho que
não chega a dez o número de vezes que esse tipo de fenômeno havia ocorrido
comigo até então. Posso citar como exemplos o primeiro álbum do Slipknot (auto
intitulado), o “Toxicity”, do System of a Down ou, mais recentemente, o
“Diamond Eyes”, do Deftones. Mas agora aconteceu de novo. De uma forma um pouco
diferente das bandas que eu citei, mas eu diria que a sensação foi a mesma.
É raro hoje
em dia você assistir um programa de videoclipes na televisão e, mais raro
ainda, você ver um clipe que preste. Numa dessas escassas oportunidades eu vi,
meio que sem querer, um clipe gravado em um local que parecia um deserto. A
música começava com o vocal de uma garota cantando apenas em cima de breves
paletadas, causando aquele clima de suspense, para logo em seguida explodir em
um riff muito pesado. Obviamente, assisti o clipe até o final pra ver o nome da
música e do artista. Música: “Dino vs. Dino; artista: “Far From Alaska”.
Como é de
praxe quando descubro uma novidade musical, anotei o nome da banda para que, na
primeira chance que eu tivesse, iniciar uma busca frenética na internet pra
saber de onde eram, como eram as outras músicas, se já tinham algum trabalho
gravado, tudo. Foi aí que o tal fenômeno obssessivo começou a acontecer. Fui
ouvindo música atrás de música dessa banda que vim a descobrir que era
brasileira e do Rio Grande do Norte. Fiquei “chapado”!
Formado por
Emmily Barreto (vocais), Cris Botarelli (sintetizador e efeitos), Rafael Brasil
(guitarra), Lauro Kisch (bateria) e Edu Filgueira (baixo), o Far From Alaska
despeja riffs pesados e criativos em cada uma das quinze faixas do seu disco de
estreia “Mode Human”. A bateria forte e precisa dá mais peso ainda a um som que
me parece ter influências variadas como Refused, Audioslave, QOTSA, Wolfmother
e talvez algo de Muse.
Toda essa
base instrumental prepara o terreno para a voz de Emmily Barreto brilhar à
vontade. Do melódico (que segundo um colega, lembra Adele) ao “sujo” (remetendo
a Janis Joplin), o vocal de Emmily é facilmente um dos destaques do FFA.
O debut,
“Mode Human”, lançado de forma digital no mês passado, abre com “Thievery”, que
começa com um riff que lembra um pouco “Cochise”, do Audioslave (que, por sua
vez, muitos dizem que lembra “Whole Lotta Love”, do Led Zeppelin), mas depois se
torna absolutamente original, com um arranjo bem dinâmico e um excelente
refrão. Ótima abertura para o disco.
A segunda
faixa é “Deadman”. Pesada como a anterior e ainda evidencia o ótimo trabalho de
efeitos e backing vocal de Cris Botarelli. Logo em seguida vem a já citada
“Dino vs. Dino”. Nessa altura você já pode pensar: “puta disco que essa
molecada gravou!”. Faixa após faixa, “Mode Human” segue sem perder o ritmo.
Algumas músicas pendem para o blues, como nos casos de “Another Round” e
“Rolling Dice”. Outras abusam um pouco mais do eletrônico como “About Knives”,
“Tiny Eyes” e a vinheta “Mode Human Pt. 1”. Ainda sobra espaço para uma guitarra meio
country, cheia de slide em “Politiks” e um teclado bem anos 60 (The Doors, quem
sabe?) na faixa “Mama”.
O mais
interessante é que mesmo com essa extensa gama de influências, o álbum é bem coeso.
Não soa como uma banda pretensiosa que tenta fazer um disco grandioso para
chamar atenção. O trabalho tem uma identidade e, ao mesmo tempo em que as
músicas apresentam arranjos intrincados, no fim das contas você pode enxergar
um rock and roll direto e objetivo. Muito disso provavelmente se deve a mão
certeira do produtor do disco, o guitarrista e vocalista da banda Vespas Mandarinas,
Chuck Hypolitho.
Já que
“Mode Human” ainda não foi lançado fisicamente de forma oficial (por enquanto a
bolachinha pode ser adquirida nos shows do grupo), permaneço na ansiedade de
ter em mãos o disco dessa galera potiguar. Vale lembrar que o primeiro registro
do FFA, o EP “Stereochrome”, de 2012, só foi disponibilizado através de um hot
site da banda. Ou seja, nada físico mesmo até aqui.
Com letras
cantadas em inglês, fico imaginando qual deve ser o foco do FFA. O
reconhecimento que se pode ter aqui no Brasil com o estilo de som que fazem
talvez seja um tanto restrito. Seria muita utopia então dizer que o destino do
grupo é rodar o mundo mostrando seu som? Eu diria que não. Afinal de contas,
não consigo parar de ouvir esse som. E quando finalmente tiver essa peça arcaica
chamada cd aqui em casa, vai demorar pra sair do meu aparelho de som.
PS: O tal
“deserto” do clipe de “Dino vs. Dino” era na verdade a região das Dunas do Rosado, em Porto do Mangue, próximo ao municípo Areia Branca, no RN. Complexo de vira-lata é fogo...