Monsters of Rock: Arena Anhembi em fúria!
No meu post anterior eu deixei bem clara minha insatisfação com a edição deste ano do Rock In Rio. Apesar de algumas justificativas que cheguei a citar naquele texto, o festival da cidade maravilhosa deixou a desejar no quesito atrações. Além disso, eu já tinha em mente o line up de um outro festival que seria realizado cerca de um mês depois na cidade de São Paulo. O Monsters of Rock.
Este
festival essencialmente voltado ao heavy metal teve sua origem na cidade de
Donington, na Inglaterra, nos anos 80, e hoje se chama Download Festival. No
Brasil foi realizado pela primeira vez em 1994 e havia tido sua última edição
em 1998. Seu retorno ao nosso calendário de shows neste ano de 2013 deixou os
amantes da música pesada em polvorosa. E não era pra menos.
Inteligentemente,
a organização do evento resolveu dividir o festival em dois dias. O primeiro
privilegiou a vertente mais moderna do metal, incluindo bandas tidas como da
“nova geração” do estilo e que não possuem muito mais do que 20 anos de
estrada. O segundo dia foi voltado para o chamado “hard rock” incluindo bandas
que fizeram sucesso nos anos 70 e principlamente anos 80 como Aerosmith,
Whitesnake, Ratt, entre outras.
Naturalmente,
minha geração, que passou a adolescência e início de juventude durante os anos
90 e começo dos 2000, se viu atraída pela programação do primeiro dia do
Monsters. Nomes consagrados do chamado “nu metal” como Slipknot, Korn e Limp
Bizkit, acompanhados de representantes do metalcore ou hardcore metal como
Killswitch Engage, Hatebreed e Gojira, se apresentaram para um público de cerca
de 30 mil pessoas. Preciso dizer que eu era uma delas? É por isso que este post
é dedicado totalmente ao primeiro dia do evento.
Eu, meu
parceiro de longa data em shows, Alex e seu sobrinho Rafael (devidamente encaminhado
musicalmente) chegamos na Arena Anhembi
(sambódromo) por volta de 13 horas, embaixo de um sol impiedoso. Pouco depois
entrou no palco a banda brasileira Projeto 46, vencedora de um concurso
promovido pela organização do Monsters. Acompanhei os caras meio de longe e o
que deu pra perceber foi que eles mandaram um metalcore competente que
combinava muito bem com as outras atrações do dia. Em seguida foi a vez dos
franceses do Gojira. Esse é um grupo que, ano após ano, vem conquistando seu
espaço no cenário do heavy metal com uma pegada mais progressiva, ou seja, com
músicas mais longas e arranjos intrincados.
Mas foi por
volta das três e meia que o festival começou pra valer. O público, que a essa
hora já era de razoável pra bom, estava com energia estocada de sobra e pronto
pra explodir. E o Hatebreed foi o estopim que faltava. A banda liderada pelo
carismático vocalista Jamie Jasta, despejou seu hardcore, sem dó, por quase 45
minutos. O cover de Refuse/Resist, dos ícones brasileiros do metal, Sepultura
(que contou com a participação do guitarrista Andreas Kisser), elevou ainda
mais o nível de agressividade da apresentação. A última música executada pelos
caras resumiu bem o que foi o show: “Destroy Everything”. Eu ousaria dizer que,
por conta deste início bombástico, boa parte do público não conseguiu chegar ao
fim do festival com o gás que gostaria.
Coube então
ao Killswitch Engage a árdua tarefa de tocar depois da avalanche promovida pelo
Hatebreed. Vale lembrar que o Killswitch, ao lado do Slipknot, era o show que
eu mais aguardava. Mas as coisas não começaram muito bem para eles.
Inexplicavemente, a qualidade do som que foi um dos pontos altos da
apresentação anterior deixou os metaleiros de Boston na mão durante as duas
primeiras músicas do set dos caras.
Claramente
isso afetou a animação da galera que foi embalando aos poucos, muito em função da
garra e da competência dos integrantes da banda. O vocalista Jesse Leach, recém
retornando ao grupo após dez anos de ausência, se mostrou em grande forma,
tanto para cantar quanto para se dirigir ao público em momentos estratégicos. Além
de Jesse, não posso deixar de destacar a qualidade absurda do batera Justin
Folley, o fôlego interminável do baixista Mike D’Antonio (ele já havia tocado
com o Hatebreed substituindo o baixista original, que se machucou antes de vir
ao Brasil) e, claro, a insanidade do
guitarrista e líder da banda, Adam Dutkiewicz, que se comportava no palco como
se estivesse numa micareta. Nem tentem entender o porque. Eu já desisti. No fim
das contas, a apresentação agradou aos fãs e até o sol, que se pôs ao final da
performance, deve ter se abalado com o peso do som do KsE.
Após alguns
minutos preciosos para recuperar o fôlego, estava pronto para a apresentação do
Limp Bizkit. A banda se consolidou como uma das mais “pop” do nu metal, e até
por isso quase sempre foi amada e odiada pela crítica e pelos fãs do estilo. Portanto
este show era uma certa incógnita para mim. Eu era um grande fã dos caras no
final dos anos 90. Cheguei até a usar a música “Nookie” como trilha sonora da
minha caixa postal do celular (na época que eu tinha tempo pra personalizar
minha caixa postal). Mas, com o tempo, o grupo caiu no ostracismo. Lançou apenas
dois LPs e um EP em um período de dez anos! Mas não é que a popularidade deles
continua forte por aqui? Se a performance do Hatebreed havia sido a mais
agressiva do dia até então, Fred Durst e cia. fizeram a mais concorrida.
Percebi muita molecada e muitas meninas tentando rumar em direção ao palco para
acompanhar o show de perto.
O fato é que
Fred Durst não deixou de ser o competente frontman
do auge do Limp Bizkit. Usando uma camisa estampada com uma foto do saudoso
rapper brasileiro Sabotage (morto em 2003),
ele teve a galera na mão durante cerca de uma hora. Não posso deixar de
mencionar também o traje surreal do excelente guitarrista Wes Borland que
parecia um misto de robô com extraterrestre.
Em boa
parte do show passei sufoco espremido entre os cotovelos pontudos de uma garota
que estava com medo de ser tragada pela multidão e o “mosh pit” que insistia em
se abrir logo à minha frente. Tanto insistiu que eu resolvi fazer parte dele
durante as músicas finais. Enfim, uma boa apresentação, com direito a covers
dos hinos do rock “Smells Like Teen Spirit”, do Nirvana, e “Killing In the
Name”, do Rage Against The Machine. Me surpreendi positivamente.
Eis que
veio o único show “meia boca” do dia. Pelo menos para mim. O Korn é outra banda
que eu ouvi bastante alguns anos atrás e ainda ouço de vez em quando. Tenho
três álbuns dos caras no meu ipod, inclusive. Mas são álbuns lançados em 1994,
98 e 99. Em 2002 fui a um show deles em um local fechado e posso dizer, sem
exageros, que foi um dos melhores que fui até hoje.
Após a
saída de um de seus guitarristas, Brian “Head” Welch, em 2005, e, logo em
seguida, do baterista David Silveria, o grupo não conseguiu mais lançar discos
de qualidade indiscutível como na primeira metade da carreira. A banda recrutou
o ótimo baterista Ray Luzier e vem flertando constantemente com a música
eletrônica no afã de de renovar sua sonoridade e se tornar verdadeiramente
relevante de novo. Head voltou este ano e já gravou um novo álbum com os caras,
mas não está rolando. Isso ficou muito claro na apresentação do Monsters.
Depois de abrir com força total executando a fantástica “Blind” e emendando com
“Falling Away From Me”, o Korn cometeu um erro amador para uma banda experiente
em festivais. Tocou quatro canções seguidas de sua fase mais recente. Canções
que muitos dos que estavam ali no Anhembi desconheciam. Obviamente os ânimos
esfriaram.
Somente o
cover de “Roots Bloody Roots”, do Sepultura, contando mais uma vez com
participação do “arroz de festa” Andreas Kisser, acompanhado pelo vocalista
Derrick Green, fez a galera acordar. Eu acordei junto e assim fiquei assim até
o final da apresentação com as ótimas e antigas “Got The Life” e “Freak On a
Leash”, provavelmente o maior hit do Korn. Enfim. Sendo bem sincero, foi um show
não mais do que nota 6.
Finalmente
chegava a hora da grande atração da noite. Da banda que tem uma base de fãs
tremendamente fiel, conhecidos como “maggots” e que encheram o Anhembi trajados
com camisteas das mais variadas estampas. Isso sem falar dos fãs ainda mais
ardorosos que, mesmo com o sol ardendo sem piedade, fizeram questão de se
vestir com a indumentária semelhante a dos seus ídolos: macacão e máscara.
É
impressionante. Se você já viu um show do Slipknot, ainda que pela televisão,
sabe que se trata de uma experiência, no mínimo, intrigante. Alguns se assustam
e acham um absurdo aquele bando de caras pulando de um lado pro
outro no palco usando máscaras que parecem ter saído de um filme de terror. Mas
para os “maggots” uma apresentação do Slipknot significa tirar energia não sei
de onde para aproveitar cada música de um setlist repleto de músicas
pesadíssimas. Exceção feita apenas para umas duas músicas um pouco mais lentas.
Antes mesmo
de começar esse show eu já estava com dor de cabeça, dor no pescoço e com a voz
avariada. Mas nada me impediu de pular e vibrar com músicas como “Liberate”,
“Everything Ends” e “Surfacing”, que encerrou o show e ainda teve o “truque” da
bateria de Joey Jordison em que a mesma é elevada em uma plataforma, inclinada
para frente e depois retorna ao seu lugar. Só depois de tudo encerrado é que o
cansaço bateu de vez. Estávamos os três esgotados, mas totalmente satisfeitos
com um sábado extremamente agitado. Um sábado que viu a passarela do samba na
capital paulista se transformar na mais autêntica fúria metal.