O Pop rock brasileiro desmoronou?
Há cerca de 30 anos a música brasileira
teve o privilégio de testemunhar o surgimento de várias bandas que tinham como
base o rock and roll, mas que, em sua maioria, eram responsáveis por
composições de apelo comercial. Ou seja, melodias agradáveis, refrões
marcantes, etc.
Logo no início da década de 80, nas
principais capitais do país surgiram grupos que marcariam para sempre a
história da nossa música. De São Paulo vieram os Titãs, do Rio de Janeiro os
Paralamas do Sucesso (minha preferida dessa geração). Do extremo sul do país
vieram os Engenheiros do Havaí e de Brasília veio provavelmente o maior de
todos os grupos da época, a Legião Urbana.
Eu acabei de citar apenas alguns exemplos.
Eu poderia facilmente fazer um texto falando somente do rock brasileiro dos
anos 80, que ficou conhecido como BRock. Querem mais alguns nomes só pra não
passar batido? Lá vai: Blitz, Barão Vermelho, Kid Abelha, Ira, Nenhum de Nós,
Ultraje a Rigor...e por aí vai.
Mas pra chegar ao meu objetivo final
preciso passar logo para os anos 90. Nesta década a estética e o som do pop
rock brasileiro deram uma grande guinada. Vimos surgir bandas com influências
musicais inusitadas e com uma temática de letras e visual bem mais ousados e
até mesmo mais agressivos em algumas oportunidades.
Permitam-me dizer que foi nessa época que
comecei a me interessar de forma especial por música e por isso as bandas
brasileiras dessa época são as minhas preferidas. Os nomes de maior destaque foram
Raimundos, com sua mistura de punk rock e forró (!!!), Planet Hemp, misturando
rock e rap, Chico Science a Nação Zumbi e sua salada de rock, hip hop e
maracatu, O Rappa, com influências de reggae, e quase no final da década, o
Charlie Brown Jr.
Algumas outras bandas dos anos 90, com uma
proposta bem mais comercial, também se tornaram muito grandes. Com o mais puro
“sangue pop” correndo nas veias, os mineiros do Skank e do Jota Quest, além dos
cariocas do Cidade Negra alcançaram um enorme sucesso.
Todas essas bandas dos anos 80 e 90, com
mais ou menos qualidade e, obviamente, dependendo do gosto de cada um, tiveram
seu mérito e, de uma forma ou de outra, conquistaram pelo menos o respeito por
parte do público e da mídia especializada. Porém, vieram os anos 2000. Aí as
coisas mudaram.
Se tudo começou num bom nível através dos
Los Hermanos (de novo, dependendo do gosto de cada um) que apresentaram um rock
honesto e tecnicamente bem realizado, pouco a pouco o castelo do pop rock
brasileiro foi desmoronando.
Ainda chegamos a ser agraciados com bandas
de qualidade como Pitty e Cachorro Grande, mas quem tomou conta da mídia e do
gosto da maioria dos adolescentes foram as chamadas bandas “emo”.
O emo não era um termo pejorativo até
então. No final dos anos 80 e durante os 90, eram considerados “emocore” os
grupos que faziam música do estilo hardcore, mas com letras mais
sentimentais. Afinal, rockeiros também
amam, certo? Mas no século 21 o emo tomou outra forma. A estética passou a ter
tanto destaque ou ainda mais que a música em si. Influenciados pelos americanos
do My Chemical Romance e do Fall Out Boy, surgiram por aqui bandas como NX
Zero, Fresno e Strike.
Esse triunvirato simplesmente se
transformou em referência para o pop rock feito no Brasil atualmente. Letras
pouco elaboradas e instrumentistas raramente dotados de técnica (admito, o
baterista do NX Zero manda bem) são a base dessa nova geração. Mas isso não importa muito. Com tanto que as
garotinhas seguidoras da MTV possam cantar cada palavra das letras e, entre uma
estrofe e outra, gritarem por causa dos “gatinhos” Di, Gu, Fe, Du, Piu, Pe,
Lu...etc, tá tudo certo.
Na esteira do emo, vieram os “coloridos”. A
diferença está no visual um pouco mais descontraído – é muito comum ver
integrantes de bandas como (como me dói escrever esses nomes) Restart e Cine
usando calças cor de laranja com camisetas verde fluorescente – além da
qualidade do som e das letras serem ainda mais sofríveis que as dos grupos emo.
Realmente lamentável.
Me desculpem se estou soando um tanto
quanto amargo e exagerado. É que realmente, se pararmos pra pensar em tudo que
já foi feito por letristas do calibre de Renato Russo, Cazuza, ou mesmo Rodrigo
Amarante, e músicos como Roberto Frejat, João Barone e Lucio Maia, é
desanimador olhar o cenário que temos hoje.
Eu infelizmente acredito que o pop rock
brasileiro vive seu pior momento. Possibilidades de mudanças? Existem bandas de
muita qualidade espalhadas no país todo, mas que não chegarão às grandes massas
ou porque as gravadoras não as aprovam ou porque elas mesmas não querem fazer
parte desse grande jogo de cartas marcadas e preferem seguir com suas carreiras
de forma totalmente independente.
Enfim. As cartas estão na mesa. Enquanto o
rock brasileiro tiver esta cara sem graça já sabemos o que fazer: ir atrás dos grupos de qualidade que
conseguem se destacar na mídia mesmo nesse mar de futilidade ou torcer para que
novíssimas bandas com propostas minimamente dignas causem uma grande
reviravolta na cena. Reviravolta que poderia começar até mesmo por qualquer um
de nós. Por que não? Vamos montar uma banda? O que você toca? Alguém precisa
salvar o rock brasileiro!!